“Depois disto, José de Arimatéia, que era discípulo de Jesus, ainda que ocultamente pelo receio que tinha dos judeus, rogou a Pilatos lhe permitisse tirar o corpo de Jesus. Pilatos lho permitiu. Então, foi José de Arimatéia e retirou o corpo de Jesus. E também Nicodemos, aquele que anteriormente viera ter com Jesus à noite, foi, levando cerca de cem libras de um composto de mirra e aloés. Tomaram, pois, o copo de Jesus e o envolveram em lençóis com aromas, como é de uso entre os judeus na preparação para o sepulcro. No lugar onde Jesus fora crucificado, havia um jardim, e neste, um sepulcro novo, no qual ninguém tinha sido ainda posto. Ali, pois, por causa da preparação dos judeus e por estar perto o túmulo, depositaram o corpo de Jesus.” (Evangelho de João 19.38-42; ARA)
Não me leve a mal se hoje, no dia de Natal, resolvo escrever justamente sobre o sepultamento de Jesus. Porém, não vejo muito sentido em falar sobre o seu nascimento sem nenhum tipo de conexão com sua obra redentora que, inevitavelmente, passa pela morte e pela ressurreição do Messias. Isto porque o seu nascimento ocorreu com um propósito bem grandioso que já havia sido profetizado há muitos séculos antes de sua chegada. Aliás, este recado foi muito bem expresso por Simeão, na passagem de Lucas 2.25-35, no dia em que Jesus, ainda menino, foi apresentado no Templo judaico por seus pais em cumprimento da lei mosaica. Aquele homem já estava informado pelo Espírito de Deus acerca da missão que aguardava a criança vista por seus olhos.
Muitas das vezes, quando tudo caminha bem, usamos os vocábulos vida e morte sem nenhuma significação, jogando ao vento palavras vazias. Porém, quando vamos a um sepultamento, temos a consciência do que representa a morte, isto é, a separação de alguém cujo rosto nunca mais veremos nesta vida. Ali, num triste velório, temos um encontro não com o falecido, mas com nós mesmos, de modo que extraordinariamente somos capazes de desenterrar emoções até então esquecidas dentro dos nossos corações, declarando sentimentos que, talvez, jamais foram ditos antes para a pessoa que se foi.
Não é por menos que algumas famílias são capazes de gastar fortunas para enterrar seus entes, seja para preservar o status do clã perante a sociedade, ou tentar lidar com o sentimento de culpa, na busca de substituir os gestos simples que foram negados em vida por uma extravagância que já não fará mais nenhum sentido para o morto. Em outras culturas diferentes da nossa, as lamentações funerais podem durar muito mais tempo do que no Ocidente e se tornam um evento social com a prática de inúmeros rituais (é milenar e muito comum a prática de raspar a cabeça por causa de um morto em outros lugares).
De fato, as expressões de lamento na ocasião de um enterro são importantíssimas para que possamos nos recobrar do trauma da perda e renovar as esperanças. A Bíblia diz que, na ocasião da morte do patriarca Jacó, o filho José lançou-se sobre o pescoço do pai e chorou sobre o seu corpo, beijando-o (Gênesis 50.1). E diz também o texto que o período de luto durou setenta dias (verso 3).
Ao morrer, Jesus despertou os sentimentos de dois discípulos que lhe seguiam às escondidas: José de Arimateia e Nicodemos (o mesmo do capítulo três de João que havia se encontrado com o Senhor na calada da noite). Ambos eram pessoas de posição na sociedade israelita daquele tempo e o Evangelho de Marcos refere-se a José como um ilustre membro do Sinédrio (o conselho religioso dos judeus). Porém, quando o Mestre tornou-se um cadáver, nenhum deles se incomodou com a ocasião festiva da Páscoa judaica que exigia pureza cerimonial dos participantes, sendo possível que eles próprios tivessem envolvido o corpo de Jesus com os lençóis de linho quando o retiraram da cruz e o puseram no túmulo dentro da rocha.
Antecipadamente, o profeta Simeão, descrito no Evangelho de Lucas, bem consciente do significado da vinda do Messias, foi capaz de reconhecer sua morte e sua vida através da atitude de grata adoração, aceitando também a própria morte:
“Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo,
segundo a tua palavra;
porque os meus olhos já viram a tua salvação,
a qual preparaste diante de todos os povos:
Luz para revelação aos gentios,
e para a glória do teu povo de Israel.”(Lc 2.29-32; ARA)
Certamente aquela foi uma autêntica maneira de se comemorar o Natal! Contemplando o Messias ainda bebê, o idoso Simeão estava compreendendo a amplitude do plano de Deus e o cumprimento de promessas feitas há séculos para o seu povo pelos antigos profetas. Naquele momento, ele pôde enxergar além de seus próprios dias e tocar na eternidade. Ele poderia morrer em breve, mas o tão desejado reino de Davi seria restabelecido pelo novo ungido que seus olhos tinham acabado de ver.
