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sexta-feira, 19 de maio de 2017

Temer deveria ter a dignidade de renunciar




Desde a noite do dia 17, tenho procurado refletir sobre qual a melhor saída para a nova crise política que surgiu no país depois que veio à tona o conteúdo das delações premiadas dor irmãos Joesley e Wesley Batista, donos da JBS S.A. (controladora da marca Friboi). Na última quarta, o jornal O GLOBO noticiou pela primeira vez o que os empresários haviam informado aos investigadores da Operação Lava Jato, causando um enorme terremoto no nosso mundo político.

Nem vou comentar agora o caso indecente do Aécio Neves que, embora tenha sido o segundo colocado na última disputa presidencial, dividindo cada voto com a ex-presidente Dilma Rousseff em 2014, já era considerado uma carta fora do baralho para as eleições de 2018 (atualmente o melhor nome do PSDB seria o prefeito de São Paulo, João Dória). Porém, o que muito me preocupa é a situação do Temer. Ou melhor dizendo, do comando do país daqui para frente, em termos de governabilidade, porque, a partir desta semana, passamos a ter um presidente investigado perante o Supremo Tribunal Federal por causa de gravíssimas acusações sobre uma conversa altamente comprometedora.

Diante de algo tão absurdo e repugnante, em que Joesley chega a dizer a Temer que está "segurando" dois juízes e que tem pessoa "dentro da força tarefa" da Lava Jato passando-lhe informações, o presidente não fez sequer um comentário objetivo sobre essa tentativa de driblar as investigações. Aliás, ele parece mesmo consentir com o dinheiro ilícito que o empresário estava dando ao ex-deputado Eduardo Cunha para este manter o seu silêncio. Senão vejamos o que diz a transcrição das gravações:

Temer: Tem que manter isso, viu... 

Joesley: Todo mês, também, eu estou segurando as pontas, estou indo. Esse processo, eu estou meio enrolado, assim, no processo assim...

Temer: [inaudível]

Joesley: Isso, isso, é, investigado. Eu não tenho ainda a denúncia. Então, aqui eu dei conta de um lado do juiz, dá uma segurada, do outro lado o juiz substituto que é um cara que ficou...

Temer: Está segurando os dois...

Joesley: É, segurando os dois. O, eu consegui um [inaudível] dentro da força tarefa que tá...

Temer: Tá lá...

Joesley: ...Também tá me dando informação. E lá que eu estou para dar conta de trocar o procurador, que está atrás de mim. Se eu der conta tem o lado bom e o lado ruim. O lado bom é que dá uma esfriada até o outro chegar, e tal. O lado ruim é que se vem um cara como...

Tendo em vista a divulgação de notícias tão avassaladoras, como poderá a nação fechar os olhos para fatos que são gravíssimos?!

Poderemos fingir estar tudo indo bem na política brasileira só para mantermos a governabilidade do país e Temer conseguir aprovar as suas reformas na Constituição?!

Como confiar num presidente que recebe em sua residência oficial (Palácio do Jaburu) um corrupto e mantém com ele uma conversa tão cordial, a qual claramente indicia haver um grau de cumplicidade entre ambos?!




A nota da Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República que diz não ter o presidente acreditado na veracidade das declarações do empresário pelo fato do mesmo estar sendo objeto de inquérito "e por isso parecia contar vantagem", parece-me uma defesa frágil. Aliás, o posicionamento chega a ser até uma saída inteligente diante de algo que podemos situar à beira do indefensável.

Na quinta, ao falar sobre o assunto, Temer negou ter pedido a Joesley que ajudasse Cunha e afirmou que irá se manter no cargo: "Não renunciarei. Repito: não renunciarei! Sei o que fiz e sei da correção dos meus atos" (ler AQUI a íntegra do pronunciamento). Porém, nada disso foi suficiente para convencer a opinião pública! Ontem, 25 cidades de 21 estados e mais o Distrito Federal fizeram protestos pela saída do presidente tendo os manifestantes fechado a Avenida Paulista e ocorrido confrontos violentos no Rio de Janeiro. Por sua vez, a Bolsa de Valores travou, tendo caído 8,8%, e empresas perderam R$ 219 bilhões em um único dia.

Com uma popularidade tão baixa e agora com parlamentares ameaçando deixar a base aliada (ontem o PPS saiu o governo mantendo apenas o ministro da defesa), acho dificílimo Temer conseguir se rearticular. Sua insistência ao permanecer no cargo poderá ser mais traumática do que foram os meses do processo de impeachment de Dilma em 2016 já que a situação agora é muito mais séria por envolver fatos que podem ser atribuídos como crimes cometidos no exercício do atual mandato presidencial.

