Quase não tenho ouvido nas ruas as músicas dos candidatos a presidente nestas eleições. Também não é para tanto. Nova Friburgo, a cidade onde moro no interior Rio de Janeiro, tem apenas 141.776 eleitores (dados do TRE em 2008), de modo que, por aqui, ainda nem existe o segundo turno nas eleições municipais para prefeito.
Para os friburguenses, pode-se dizer que Brasília é algo meio virtual. E, se eu não tivesse ido até lá escondido de minha família numa manifestação estudantil dos anos 90, quando tinha meus 17 anos, poderia jurar de pés juntos que a capital federal talvez fosse uma lorota tão bem contada quanto a viagem do homem a Lua. Diria que Brasília é uma invenção dos norte-americanos, dos militares ou dos políticos que fingem trabalhar.
Mas falando sério (este país de sério não tem nada), a verdade é que Brasília de fato está muito distante das pequenas cidades brasileiras, uma esfera de poder que de longe interage conosco determinando um expressivo percentual das nossas verbas municipais, sustentando a educação e a saúde de milhões de munícipes. É um ovni pousado sobre o Planalto Central que apenas dita as regras para os caipiras do país sem que seus representantes interajam conosco pessoalmente.
Faz muitos anos que Nova Friburgo não recebe um chefe de Estado. Nos tempos do Império, isto aqui ainda foi um lugar importante. Sim. Dom Pedro II, embora gostasse mais de Petrópolis, veio várias vezes pra cá. É o que nos conta a ilustre historiadora da Universidade Cândido Mendes Janaína Botelho em seu artigo publicado no jornal local A Voz da Serra, revelando um dos segredos do monarca:
“O que tanto fazia D. Pedro II em Nova Friburgo? Há o registro de diversas passagens do Imperador à cidade. De acordo com a ata da Câmara de 1868, Nova Friburgo recebeu a visita de Sua Augusta Majestade Imperial nesse ano. Essa notícia é confirmada pelo jornal O Nova Friburgo, de 1935, onde a princesa Izabel escolheu a Cascata Pinel para oferecer à embaixada chilena uma “festa campesina”, contando com a presença do ilustre imperador, d. Pedro II, e do marido da princesa, o conde d’Eu. Em 18 de dezembro de 1873, d. Pedro II retornaria a Friburgo a convite de Bernardo Clemente Pinto Sobrinho, o segundo barão de Nova Friburgo, para inauguração do prolongamento da Estrada de Ferro Cantagalo, no trecho de Cachoeiras a Friburgo. Já em 1874, a vinda do imperador a Nova Friburgo foi para acompanhar a princesa Izabel em um tratamento à base de hidroterapia em razão de sua suposta infertilidade. Nessa ocasião, veio acompanhado de sua amante, a condessa de Barral, dama de companhia da princesa. Casado com d.Teresa Cristina, o imperador teve um delicado e misterioso romance com a baiana, a condessa de Barral. Numa época de casamentos arranjados, d.Pedro II encontrou a sua “alma gêmea”, como ele relata em seu diário, numa mulher inteligente, despojada, culta e que vivera boa parte de sua vida em Paris. Ficaram todos hospedados no Hotel Leuenroth. D. Pedro II retornaria a Friburgo dois anos depois, em 1876. De acordo com o livro de Alcindo Sodré, Abrindo um cofre, d. Pedro II passou um vasto período em Friburgo, já que em sua correspondência com a condessa de Barral, cita o nome da cidade em diversas ocasiões. Veio a Friburgo possivelmente para tomar as duchas do Instituto Hidroterápico”
Ainda na República, alguns presidentes visitaram a cidade, dentre os quais o populista Getúlio Vargas. Em 1943, ele passou pela serra para inaugurar uma unidade da LBA (Legião Brasileira de Assistência). E temos aqui, numa de nossas principais praças, uma estátua em homenagem a ele e há quem diga que Vargas possa ter se inspirado no estatuto da extinta Sociedade União Beneficente Humanitária dos Operários, fundada em 1894, para implantar algumas normas do seu plano de seguridade social.
