O segundo domingo de maio é dedicado em todo o país para se homenagem às mães, sendo considerado também o "segundo Natal do comércio". Porém, é uma data que vem sendo questionada há algum tempo por várias razões enquanto outros a defendem incansavelmente, tendo se tornado até um debate político em nossas casas legislativas.
Confesso não perder muito o meu tempo entrando em discussões tolas sobre a possibilidade de substituição do Dia das Mães por uma data no calendário que prestigie a figura genérica do cuidador pois considero isso levar o radicalismo ao extremo. Tanto pelos defensores da família tradicional quanto pelos que combatem a sua exaltação, como se o convencional fosse impedido de coexistir com as novas variantes que vêm surgindo no meio social: menores criados pelos avós, por tios, por casais homoafetivos, por duas famílias (hipótese da guarda compartilhada de um casal que se separa), ou somente por um dos genitores, etc.
Entretanto, levo em conta os argumentos de que para uma criança órfã possa mesmo ser traumático participar das comemorações do Dia das Mães. Principalmente na fase escolar. Por exemplo, acabei de ler um artigo de opinião no UOL, atribuído à jornalista Bárbara Stefanelli, em que a autora conta que resolveu não mais comemorar a data por faltar a seu filho um pai presente:
"Engraçado, mas precisei ter um filho para decidir não comemorar mais o Dia das Mães. Para mim, celebrar este dia perdeu o sentido, já que sou uma mãe 100% solo e meu filho não terá a mesma festa no Dia dos Pais (...) Eu me tornei mãe de uma maneira totalmente inesperada, no susto mesmo. Conhecia o homem de quem engravidei há apenas três meses e acabei entrando para as estatísticas de mães que criam seus filhos sozinhas (...) Mas uma das queixas mais frequentes que ouvi dessas mulheres é a de que suas crianças ficavam particularmente magoadas no Dia dos Pais, tendo que fazer presentes ou escrever cartinhas no colégio para alguém que não é participativo ou que simplesmente não conhecem. Ainda não encontrei pais solo para conversar, mas imagino que eles também tenham a mesma queixa, de que seus filhos, ainda tão imaturos emocionalmente, se sintam excluídos no Dia das Mães." (trechos extraídos de https://estilo.uol.com.br/gravidez-e-filhos/noticias/redacao/2017/05/14/por-que-eu-resolvi-nao-comemorar-mais-o-dia-das-maes.htm)
Não vou negar que uma criança sem pai e mais ainda sem a companhia da mãe realmente possa se sentir triste numa ocasião festiva como a de hoje. Porém, considero que a orfandade (ou ter genitores ausentes) não deveria ser uma razão para tanto drama a ponto de justificar a abolição do Dia das Mães da nossa cultura atual, desde que saibamos construir um ambiente social mais solidário e inclusivo.
Inspirando-me na literatura bíblica, recordo da vez quando Jesus de Nazaré, estando na cruz e prestes a morrer, aproximou Maria do discípulo que amava com novos laços de filiação e de maternidade. É o que narra sem maiores detalhes o 4º Evangelho cuja autoria a tradição cristã atribui a João assim como a identidade do tal seguidor:
"Perto da cruz de Jesus estavam sua mãe, a irmã dela, Maria, mulher de Clopas, e Maria Madalena. Quando Jesus viu sua mãe ali, e, perto dela, o discípulo a quem ele amava, disse à sua mãe: 'Aí está o seu filho', e ao discípulo: 'Aí está a sua mãe'. Daquela hora em diante, o discípulo a levou para casa." (João 19:25-27; NVI)
Embora essa passagem traga consigo diversos ensinamentos e também questões teológicas acerca do papel de Maria dentro da visão cristã religiosa, considero aí implícita a ideia da família ampliada que até hoje a Igreja não soube como trabalhar direito. Pois, no entender de Jesus, os vínculos entre as pessoas não deveriam se basear no sangue (ou no que chamamos hoje de genética) de maneira que a sua perda como filho, ainda numa idade jovem, poderia ser afetuosamente suprida pela presentificação de seu amado discípulo.
Tenho para mim que a maneira individualista como a família foi concebida acabou trazendo consequências danosas para o convívio social por criar isolamentos e aumentar a solidão das pessoas. Porém, penso também que, se houvesse entre nós um sentimento maior de cuidado de uns para com os outros, fazendo valer o apadrinhamento como um compromisso de amor entre as pessoas, creio que certas perdas seriam mais fáceis de suportar devido à compensação.
Assim sendo, penso inexistir razões para alguém deixar de comemorar esta data das mães, a qual é também um dia para os filhos também. Logo, o mais correto a ser feito é deixarmos de lado qualquer melancolia e aprendermos a receber de braços abertos as novas mães e/ou os novos filhos que a Vida proporciona.
Feliz Dia das Mães!
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