Para o calendário judaico, hoje é o 28º dia do mês de Kislev do ano de 5771 e que coincide com o quinto dia das comemorações da tradicional Festa de Chanukah (também conhecida como “Festa das Luzes” ou “Festa da Dedicação”) da qual Jesus, como todo judeu, também participava, segundo nos mostra passagem do Evangelho de João:
“Celebrava-se a festa da Dedicação, em Jerusalém. Era inverno, e Jesus estava no templo, caminhando pelo Pórtico de Salomão.” (João 10.22-23; Nova Versão Internacional – NVI)
Para a comunidade judaica, Chanukah (pronuncia-se Rránucá) tem sua importância religiosa e também histórica. Isto porque sua origem relaciona-se com as lutas do povo contra a helenização cultural no século II a.C., quando então, por volta de 165/164 a.C., Jerusalém e o Templo foram retomados do domínio grego de Antíoco IV Epifânio por Judas Macabeu. Em tal ocasião, foi necessário purificar o Templo para dedicá-lo novamente ao serviço sagrado já que a ocupação estrangeira havia profanado o local. É o que se lê neste relato do livro deuterocanônico de I Macabeus:
“No dia vinte e cinco do nono mês – chamado Casleu – do ano cento e quarenta e oito, eles se levantaram de manhã cedo e ofereceram um sacrifício, segundo as prescrições da Lei, sobre o novo altar dos holocaustos que haviam construído. Exatamente no mês e no dia em que os pagãos o tinham profanado, foi o altar novamente consagrado com cânticos e ao som de cítaras, harpas e címbalos. O povo inteiro se prostrou com a face por terra para adorar, elevando louvores ao Céu que os tinha tão bem conduzido até ali. Celebraram a dedicação do altar por oito dias, oferecendo holocaustos com alegria e imolando também o sacrifício de comunhão e de ação de graças. Enfeitaram a fachada do templo com guirlandas de ouro e pequenos escudos, e renovaram os portais, bem como os aposentos, nos quais colocaram as portas. Reinou, pois, extraordinária alegria ente o povo e assim foi cancelada a vergonha infligida pelos pagãos. E Judas, com seus irmãos e toda a assembléia de Israel, estabeleceu que os dias da dedicação do altar seriam celebrados a seu tempo, cada ano, durante oito dias, a partir do vinte e cinco do mês de Casleu, com júbilo e alegria.” (I Macabeus 4.52-59; Bíblia de Jerusalém)
Segundo a tradição judaica, eis que, nesta ocasião, ocorreu um milagre. Foi quando o óleo do frasco do Sumo Sacerdote, que havia escapado da profanação, foi suficiente para iluminar a
menorah (candelabro de sete velas) por oito dias consecutivos ao invés de durar por apenas um dia, conforme previsto pela quantidade que havia no recipiente. Daí, todos os anos, nesta época, os judeus acendem uma vela ao por do sol de cada dia até o 1º de Tevet que corresponde ao oitavo da festa. E as pessoas costumam cumprimentar-se com os termos hebraicos “Chag Sameach Chanukah” que significa “Feliz Festa de Chanukah”, além de desejarem umas às outras muita luz e a cocnessão de milagres.
Refletindo sobre o que é ter luz em nossas vidas, posso recordar dessas sábias palavras de Jesus que encontramos no Evangelho de Lucas, quando o Senhor deixa claro que a luz deve nascer no nosso interior:
“Ninguém acende uma candeia e a coloca em lugar onde fique escondida ou debaixo de uma vasilha. Ao contrário, coloca-a no lugar apropriado, para que os que entrem possam ver a luz. Os olhos são a candeia do corpo. Quando os seus olhos forem bons, igualmente todo o seu corpo estará cheio de luz. Mas quando forem maus, igualmente o seu corpo estará cheio de trevas. Logo, se todo o seu corpo estiver cheio de luz, e nenhuma parte dele estiver em trevas, estará completamente iluminado, como quando a luz de uma candeia brilha sobre você”. (Lc 11.33-36; NVI)
Comentando sobre esta passagem, Caio Fábio ensina que a luz do nosso interior está relacionada com a nossa maneira de interpretar a vida, dizendo que:
“(…) A verdadeira Luz nasce nos ambientes interiores e gera uma nova maneira de enxergar a vida. Aqui, Ele [Jesus] associa a luz do ser ao modo como a pessoa 'interpreta' a vida, Deus e o próximo. E mais, Ele diz que a luz do ser vem também dele não negociar com suas sombras, escondendo-as, pois, nesse caso, o que deveria ser a fonte de luz – o interior e seus bons pensamentos e interpretações da vida – passa a ser o gerador das trevas no interior humano (...)” (D' ARAÚJO FILHO, Caio Fábio.
Sem barganhas com Deus. 2ª ed. Brasília: 2010, págs. 185 e 186).
Para que a luz de Deus possa brilhar em nossas vidas, temos que estar dispostos a limpar o nosso íntimo, o que não é tarefa fácil pois precisamos aprender a ser quem realmente somos, remover as máscaras, afastar-nos dos comportamentos de falsidade e deixar que a sua Palavra penetre no coração, confrontando-nos por inteiro.
As Escrituras deixam claro que Deus não habita templos construídos por mãos humanas, mas sim o templo que o próprio Criador construiu – os homens. Ele mesmo diz pela boca do profeta que:
“O céu é o meu trono,
e a terra, o estrado dos meus pés.
Que espécie de casa vocês me edificarão?
É este o meu lugar de descanso?
Não foram as minhas mãos que fizeram todas essas coisas,
e por isso vieram a existir?”(Isaías 66.1-2; NVI)
É certo que nenhuma igreja ou templo podem se tornar habitação de Deus. Assim, com Jesus, aprendemos que Ele e o Pai querem morar em nós através do Espírito Santo, quando nos rendemos obedientemente à Palavra:
“Se alguém me ama, obedecerá à minha palavra. Meu Pai o amará, nós viremos a ele e faremos morada nele. Aquele que não me ama não obedece às minhas palavras. Estas palavras que vocês estão ouvindo não são minhas; são de meu Pai que me enviou” (João 14.23-24; NVI)
Igualmente Paulo diz:
“Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por Deus, e que não são de si mesmos?” (1 Coríntios 6.19; NVI)
Para a maioria de nós que somos seguidores de Jesus e não temos uma origem judaica, falar de Chanukah apenas como uma tradição histórica e religiosa não faria sentido, visto que nos faltaria a identificação cultural e a obrigatoriedade de participar das celebrações. Porém, quando lembramos da consagração do templo judaico da época dos Macabeus, podemos associar tal ato com a dedicação de nossas vidas a Deus, algo que devemos fazer continuamente, guardando o nosso coração e pondo para fora todas as trevas espirituais.
Caro leitor, desejo que, neste dia em que lê esta mensagem, o seu interior seja inundado pela verdadeira Luz que vem de Deus e nos foi manifestada no Messias, pois, seguindo seus passos, nos re-encontramos com a Vida:
“Eu sou a luz do mundo. Quem me segue, nunca andará nas trevas, mas terá a luz da vida”. (João 8.12; NVI)
Abra o seu coração para a luz! E que um grande milagre aconteça no seu interior!
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