No entanto, a verdade é que, nos dias atuais, nenhum dos principais candidatos a presidente veio até aqui pedir votos. Num de meus debates do Orkut com um vereador friburguense candidato a deputado federal pelo PSDB, ameacei dizendo que sairia pelado na Praça Getúlio Vargas se ele conseguisse trazer o José Serra até nós. Isto porque, no ano passado, o ilustre edil havia decidido agraciar o homem forte do seu partido com um título de “Cidadão Friburguense”, apesar de haver tantas outras pessoas na cidade que, anonimamente, desenvolvem um espetacular trabalho social sem nenhum apoio institucional. E, mesmo com tamanha bajulação, Serra nem ao menos veio aqui pessoalmente agradecer a honraria.
Mas fazer coisas ridículas deste tipo ocorre com frequência nas cidades pequenas. Políticos de fora que nem ligam para o município, ou que nem sabe se existimos, constantemente são homenageados por prefeitos e vereadores nessas caras cerimônias patrocinadas pela Câmara Municipal com o dinheiro público. São atitudes medíocres e que chegam a ser até patéticas, as quais não passam de um puxa-saquismo servil ao invés de expressarem uma revolta dos interioranos contra o descaso praticado pelas autoridades do país.
No seu artigo de hoje, intitulado “Como 2012 afeta 2010 nos Municípios”, César Maia, candidato ao Senado pelo DEM, enviou a seguinte mensagem aos seus correspondentes via e-mail:
“Mas essa lógica, projetada para 2012, não funciona. A disputa pelo poder local não terá como pano de fundo a eleição presidencial e a "causa maior". Quando os pré-candidatos a prefeito e a vereador atuam na campanha de 2010, olham para 2012, quanto a que candidatos a deputado estadual, federal e senador, uma vez eleitos, poderão ajudar ou atrapalhar seus projetos. E mesmo, virem a ser seus principais adversários nas eleições a prefeito. Quando um prefeito candidato em 2012 à reeleição, ou um vereador pré-candidato a prefeito, ou o candidato a prefeito que perdeu a eleição em 2008, avaliam o quadro de 2012 e chegam à conclusão que a vitória de um deputado ou senador que tem relações muito próximas e de compromisso político com seu futuro adversário, e que esta poderá fortalecer a esse, como desdobramento passa a apoiar candidaturas fortes capazes de derrotar, hoje, quem apoiará seu adversário amanhã. A lógica de 2010 não prevalece em 2012, e não prevalece desde já. Isso explica porque no Brasil todo surgem, em nível municipal, apoios que parecem cruzados e estranhos quando se tem apenas a eleição de 2010 como parâmetro. Mas quando se inclui na análise a eleição de 2012 e a natural racionalidade em relação a ela, se entende que não são estranhos: são lógicos, necessários e de nada adianta querer alterá-los, pois no dia a dia eleitoral é esse que prevalecerá.”
Se olharmos a coisa por esse ângulo, talvez possamos compreender o show das bajulações de uma outra forma, como um falso palanque armado para atrair os políticos de fora com outras intensões. Ou seja, trata-se de uma esperteza de políticos locais para manipularem os tubarões de fora e serem manipulados.
Em eleições dos anos de Copa do Mundo, como esta de 2010, raramente as cidades pequenas conseguem eleger seus candidatos e todos ficam competindo entre si pra ver quem terá um número maior de votos no mesmo colégio eleitoral numa expectativa de medir o cacife, de modo que suas campanhas não costumam passar das fronteiras do município. Uns não se candidatam, mas resolvem apoiar pessoas de fora com a finalidade de atrapalhar as ambições dos concorrentes nos anos olímpicos, como disse o artigo acima citado. Por esses motivos é que não costumo ouvir muitos carros de som do Serra ou da Dilma por aqui, assim como não tenho o prazer ou desprazer de encontrá-lo na minha cidade.
Peço agora a ajuda aos internautas de São Paulo para que me respondam estas perguntas: Será que o Serra e a Dilma existem de verdade, ou são invenção da TV GLOBO? E o Lula? Existe mesmo? Afinal, em oito anos de mandato, ele nunca pôs os pés aqui...
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