Hoje a cidade do Rio de Janeiro completa 459 anos desde a sua fundação, formalizada no dia 1º de março de 1565, quando os portugueses, sob o comando de Estácio de Sá, acompanhado por um grupo de colonizadores, incluindo também do fidalgo D. Antônio de Mariz, desembarcaram num istmo entre o Morro Cara de Cão e o Morro do Pão de Açúcar.
Segundo a célebre pintura de Antônio Firmino Monteiro, de 1881, obra que se encontra no Palácio Pedro Ernesto, temos uma visão que considero romantizada desse acontecimento histórico com indígenas (e até mesmo uma onça selvagem) celebrando com total receptividade uma missa católica. A impressão que se tem é que os povos originários estariam aderindo à religião e ao domínio político dos invasores.
Fato é que a região do entorno da Guanabara já era há muitos séculos ocupada pelos tupinambás, mais precisamente pelos tamoios, quando os primeiros homens brancos, liderados pelo navegador português Gaspar de Lemos, teriam chegado por aqui, justamente no primeiro dia do ano de 1502. Daí o termo "Rio de Janeiro". Porém, como Portugal não ocupou de imediato todo o imenso território a leste do Tratado de Tordesilhas, eis que os franceses, cerca de dez anos antes da fundação da cidade, mais precisamente em 1º de novembro de 1555, apossaram-se da baía, quando Nicolas Durand de Villegagnon estabeleceu uma colônia na Ilha de Sergipe (atual Ilha de Villegagnon), nela erguendo o Forte Coligny.
Curiosamente, o primeiro culto cristão no Rio de Janeiro que se tem notícia pode ter sido evangélico, no sentido bem amplo do termo. Isto porque parte dos colonizadores franceses era de confissão calvinista (huguenotes), muito embora Villegagnon fosse católico. Tanto é que, tempos depois, ele mandou martirizar alguns dos protestantes que se encontravam na colônia, após os mesmos terem confessado a fé reformadora.
Obviamente que a chegada de Estácio de Sá às águas da Guanabara não tinha por objetivo buscar um intercâmbio cultural com os povos originários e nem lhes trazer benefícios de qualquer ordem. É certo que Portugal não aceitava a presença dos franceses ali e queria proteger o território da ocupação de outra nação europeia adversária, num ambiente geograficamente estratégico.
A essa altura, parte dos indígenas da região encontrava-se já aliançada com os franceses. Desse modo, os portugueses também já haviam buscado o apoio de um grupo indígena rival dos tupinambás, os temiminós. E foi com o auxílio destes que atacaram e destruíram a colônia francesa, terminando por expulsar os adversários brancos somente em 1567, dois anos depois da fundação do Rio de Janeiro.
Importante dizer que as batalhas dos portugueses contra os franceses eram anteriores ao evento do dia 01/03/1565 de maneira que, quando o Rio de Janeiro foi fundado por Estácio de Sá, já existia uma relação há alguns anos com os temiminós.
Por certo, o sopé do Morro Cara de Cão não oferecia condições adequadas para o desenvolvimento urbano do do Rio de Janeiro. Tanto é que, após a derrota dos franceses e de seus aliados indígenas, nas batalhas da então Praia da Glória (hoje desaparecida) e da atual Ilha do Governador (1567), a cidade foi transferida para o alto do Morro do Descanso, posteriormente denominado como Alto da Sé, Alto de São Sebastião, Morro de São Januário e, finalmente, Morro do Castelo, cujo desmonte ocorreu em 1922.
Até à chegada da família real portuguesa, em 1808, quando foi criada a Impressão Régia, escassas são as fontes históricas acerca do Rio de Janeiro uma vez que as atividades de tipografia eram severamente reprimidas pelo colonizador. Todavia, a cidade foi aos poucos se desenvolvendo e cresceu em importância no século XVIII, durante do ciclo do ouro, por causa da estratégica proximidade com a capitania de Minas Gerais.
Da capital da colônia, em 1763, até à transferência da sede da nossa República para o Planalto Central (1960), incluindo a breve duração do Reino Unido de Portugal e dos Algarves mais o Império brasileiro, o Rio de Janeiro experimentou o melhor período de sua história. Tornou-se a maior cidade do país depois da vinda de D. João VI e manteve essa posição até à década de 1950, quando São Paulo veio a ser a metrópole mais populosa.
Logicamente que o Rio de Janeiro sempre enfrentou os seus problemas decorrentes do aumento populacional, como a falta de água e também de habitação. Além disso, a cidade sofreu com as questões sanitárias que, por sua vez, trouxeram violentas epidemias de febre amarela, varíola e cólera-morbo.
Podemos dizer que foi somente no século XX que o Rio conquistou o seu atual status turístico. Em 27 de outubro de 1912, foi inaugurado o primeiro trecho do caminho aéreo do Pão de Açúcar, entre a Praia Vermelha e o Morro da Urca, o chamado "bondinho do Pão de Açúcar". Em 12 de agosto de 1931, foi a vez da inauguração da estátua do Cristo Redentor, monumento que se tornou o maior símbolo da cidade. E, finalmente, em 1950, foi inaugurado o estádio Jornalista Mário Filho (Maracanã) para abrigar a final da Copa do Mundo daquele mesmo ano.
Por outro lado, todos esses embelezamentos que o Rio de Janeiro ganhou nunca foram capazes de mascarar a sua realidade de exclusão social. Ao lado das reformas urbanísticas de Pereira Passos, surgiram as favelas e os moradores dos bairros nobres passaram a viver cada vez mais em desarmonia com as comunidades carentes, criando um apartheid social até hoje percebido.
Com a transferência da capital do país para Brasília, o antigo Distrito Federal, onde se situava a cidade do Rio de Janeiro, se tornou o estado da Guanabara. Este se fundiu em 1975 com o antigo Estado do Rio de Janeiro, formando a atual unidade federativa regional com capital na própria Cidade Maravilhosa.
Entretanto, há quem veja o Rio de Janeiro uma cidade sem rumo desde que perdeu o status de capital federal, tendo hoje como graves problemas a criminalidade, o trânsito lento, o transporte público precário, a poluição das águas, o desemprego e a corrupção. Os recursos financeiros obtidos com a exploração de petróleo na Bacia de Campos não proporcionaram o desenvolvimento esperado, quer fosse para o estado ou para o município e nem tão pouco surtiram efeito os investimentos quanto aos grandes eventos esportivos da década passada (o Mundial de 2014 e as Olimpíadas de 2016).
O que será do Rio de Janeiro futuramente, acho difícil alguém prever. Porém, creio que haja tempo suficiente para a cidade se reinventar e colher frutos antes mesmo da comemoração dos seus 500 anos de fundação. E, neste sentido, a promoção do bem estar social com os investimentos governamentais nas áreas de saúde, educação, mobilidade urbana, lazer e assistência podem fazer a diferença num momento em que o crescimento demográfico hoje em dia já nem existe (variou negativamente na última década segundo o Censo de 2022).
Hoje, sob a gestão do prefeito Eduardo Paes, com o apoio do presidente Lula, acredito que o Rio poderá dar mais alguns passos para melhorar a qualidade de vida de seus moradores. Basta que os cariocas consigam aproveitar as oportunidades!
Parabéns, Rio!
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