Contrariando as expectativas do povo judeu do primeiro século, Jesus não estabeleceu o reino messiânico de imediato com as aparências físicas que estavam no imaginário das pessoas. A obra do Messias mostrou-se muito mais complexa, tendo como uma primeira etapa a conquista dos corações dos homens pela pregação do Evangelho. Assim, com a morte de Jesus e seu respectivo sepultamento, foi-se a esperança de muitos quanto ao homem que viria libertar Israel do domínio estrangeiro. É o que disseram os discípulos no caminho de Emaús: “
Ora, nós esperávamos que fosse ele quem havia de redimir a Israel; mas, depois de tudo isto, é já este o terceiro dia desde que tais coisas sucederam” (Lc 24.21; ARA).
Sem que os dois discípulos percebessem, Jesus estava caminhando ao lado deles e explicou que o Messias precisaria padecer antes de entrar na sua glória, pois ambos estavam com os olhos do coração ainda fechados para a obra feita por Deus, ignorando a ressurreição.
Mas por que o Messias precisava morrer?
Quando criança eu não me conformava com a morte do Senhor. Ficava triste quando lia os textos dos Evangelhos e chagava na parte em que aquela pessoa maravilhosa que foi Jesus era retirada do convívio humano. Alegrava-me brevemente com a sua ressurreição, mas a seguir sentia novamente a dor da perda quando, passados os quarenta dias, Jesus deixava os discípulos e ia para os céus. Mesmo a promessa de Mateus 28.20
b, de que Ele estará sempre conosco até o fim do mundo, era incapaz de me consolar porque eu sentia necessidade de sua presença física.
Por outro lado, hoje sei que proveito algum haveria para o nosso crescimento espiritual se Jesus tivesse usado seus super poderes para neutralizar os soldados que vieram prendê-lo e, através de algum tipo de mágica, vencido os romanos tornando-se o rei de Israel de onde passaria a governar todo o mundo. Se tivesse seguido este atalho, que lhe fora proposto pelo diabo durante a tentação, faltaria aprendizado aos seus discípulos e aos demais homens que continuariam cometendo as mesmas injustiças, as mesmas que foram praticadas nos tempos de Davi e pelos monarcas posteriores.
Acontece que não é neste mundo onde encontraremos uma felicidade perfeita e Jesus mostrou para todos nós que o caminho da eternidade passa pela cruz. Com sua morte, ele sofreu toda a punição referente aos nossos pecados e mostrou que o sentido da vida está na prática do amor ao próximo.
Ao ressuscitar, Jesus apresentou-se com um corpo transformado que não temos condições de descrever. Novamente o Messias podia ser tocado, mas aparecia e desaparecia misteriosamente na frente de todos. E, após a ascensão, houve ocasiões em que outros tiveram o privilégio de vê-lo novamente, seja por sonhos ou visões, como foi com o apóstolo Paulo (At 9.3-6; 1Co 15.8) e com o João do Apocalipse (Ap 1.17-18), além de vários testemunhos de aparições atuais que ouvimos até nos nossos dias sem que se dê tanta credibilidade.
Sem dúvida que a fé não é gerada nos corações por causa de uma aparição sobrenatural de Jesus. É por quem Ele é (pelo seu caráter) que o Messias quer ser reconhecido pelos homens. E, nos nossos dias, não vejo outra maneira de apresentarmos o Messias senão pela presença de seu amor em nosso comportamento, ou do contrário a nossa evangelização não passará de mais uma lenda no meio de uma geração cética que se baseia nos pareceres da ciência.
Os cristãos de hoje precisam compreender que o caminho é a cruz! Pois, assim como Jesus veio parar morrer, nós também aprender sobre o que é dar a vida. Temos que começar a amar o nosso próximo, principalmente os que estão perto como as pessoas da família, da nossa vizinhança e da nossa cidade. Também temos que morrer para os nossos desejos carnais egoístas. Afinal, se o grão de trigo não morrer, ele fica só. Porém, isto só pode ser compreendido pela fé ou do contrário não teremos estímulo para crucificar a nossa natureza carnal.
Que neste Natal a vida possa renascer em seu coração e o Espírito do Messias encha você com seu amor, sua alegria e sua doce paz.
