"Busquem, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas lhes serão acrescentadas." (Jesus de Nazaré, Evangelho de Mateus 6:33; NVI)
É bem comum, nessas épocas de passagem de ano, fazermos as nossas reavaliações pessoais e traçarmos metas para o novo período de 365 dias que se inicia. Muitos fazem logo uma lista de desejos alcançáveis tipo dar entrada numa casa nova, arranjar um novo emprego, abrir um negócio, aumentar suas vendas, quitar as dívidas, iniciar uma faculdade, comprar um carro, viajar, casar, ter um filho, etc.
Confesso que nada tenho contra tais planejamentos. Aliás, muito pelo contrário pois, na vida, a melhor maneira de alcançarmos resultados é avaliando condições e possibilidades, verificando previamente quais esforços podem ser feitos para conseguirmos isso ou aquilo, ainda que nem sempre possamos estar no controle de todos os eventos que se sucedem.
Pois bem. Estava na semana passada pesquisando no Google uma frase que fosse inspiradora para essa época quando, por acaso, deparei-me com o citado dito atribuído a Jesus no célebre Sermão da Montanha, uns dos mais belos discursos bíblicos e que ocupa os capítulos 5, 6 e 7 do Evangelho de Mateus, primeiro livro do chamado Novo Testamento. No contexto da passagem, o Mestre vinha falando sobre a apreensão que o ser humano muitas das vezes sente pela sua própria vida, geralmente no que diz respeito às nossas preocupações cotidianas.
Por certo, o modelo de vida ensinado por Jesus diferencia-se dos projetos que costumamos elaborar. Isto é, das motivações que geralmente temos, as quais acabam por coincidir com aquilo que ele advertiu os discípulos que o ouviam sobre não acumularem riquezas sobre a terra, "onde a traça e a ferrugem destroem, e onde os ladrões arrombam e furtam" (verso 19).
Inegavelmente, a sua mensagem é profunda porque envolve questões sobre os nossos interesses particulares, a doentia ansiedade quanto ao nosso sustento futuro (necessidades básicas como alimento e vestuário), quais os valores que devemos ter, mas nos impõe uma pequena dose de fé para crermos num cuidado divino sobre nossas vidas.
Buscar o Reino de Deus e a sua justiça não pode se resumir à ideia de ganharmos um visto de residência para a morada celestial quando morrermos, mediante à aceitação de um conjunto de crenças ofertado numa pregação religiosa. Pois o que Jesus estava falando ali seria a promoção de uma realidade bem mais abrangente, revolucionária, de relações amorosas, solidárias, distributivas, sadias, restauradoras e inclusivas.
Entender o que é o Reino de Deus, por sua vez, não pode se resumir a meros conceitos teológicos e nem se confundir com a forma monárquica de governo, muito bem utilizada como metáfora por Jesus para expressar o desejo de que toda a humanidade se torne uma bem-aventurada família praticante do amor ao próximo. Isso significa nos tornarmos súditos não de homens e sim da vontade divina consistente na prática do bem.
Obviamente a passagem bíblica não vai nos responder de imediato quais as metas específicas que cada um precisa adotar para o futuro e não me parece que Jesus tenha proibido os seus discípulos de fazer um planejamento para o amanhã que fosse adequado segundo os justos valores. Contudo, suas sábias palavras norteadoras poderão nos ajudar a definir o nosso caminhar em qualquer tempo, conforme as nossas necessidades e responsabilidades, no sentido de sabermos estabelecer com profundo alicerce sobre a rocha a verdadeira prioridade: o Reino de Deus e a sua justiça.
Que Deus nos abençoe em 2024 e sempre!
OBS: Imagem acima referente à pintura do artista dinamarquês Carl Heinrich Bloch (1834 - 1890), O Sermão da Montanha.
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