Ainda ontem, o senador Ronaldo Caiado (DEM-GO), líder de seu partido, afirmou que, sem a renúncia, a solução será dar início ao processo de afastamento de Michel Temer. Segundo a opinião do congressista, "diante da recusa dos fatos", o presidente deixar o cargo seria "o gesto que se esperava para minimizar e dar mais celeridade à resolução da crise".




Concordo com o senador! Pois, com Temer renunciando, o país pode virar logo esse momento de indefinições, permitindo que o deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), por ser o presidente da Câmara Federal, assuma interinamente o governo e haja eleições indiretas. Isto porque, de acordo com o artigo 81 da Constituição, como faltam menos de dois anos para o fim do mandato, a eleição seria feita pelos deputados e senadores no prazo de 30 (trinta) dias depois da vacância no cargo. Então, através deste pleito, o país teria a oportunidade de escolher um nome de consenso e totalmente livre das investigações para dar mais tranquilidade ao cenário.

Vale lembrar que, numa eventual eleição indireta, deverão ser definidos os nomes dos novos presidente e novo vice-presidente da República. Quem convocaria a sessão seria o presidente do Congresso Nacional e do Senado, posto que atualmente é ocupado por Eunício Oliveira (PMDB-CE). Para concorrer ao cargo estariam aptos brasileiros natos com mais de 35 anos, devendo ser filiados a partido político e que não se enquadrem em qualquer das restrições da Lei da Ficha Limpa, tipo uma condenação por órgão colegiado, por exemplo.

Assim sendo, espero que o presidente digne-se a renunciar o quanto antes e vejamos dias melhores.

Um ótimo final de semana a todos!


OBS: Créditos autorais da imagem acima atribuídos a Gustavo Lima/Câmara dos Deputados sendo a primeira foto extraída da EBC.

4 comentários:

  1. Opiniões dos parlamentares sobre a posição do presidente ontem em não renunciar: sobre a decisão de Temer, segundo o G1:

    "Cada dia que o Temer permanece à frente do país, vai aprofundar a crise econômica e a instabilidade política. [...] A insistência de Temer de permanecer agarrado no poder tem dois objetivos: primeiro, se proteger das consequências criminais que pesarão contra ele quando ele deixar a Presidência e, segundo, ganhar tempo para conduzir o Congresso a uma eleição indireta em que ele eleja o próximo presidente." - Alessandro Molon (Rede-RJ), deputado

    "A não renúncia tem o sentido da preservação desse guarda-chuva protetor do foro privilegiado. É ruim para o país, agrava a crise. São inevitáveis dois processos. O processo penal no Supremo e o processo de impeachment no Congresso Nacional. A nação continuará sangrando." - Álvaro Dias (PV-PR), senador

    "Faltou grandeza ao presidente Michel Temer de renunciar e refazer o pacto na condução da crise econômica. O PPS está avaliando isso e deve desembarcar do governo." - Arnaldo Jordy (PPS-PA), deputado

    "A bancada do PMDB da Câmara confia na palavra do presidente da República, cujo governo tem feito um esforço enorme para tirar o País da crise econômica. No seu pronunciamento, o presidente Michel Temer defendeu a celeridade das investigações comandadas pelo Supremo Tribunal Federal e deixou claro que irá responder a todos os questionamentos. Neste momento, a Constituição Federal tem de ser nosso guia, a fim de garantir o funcionamento das instituições democráticas em favor do povo."
    Carlos Zarattini (PT-SP), deputado

    "Está comprovado o envolvimento do presidente da República em atos de obstrução da Justiça com o objetivo de afastar qualquer investigação e de eliminar a sua ligação com Eduardo Cunha. Agora, vem o presidente da República fazer um pronunciamento, sem nenhuma possibilidade de contestação da parte dos jornalistas, em que afirma que não vai renunciar. Se nega a colocar o seu cargo à disposição da nação. Um governo que não conseguiu estabelecer nenhuma melhoria para o povo brasileiro. Este presidente da República já passou da hora de ir embora." - Baleia Rossi (PMDB-SP), deputado

    "Acerca dos últimos acontecimentos, o Partido Progressista defende um rápido esclarecimento dos fatos por parte da Justiça, para que o país volte o mais breve possível à normalidade e recupere sua estabilidade política e econômica. O PP reafirma o seu compromisso com o Brasil e acredita que as políticas adotadas pelo atual governo do presidente Michel Temer são necessárias para a retomada e consolidação do crescimento do nosso país." - Ciro Nogueira (PI), senador e presidente do PP

    "Temer vai passar uns dias em agonia e vai colocar o povo em agonia. Temer perdeu a oportunidade de fazer um discurso com menos retórica e mais gesto." - Cristovam Buarque (PPS-DF), senador

    "Em nenhum momento [a base pediu a renúncia], o grupo está fechado. O presidente Temer está indignado e vai enfrentar. Em nenhum momento ele pensou em renúncia. O presidente está muito tranquilo. Esse empresário [Joesley] tentou falar com o presidente uns 60 dias e lhe foi negado. As audiências estão registradas. E em um fim de tarde ele descobriu o telefone do presidente e ligou. O presidente atendeu porque poucos têm o telefone dele e disse que ele podia ir ao Jaburu. E, aí, esse moleque gravou." - Darcísio Perondi (PMDB-RS), deputado

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  2. Continuando...

