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segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

A estupidez de um ditador...



No último domingo, dia 03/12, a Venezuela organizou um referendo no qual 95% dos eleitores presentes teriam votado para que o país incorpore ao mapa venezuelano o território de Essequibo, uma região de fronteira com a Guiana, riquíssima em petróleo (com reservas estimadas de 11 bilhões de barris), que é disputada há mais de 100 anos.


Sinceramente não vejo outra explicação quanto a isso senão a tentativa do ditador do país vizinho, Nicolás Maduro, querer inflar a própria imagem desgastada, através do sentimento nacionalista, uma vez que o seu poder se encontra ameaçado. 


Algumas pessoas muitas vezes perguntam se haverá depois disso uma guerra entre Venezuela e Guiana, mas acredito que, provavelmente, não, apesar de não ter ficado claro como as autoridades venezuelanas pretendem implementar a anexação do território. Porém, essa consulta popular acaba servindo para criar uma tensão que até então inexistia num continente de tendência pacífica nas últimas décadas que é a nossa América do Sul.


Recentemente, o presidente Lula manifestou-se acerca do assunto pedindo aos dois países "bom senso" acerca dessa antiga questão territorial, declarando que a América do Sul "não está precisando agora é de confusão":


"Se tem uma coisa que precisamos para crescer e melhorar a vida do nosso povo é a gente baixar o facho, trabalhar com muita disposição de melhorar a vida do povo e não ficar pensando em briga, não ficar inventando história. Então, espero que o bom senso prevaleça do lado da Venezuela e da Guiana. A humanidade deveria ter medo de guerra porque só faz guerra quando falta o bom senso, quando o poder da palavra se exauriu por fragilidade dos conversadores. Vale mais a pena uma conversa do que uma guerra"


Infelizmente, as ditaduras induzem os líderes a esses posicionamentos estúpidos. Há 41 anos, durante o regime militar, a Argentina entrou numa guerra insana contra os britânicos querendo retomar as Malvinas, saindo derrotada em dois meses e cinco dias de conflito...


Por sua vez, no começo da década de 90, o sanguinário Saddam Hussein não obteve êxito na sua tentativa de anexar o Kuwait, tendo, na época, a premier britânica, Margaret Thatcher, e o presidente dos Estados Unidos, George Bush, enviado uma enorme quantidade de soldados das forças armadas de seus países para a Arábia Saudita, a fim de intervir na questão. E, sem capacidade de resistir à superioridade bélica das super potências, o Iraque acabou tendo que se render.


No fundo, creio que Maduro sabe ser impossível sustentar uma guerra contra a Guiana porque, certamente, terá contra si a oposição dos Estados Unidos e do Reino Unido, os quais deverão socorrer o país invadido de língua inglesa. Logo, suponho que tudo isso não passe de uma encenação com a finalidade de obter apoio popular para manter-se no poder por mais tempo. Inclusive porque a Venezuela depende muito dos EUA para conseguir reerguer a sua economia.


Por outro lado, mesmo sendo remota essa possibilidade de conflito, ela jamais deve ser descartada. Até porque a Venezuela é aliada da Rússia e, sendo assim, poderia querer causar um problema militar na região com a finalidade de tirar o foco dos EUA em relação à Ucrânia, onde é travada, atualmente, a principal guerra no mundo. 


Neste sentido, não podemos esquecer de que o ataque do Hamas a Israel, mais o apoio do Hezbollah e as posições do Irã têm contribuído para diminuir a visibilidade do conflito na Ucrânia, assim como as reincidentes provocações da Coréia do Norte.  


Num momento tão difícil pelo qual passa a humanidade, com uma guerra no leste da Europa entre Rússia e Ucrânia, mais a situação em Gaza, Síria, além de outros conflitos localizados, sem cotnar os problemas ambientais, os governantes deveriam voltar suas atenções para a promoção da paz, do progresso global com sustentabilidade, da conservação da natureza e fazerem do diálogo um caminho de soluções.


Mais do que nunca desejo que Lula e o Papa Francisco sejam melhor ouvidos pela comunidade internacional. Afinal, esses dois homens valentes têm sido verdadeiros guardiões dos bons valores que o mundo cultivou nas últimas décadas do século XX, acerca dos quais não podemos retroceder.

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