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segunda-feira, 15 de julho de 2013

Ensinando a enfrentar o "mar"




"Onde está a vossa fé?" (Lucas 8:25)

O conhecido episódio dos evangelhos, em que Jesus acalma uma tempestade, é uma das mais interessantes narrativas do Novo Testamento sobre como lidarmos com as dificuldades enfrentadas no nosso ministério e também no cotidiano.

Na imagística bíblica (e também em outras literaturas míticas do antigo Oriente Próximo), os mares seriam representações do caos e da morte, sendo também figura comum para os homens maus e as poderosas nações pagãs inimigas de Israel - o "bramido dos grandes povos" (Isaías 17:12). Contudo, a agitação das ondas que ameaça a ordem criada é vencida por Deus, como se lê ricamente na poesia dos salmos a exemplo deste verso:

"Dominas a fúria do mar;
quando as suas ondas se levantam, tu as acalmas"
(Sl 89:9; ARA)

Em seu ministério, pode-se dizer que Jesus lutou constantemente contra esse "mar", sofrendo pressões, perseguições, tentações, rejeições e ataques do mundo espiritual. Tal como ele, seus discípulos precisariam aprender a lidar com a oposição que surgiria contra a Igreja quando passassem a proclamar as boas novas do Reino de Deus. Por isso o Mestre os treinava e aquela tempestade de ventos no lago de Tiberíades, por onde costumavam trafegar e pescar, formaria o cenário ideal para o ensino de nosso Senhor.

Sabe-se pela Geografia de Israel que o Mar da Galileia é um espelho de água doce que se encontra mais de 200 metros abaixo do nível dos oceanos. É cercado por montanhas, as quais canalizam o vento frio para lá podendo causar tormentas repentinas. E, pelo que se lê na passagem bíblica em estudo do 3º Evangelho, Jesus e seus discípulos estavam indo de uma margem a outra (Lc 8:22), de maneira que, talvez, tenham sido surpreendidos no meio da viagem.

Como você se sentiria numa situação semelhante a dos discípulos estando, quem sabe, alguns quilômetros de qualquer uma das margens do lago e com um vento forte agitando seu barco, mesmo sabendo nadar?

Quando o fenômeno aconteceu, Jesus estava dormindo na embarcação, mas os discípulos ficaram apavorados. Despertaram então o Mestre que, ao acordar de seu sono, "repreendeu o vento e a fúria da água. Tudo cessou e veio a bonança" (verso 24).

Pela admiração dos discípulos que se seguiu ao milagre, a ponto de levantarem indagações sobre a identidade de Jesus, suponho que não tivessem aprendido a lição ainda naquele momento. Pois, quando questionados sobre onde estaria a fé deles, entendo que o nosso Senhor não queria que os seus seguidores criassem uma dependência em relação à sua pessoa e nem entrassem em desespero diante de situações como aquela. Dias viriam em que a Igreja enfrentaria outros tipos de tormentas como as necessidades materiais, as perseguições, os castigos físicos, as prisões injustas, as ameaças de morte e até o martírio pela causa do Evangelho.

Na sequência dos acontecimentos narrados em Lucas, Jesus e os discípulos chegarão nos versículos seguintes à terra dos gerasenos onde vão se deparar com o caso de um homem "endemoniado", do qual sairá uma "legião" de espíritos impuros que o assediavam (versos 26-34). Uma situação que parece estar relacionada também com o ambiente sócio-espiritual do lugar. E, neste sentido, tornava-se necessário o exercício da fé para a Igreja dos primeiros séculos, destinatária do 3º  Evangelho, também aprender a ser vitoriosa contra os poderes do mal. Logo, aquela tempestade de ventos prenunciou tanto o acontecimento literário posterior como a lutas do ministério apostólico e que são nossas também. E acrescentaria ainda que a narrativa da tempestade acalmada torna-se uma mensagem bem ampla capaz de alcançar os mínimos detalhes das nossas vidas:

Como é que enfrentamos as dificuldades?

Num primeiro momento, quando o problema se apresenta, entramos logo em desespero?

O sentimento angustiante de instabilidade chega a tomar conta dos nossos pensamentos e ações?

Você se lembra de orar durante as "tempestades" e consegue se recordar de que tem um Deus vivo ao seu lado?

Não importa como iremos responder a estas perguntas porque somos todos aprendizes da vida e temos um professor maravilhosamente compreensível chamado Jesus. Do mesmo modo como o Mestre ensinou aos seus discípulos, ele também ministra aos nossos corações hoje. Assim, ao se deparar com um problema,  não se importe com a sua extensão. Precisamos encará-lo com o olhar da fé. Deve-se ter muita calma nessa hora, buscar entender as causas da situação, fazer uma análise sob todos os aspectos (inclusive o espiritual e o psicológico) e tomarmos a atitude eticamente correta, sempre levando a Deus todas as coisas por meio da oração.

"Então, na sua angústia, clamaram ao SENHOR.
e ele os livrou das suas tribulações.
Fez cessar a tormenta,
e as ondas se acalmaram.
Então se alegraram com a bonança;
e, assim, os levou ao porto desejado."
(Sl 107:28-30)

Nesse mundo pode haver aflições, mas estas não vão ocorrer o tempo inteiro. Também há instantes de bonança (principalmente dentro de nossos corações) e o Eterno não nos deixará perecer no caos. Sobre as muitas águas reina o Deus da glória cuja voz poderosa se faz ouvir em toda a Terra.


OBS: A ilustração acima refere-se ao quadro Cristo na tempestade no Mar da Galileia (1695) do artista germano-neerlandês Ludolf Backhuysen (1630-1708). A obra encontra-se atualmente no Museu de Arte de Indianápolis. Extraí a imagem do acervo virtual da Wikipédia em http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Backhuysen,_Ludolf_-_Christ_in_the_Storm_on_the_Sea_of_Galilee_-_1695.jpg

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