Querido RODRIGO,
ResponderExcluirQue lindo texto...realmente no Natal, é muito comum comentarem somente sobre o nascimento de Cristo, esquecendo-se deste fato tão mais marcante que foi a morte dEle...que Ele veio para morrer por nós e deixar a mensagem, que precisamos fazer o mesmo....morrer para os pecados, para os desejos carnais e sermos santo como ele, no sentido de amarmos mais quem pudermos amar....amarmos todos aqueles que passarem por nossas vidas...sem nada esperar em troca.
Não sabemos porque a vida nos foi dada, mas sabemos que ela nos foi dada. E creio que não foi dada para que pudéssemos simplesmente vivê-la, mas sim vivermos para nós e para o próximo, e fazermos desta chance que Deus nos deu, a maior chance de todos os tempos...de semear a palavra e o amor do Pai.
Feliz Natal atrasado e um abençoado Ano Novo, para você e toda sua família.
A paz.
Shalon, Paula!
ResponderExcluirFico muito feliz pela sua visita e por seus exatos comentários. E louvo a Deus por sua vida, sabendo que Ele tem edificado uma belíssima obra em seu coração.
Ontem quando estava na igreja compartilhando com meus irmãos sobre o que o nascimento de Jesus significa para mim, depois de ter falado no cumprimento das promessas dos profetas e no fato de que Deus se fez um de nós, abordei justamente este ponto - a prática do amor.
Nossa vida só passa a ter sentido quando vivemos este amor do Senhor, servindo, acolhendo e cuidando das pessoas. É quando as indagações sobre a origem e o destino da vida, do tipo "de onde eu vim" ou "para onde vou", já não fazem mais sentido, pois o vale mesmo é vivermos a verdadeira Vida que se manifesta diante de nós - atender às necessidade do Messias na pessoa meu próximo.
Que Deus continue te abençoando e saiba que o seu comentário em muito me edificou.
Em tempo!
ResponderExcluirVocê clicou na foto e viu a imagem desta mensagem ampliada?
Tem um detalhe bem interessante que despertou o interesse de minha esposa em fotografar aquele toco de árvore quando passeávamos pelas serras de Cachoeiras de Macacu vários anos atrás.
Obrigada pelas palavras!
ResponderExcluirEntão, olhei fixamente para a imagem ampliada...mas não tive a benção de ver o mesmo despertar que a tua esposa...rsss
Mas me comente o que despertou a atenção dela...quem sabe assim eu posso me identificar melhor com a imagem...
AH! Vi todos os debates no blog do GRESDER, confesso que fiquei meio triste e aborrecida com as atitudes grosseiras de meus amigos, ali conheço todos...e sei que são pessoas ótimas, mas eu sinto muito pelas palavras ofensivas direcionadas à ti. Eles devem ter a razão deles, e você a tua...mas ofensas, eu não admito...e dei bronca no GRESDER, você pode conferir na nova postagem dele!
Se você não mais quiser voltar ao blog do GRESDER, vá na nova postagem dele...e manifeste os teus mais sinceros sentimentos. Se não gostou da atitude, mostre isto....e se não quiser mais comentar lá, fique à vontade.
Debates cansam, desgastam a gente...já passei por este processo, mas hoje me encontrei e sei que não preciso discutir certos assuntos, que não são compatíveis comigo e que não me fazem muito bem.
Abraços amigo! Você tem um coração divino e uma sinceridade rara.
Você possui uma alma abençoada por Deus...que Ele te continue usando para fazer semear o amor, a paz e honestidade.
Deus te abençoe.
Não deixe que nada mude o teu jeito de ser, e que nada retire este amor de Deus da tua vida.
Olá, Paula!
ResponderExcluirJá fazem alguns anos que minha esposa tirou esta foto daquele toco de árvore queimada dentro do qual viu uma plantinha nova brotando. Nós estávamos caminhando no meio do mato no município vizinho, em Cachoeiras de Macacu, buscando alcançar o alto de uma pedra. Só que, enquanto eu estava concentrado na chegada, ela se deteve nos detalhes do trajeto. E, se eu estivesse caminahndo sozinho, nem teria reparado (sem minha esposa talvez eu jamais tivesse me ligado em certos detalhes da vida).
Sobre os debates nos blogues, não me sinto ofendido. Eu anunciei ali a mensagem, mas não posso obrigar ninguém a acolher a Palavra em seu coração. Aliás, nem Cristo faz nos obriga em relação ao Evangelho. Logo, fico mais triste por eles e não por mim, pois estão cometendo um grande engano ao negarem a ressurreição.