    "O depoimento que Temer acaba de dar traz uma enorme gravidade, porque, em primeiro lugar, ele diz que se encontrou com o empresário em agenda que não havia sido divulgada pela Presidência da República. [...] É insustentável a presença de Michel Temer à frente da Presidência." - Glauber Braga (PSOL-RJ), deputado

    "O presidente da República faz um pronunciamento ofendendo o povo brasileiro, o Ministério Público e o Judiciário. E leva ao aprofundamento da crise. Não resta alternativa a nós congressistas e ao povo. Plantão no Congresso e nas ruas até o fim deste governo imoral." - Randolfe Rodrigues (Rede-AP), senador

    "O presidente Michel Temer decidiu desafiar a crise. Politicamente, ele já foi julgado. Não tem mais condições de governabilidade. Neste momento grave de crise, ele optou muito mais pela imunidade institucional do que pela realidade que passa o país, com mais de 14 milhões de desempregados [...]. O gesto que se esperava era a renúncia, para dar mais celeridade a uma solução para a crise. No momento em que ele resolve desafiar a crise, não existe outro instrumento que não seja trabalhar o processo de afastamento do presidente." - Ronaldo Caiado (DEM-GO), senador

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  3. Olá, Rodrigo!

    Há qto tempo, não passava por aqui. Você, tb, nunca mais me fez uma visitinha. Verdade? E eu k posto tão poucas vezes!

    Texto bem claro, o seu, mas as pessoas se agarram ao poder, de um jeito que não entendo e ainda mais qdo são detetadas fraudes. Falo de Temer, de Lula e de Dilma, obviamente, embora considere Temer um mal menor.

    Segundo ouvi hoje, a gravação foi adulterada? Será? Não creio que Temer se demita, tem cariz, pke isso era mostrar que está envolvido no processo. Sabe o k penso, Rodrigo? Eu acho que os políticos, em geral, não sabem raciocinar e se não são ainda corruptos, se deixam corromper, qdo se tornam governo. Por que será?

    Os próximos dias irão ser decisivos, mas só a Lei da Força, pode fazer algo pelo seu país.

    Abraço e bom domingo.

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    1. Oi, CÉU.

      Realmente estou lhe devendo uma visita mesmo. Tanto a você como a vários outros blogueiros que costumam vir aqui comentar minhas postagens.

      As gravações envolvendo o Temer, as provas ainda vão ser periciadas para que o Plenário do Supremo Tribunal Federal analise na quarta (25/05) o pedido de suspensão das investigações feito pelo presidente.

      Realmente Temer não vai renunciar porque isso significa que ele irá responder não mais perante a Suprema Corte do país mas, sim, em primeira instância porque terá perdido o direito a foro privilegiado. Logo, ele vai permanecer no cargo mesmo até que ocorra o seu impedimento votado pelo Legislativo ou a Justiça Eleitoral julgue a ação movida contra a chapa Dilma-Temer quanto às acusações de abuso econômico.

      Mas a pergunta que fez diz respeito à natureza humana e à maturidade das pessoas, além da própria mentalidade no que diz respeito ao poder. Muitos políticos não compreendem que estão ocupando um cargo para servir à coletividade. Querem é ser servidos como nos velhos tempos do absolutismo monárquico, como se o poder emanasse deles mesmos e não do povo.

      Por outro lado, existem os interesses de grupos econômicos que desejam parasitar o Estado, enriquecendo-se com o dinheiro público ao invés desses empresários pensarem na possibilidade de lucrar somente com o estabelecimento de uma ordem que propicie o desenvolvimento da economia de mercado. Aliás, a prosperidade de uma nação depende da integridade do próprio sistema político para que este seja fonte de estabilidade permitindo que haja a necessária paz social.

      Realmente a próxima semana deverá ser mesmo decisiva, conforme vier a se comportar a base aliada do governo, e acredito que a melhor saída será conforme a Constituição, aguardando-se um novo processo de impeachment ou o julgamento da Justiça Eleitoral.

      Ótimo domingo pra você também e tudo de bom.

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