Acho super positivo que nestas eleições presidenciais tenhamos um segundo turno no Brasil.
Embora me pareça difícil José Serra crescer nas intenções de votos a ponto de poder vencer a candidata petista, não se trata de algo impossível. Ainda mais se Marina Silva vier a apoiá-lo, o que seria bem lógico já que o governo do PSDB teve muito mais respeito pelo meio ambiente do que o PT, principalmente no segundo mandato de FHC quando defendemos excelentes propostas na conferência Rio + 10 (2002).
Nos próximos dias, Dilma precisará fortalecer suas alianças e resgatar cabos eleitorais rebeldes, como o peemedebista gaúcho Pedro Simon que apoiou Marina no meio da campanha. Acredito também que ela deverá fazer concessões que reduzirão a influência do PT em seu governo e ainda necessitará dar enfrentamento aos ataques da oposição como responder mais detalhadamente às críticas de igual para igual, tendo com Serra o mesmo tempo de TV na propaganda gratuita.
Por sua vez, José Serra terá que adotar um discurso mais objetivo e que satisfaça às necessidades do seu eleitor, caso queira convencer as pessoas sobre o porquê de escolher sua candidatura sabendo que Dilma tem a seu favor o bom desempenho da economia brasileira. Assim, se o PT tem a seu favor a geração de empregos nos últimos anos, caberá ao PSDB focar na elevação do custo de vida que é inerente a todo crescimento econômico, não se esquecendo de bater no achatamento das aposentadorias que vem ocorrendo a cada ano depois do fator previdenciário.
Enquanto PT e PSDB polarizam pela quinta vez consecutiva a disputa pela cadeira número 1 do país, num período de 16 anos, como fica a situação do povo brasileiro? Não são de promessas que as pessoas vivem! Pois, enquanto os políticos se mordem e arranham no palco (tudo não passa de um teatro), pessoas estão sofrendo nas portas dos hospitais, os salários permanecem insuficientes para satisfazerem todas as necessidades básicas de um ser humano, parte da riqueza nacional é apropriada pelos impostos, os alunos vão passando de ano sem aprender corretamente, a Amazônia vai sendo saqueada por madeireiros e pecuaristas, a violência cresce, etc.
Não há como negar que, desde o breve governo de Itamar Franco, a nação vem melhorando em diversos níveis a passos lentos. A estabilidade monetária, que foi um projeto global para vários países (não só o Brasil), criou condições para que tivéssemos uma economia sustentável. E, se hoje o governo pode ordenar o crescimento brasileiro, foi porque Itamar e FHC observaram atentamente as regras traçadas pelo Consenso de Washington (1989):
- Disciplina fiscal;
- Redução dos gastos públicos;
- Reforma tributária;
- Juros de mercado;
- Câmbio de mercado;
- Abertura comercial;
- Investimento estrangeiro direto, com eliminação de restrições;
- Privatização das estatais;
- Desregulamentação (afrouxamento das leis econômicas e trabalhistas);
- Direito à propriedade intelectual.
É certo que não só o Brasil como outros países tiveram que abandonar o dogmatismo inicial de todas essas propostas, principalmente depois da crise asiática (1997) quando inúmeras bolsas asiáticas quebraram pelo mundo. Contudo, até o PT quando chegou ao poder (2003), preservou algumas dessas medidas de austeridade econômica, apesar de ter negligenciado outras.
Atualmente, com a crise na Europa, que atinge de maneira mais acentuada a Grécia, torna-se indispensável repensarmos algumas propostas que foram anteriormente praticadas afim de que o Brasil não se veja futuramente num quadro de inflação descontrolada. E, neste sentido, parece-me fundamental o futuro governo reduzir os gastos públicos e promover uma profunda reforma tributária capaz de aliviar a pesada carga dos impostos sobre o setor produtivo.
Quanto à abertura comercial e à privatização de estatais, é bom que o Brasil mantenha essas conquistas dos anos 90. E, portanto, até a exploração do pré-sal deve ser feita dentro deste conceito que tem dado certo, continua sendo aplicado pelos países escandinavos e atrai muitos investimentos privados (se bem que sou contra o país ficar sujando o meio ambiente com a extração de um combustível que tanto contribui para as alterações climáticas do efeito estufa).
Já os direitos sobre a propriedade industrial, tal regra não pode continuar sendo aplicada como absoluta quando há um conflito com o interesse social. E, neste caso, o próprio PSDB também fugiu ao padrão do Consenso de Washington quando José Serra, então ministro da saúde de FHC, quebrou as patentes dos medicamentos criando os genéricos para beneficiar inúmeros consumidores.
Finalmente, no que diz respeito ao afrouxamento de leis trabalhistas, penso que, neste aspecto, as regras do Consenso de Washington mostraram-se inadequadas, pois é necessário resgatar o respeito e a dignidade do trabalhador visto que se cuida de um ponto chave para resgatarmos a estabilidade social. A economia não pode ser colocada acima das pessoas e este foi o principal fator que gerou tantos movimentos contrários à globalização. Logo, o próximo presidente precisa compreender o quanto o trabalho e a família são importantes.
Mas será que o PSDB ainda representa uma volta a esses valores que colocaram o Brasil nos trilhos nos anos 90?
Com toda a sinceridade, tenho dúvidas se os tucanos de hoje não cometerão muitos dos pecados da gastança praticados pelo PT e que a tão aguardada reforma tributária ainda continuará para um outro governo. Contudo, de uma coisa tenho certeza. Um presidente do PSDB respeitará mais as liberdades políticas e o meio ambiente. FHC foi um excelente presidente para o regime democrático e conseguiu que, neste aspecto, a Constituição Federal de 1988 se tornasse uma realidade.
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