João, ao ouvir na prisão o que Cristo estava fazendo, enviou seus discípulos para lhe perguntarem: “És tu aquele que haveria de vir ou devemos esperar outro?” (Evangelho segundo Mateus 11.2; Nova Versão Internacional – NVI)
Esta passagem que também é descrita em Lucas 7.18-35 revela ao mesmo tempo a humanidade e a fé de um grande profeta de Israel – João Batista. No Evangelho segundo João, diz o texto que Batista, ao ver Jesus no rio Jordão, declarou ser ele "o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo" (Jo 1.29).
No entanto, após ter sido preso pelo rei Herodes, João Batista precisou de forças no enfrentamento de sua difícil situação e, com toda a humildade e sinceridade que caracterizam o seu comportamento, mandou os seus mensageiros perguntarem a Jesus se ele era mesmo o Messias tão esperado pelo povo israelita que, no entendimento coletivo, libertaria a nação da opressão romana inaugurando uma era de prosperidade e de paz.
É muito fácil professarmos uma fé quando tudo vai bem, não é mesmo? Mas, na hora da provação, quando a dúvida, a depressão e o desespero cercam a nossa alma, percebemos o quanto somos humanos. E a Bíblia, neste aspecto, não esconde as fraquezas humanas de seus personagens, os quais, a meu ver, podem ser considerados heróis da fé porque também souberam admitir suas limitações.
Por esses dias, recebi meu último exemplar da revista das Missões Portas Abertas onde consta a reprodução da carta de um pastor encarcerado na Eritreia enviada à sua esposa:
“Deus, na sua santa vontade, prolongou minha sentença de prisão para 5 anos e 4 meses. Não vejo a hora de estar com você, minha querida esposa, nossos filhos e o povo de Deus na igreja (...) Estou experimentando o cuidado e o amor do nosso Deus todo o dia. Quando me trouxeram para essa prisão, tive pensamentos contrários ao que a Bíblia diz. Eu achava que o diabo tinha prevalecido sobre a Igreja e sobre mim. Pensei que o trabalho evangélico na Eritreia estava acabado. Mas não levou um dia para Deus me mostrar que Ele é um Deus soberano e que Ele está no controle de todas as coisas – mesmo aqui na prisão. No momento em que entrei na minha cela, um dos prisioneiros me chamou e disse: 'Pastor, venha aqui. Todos nesta cela estão perdidos. Você é muito necessário'. Assim, no mesmo dia que fui colocado na prisão, continuei meu trabalho espiritual. Minha querida, quando mais permaneço aqui, mais amo meu Salvador e falo às pessoas daqui sobre a bondade dele. Sua graça está me capacitando a superar a frieza e a saudade que eu sinto de você e de nossos filhos. Algumas vezes, pergunto a mim mesmo: 'Será que estou fora de mim? Sou um bobo? Bem, não foi isso que o apóstolo disse: 'Se enlouquecemos, é por amor a Deus; se conservamos o juízo, é por amor a vocês'. (2 Co 5.13) Minha honrada esposa, eu a amo mais do que posso dizer. Por favor, ajude as crianças a entenderem que estou aqui como um prisioneiro de Cristo para a causa maior do evangelho.” (vol. 28; n.º 10)
Que testemunho esse do pastor que foi preso num país hostil à fé cristã! Porém, ele compartilhou os sentimentos e as emoções negativas que se passaram em sua mente quando o levaram para a prisão, o que pode acontecer com qualquer um de nós. Conta a Bíblia que o profeta Elias, após ter enfrentado os 400 profetas de Baal, temeu as ameaças da rainha Jezabel e foi esconder-se numa caverna do Horebe (Monte Sinai) onde veio a ser reanimado por Deus para concluir sua missão.
Elias teve medo e fugiu para salvar a vida. Em Berseba de Judá ele deixou o seu servo e entrou no deserto, caminhando um dia. Chegou a um pé de giesta, sentou-se debaixo dele e orou, pedindo a morte: “Já tive o bastante, SENHOR. Tira a minha vida; não sou melhor do que os meus antepassados”. Depois se deitou debaixo da árvore e dormiu. (1 Reis 19.3-5; NVI)
Uma semelhança há nas condutas de Elias e de João Batista: ambos procuraram ajuda quando passaram por seus momentos de dificuldade. Aqueles homens que viveram em épocas diferentes, decidiram ficar com Deus quando estavam enfrentando reis. Enquanto Elias orou (mesmo pedindo para que a sua vida fosse tirada), João Batista enviou mensageiros a Jesus para ouvir da boca do Senhor palavras de confirmação e de conforto. Ou seja, eles conseguiram extrair fé de seus momentos de fraqueza, direcionando adequadamente as fraquezas humanas.
É maravilhoso observar que Deus nos aprova quando compartilhamos com Ele a nossa humanidade! Jesus, após dar sua resposta aos mensageiros de João Batista assim disse, segundo o texto bíblico:
Então ele respondeu aos mensageiros: “Voltem e anunciem a João o que vocês viram e ouviram: os cegos vêem, os aleijados andam, os leprosos são purificados, os surdos ouvem, os mortos são ressuscitados e as boas novas são pregadas aos pobres; e feliz é aquele que não se escandaliza por minha causa”. Depois que os mensageiros de João foram embora, Jesus começou a falar à multidão a respeito de João: “O que vocês foram ver no deserto? Um caniço agitado pelo vento? Ou, o que foram ver? Um homem vestido de roupas finas? Ora, os que vestem roupas esplêndidas e se entregam ao luxo estão nos palácios. Afinal, o que foram ver? Um profeta? Sim, eu lhes digo, e mais que profeta. Este é aquele a respeito de quem está escrito: “'Enviei o meu mensageiro à tua frente; ele preparará o teu caminho diante de ti'. Eu lhes digo que entre os que nasceram de mulher não há ninguém maior do que João; todavia, o menor no Reino de Deus é maior do que ele”. (Evangelho segundo Lucas 7.22-28; NVI)
Prestemos a atenção que Jesus não reprovou João Batista por ter trazido a ele sua dúvida. Pelo contrário! O Senhor o elogiou e o destacou, dizendo que João era “mais do que profeta”, um homem que não estava a procura de oportunismos e de luxo, conforme faziam os dirigentes da nação.
Que nos momentos de fraqueza possamos sempre nos lembrar de Deus e de suas promessas, sabendo que podemos contar com Ele sempre para desabafarmos todos os nossos problemas e temores! Deus nos compreende e conhece todas as nossas emoções. Por isso, nas situações difíceis da vida, precisamos sempre procurá-Lo e não nos fecharmos dentro de nós mesmos sofrendo sozinhos.
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