Tenho experimentado no Evangelho ver a conversão de pessoas pobres, sem estudo, sofridas e pelas quais o mundo não daria nenhum centavo, mas tenho visto uma grande transformação na vida delas. A maioria delas nem está na internet. Com todos os erros da Igreja, vejo casamentos acabados serem restabelecidos, jovens deixando as drogas, chefes de família libertando-se do alcoolismo e mulheres deprimidas deixando o leito para louvarem a Deus. E quando vejo que posso contribuir para o bem dessas pessoas que de fato se encontram receptivas, fico alegre.
Vejo que parece ser mais sensível do que eu. E acho que as pessoas com maior sensibilidade pode perceber coisas que as outras nem sempre conseguem captar. Logo, quando temos uma sensibilidade maior, precisamos saber usá-la como um dom dado pelo Criador.
Volte sempre, Paula!
Olá RODRIGO,
ResponderExcluirAh! sim. Eu havia observado o brotinho na hora que ampliei a imagem. Que linda a criação do nosso Senhor!
Em meio à uma coisa "mórbida" uma pequena luz de vida! (maravilhoso)
Fico tranquila ao saber que você não tem se ofendido pelos comentários lá no Blog...mas eu confesso que me senti ofendida, e por isto mesmo vim aqui de imediato pedir que não se ofendesse.
Realmente sou muito sensível, e creio que a sensibilidade é algo muito bom para nós, mas em exagero nos fere muito. Tenho me ferido ao longo destes meus 25 anos por ser tão sensível, e ter me envolvido com pessoas insensíveis. É muito trágico.
Você disse o correto, você tentou aplicar a mensagem no coração alheio, mas se eles não querem se adentrar à graça Divina, o problema é deles e não seu.
Mas continue sendo assim, do jeito que é...e semeando a restituição pelo amor de Cristo.
Não há nada mais valioso nesta vida que podermos ver um "brotinho" de vida brotando na vida de alguém.
Beijos.
Feliz 2011 para você e sua família, com muita benção de Deus!
Olá PAULA,
ResponderExcluirComo foi de ano novo?
Não tanto quanto o apóstolo Paulo, que expôs em epístola seu sentimento sobre a conduta de seus irmaos do judaísmo, também sofro em certa medida por aqueles que rejeitam a Palavra. Principalmente pelos que são de minha família. E creio que Deus sente mais ainda.
Mas paciência. Agente deve deixar estas preocupações nas mãos do Senhor e seguir em frente fazendo o nosso papel de discípulos de Jesus. Por outro lado, a Bíblia diz que devemos evitar questões loucas que não levam a nada.
Certamente há festa nos céus por cada nova vida que renasce para Deus. Ontem mesmo na Igreja preguei sobre o novo nascimento, sobre sermos novamente crianças, e pretendo tão logo, se Deus permitir, compartilhar aqui no blogspot o texto que já havia escrito no caderninho antes do culto de domingo. Portanto, vamos comemorar o nascimento de cada broto espiritual!
Aproveito para te desejar um 2011 abençoado!
Fica na paz.
RODRIGO,
ResponderExcluirConcordo com você nestas plavras..
Vamos fazer a nossa parte...e seguirmos em frente confiantes com nosso papel de discípulos.
Beijos..a paz.
Exato! E quando a questão esbarra na fé já não podemos fazer nada, pois a fé não vem pelo covnencimento pessoal de ninguém, mas sim por ouvir (com o oração) a Palavra de Deus. E aí quem tem que ouvir é a própria pessoa. Paulo pregava até um certo ponto. Quando as pessoas se mostravam fechadas ou caçoavam dele, como foi em algumas sinagogas e entre os filósofos de Atenas sobre a ressurreição (no areópago), ele também parava de discusar, voltando-se para novos e futuros discípulos. Creio que é assim que o Evangelho deve ser anunciado em todo o mundo.
ResponderExcluirBom texto. Boa reflexão
ResponderExcluirJá vi no meu meio, alguém dizer no calor do debate:
"Não importa o que Cristo foi ou o que Êle viveu. O que importa é a Sua Ressurreição, que me deu o direito de um dia ressurgir também dos mortos". Que pena!!!
Exato, Levi!
ResponderExcluirAcho em erro alguém querer amputar partes sobre a vida e obra de Cristo como narrados nos Evangelhos.
Mesmo os relatos mais realistas, que pareçam ambíguos ou ainda mitológicos devem ser considerados para a reflexão.
Abraços.