"Os propósitos do coração do homem são águas profundas, mas quem tem discernimento os traz à tona." (Pv 20:5; NVI)
Estava na manhã de ontem lendo o capítulo 20 do livro de Provérbios e me deparei com o intrigante verso 5 citado acima da Nova Versão Internacional. Confesso que achei esse pensamento do escritor bíblico um tanto psicanalítico, tornando-se um excelente convite para uma reflexão mais aprofundada para além dos limites da Teologia.
No texto em análise, o autor sagrado compara metaforicamente os propósitos do "coração" humano às "águas profundas", os quais precisam ser descobertos com muita atenção já que à medida que nos distanciamos da superfície vai faltando luminosidade. E aí, nesse mar de comparações, me veio logo a ideia do quanto é extenso e ao mesmo tempo obscuro o nosso inconsciente.
Não tenho dúvidas que o velho rei Salomão estaria chamando o seu leitor a um autoconhecimento, aplicável, no caso, ao que realmente queremos para as nossas vidas incertas. Em outras palavras, a indagação a ser feita seria qual o nosso propósito pessoal a ser buscado considerando o momento e o planejamento que não podemos deixar de fazer para os anos futuros.
Por mais que esteja limitado às condições do seu ambiente físico, social, político, financeiro, familiar e cultural, o homem (e a mulher também) é dotado de vontades próprias, algo que lhe permite tomar decisões quanto às inúmeras possibilidades de escolha que a vida nos oferece. E, nesses momentos, surge aquela velha pergunta sobre o que realmente queremos ou qual a autêntica realização existencial para cada um de nós.
A psicanálise ensina que vivemos mais no plano do inconsciente do que conscientemente. Muitas das nossas emoções, sentimentos e reações involuntárias brotam daquela parte de nós que desconhecemos, mas que, ainda assim, interage com cada momento do cotidiano. Lá poderão estar escondidos os verdadeiros desejos até hoje desapercebidos, inclusive relacionados aos campos afetivo, profissional e artístico.
Lembro que, há três décadas atrás, quando tinha meus 17 anos e com o avô paterno Sylvio na cidade mineira de Juiz de Fora, fiz um teste vocacional juntamente com os colegas de turma do Instituto Granbery da Igreja Metodista que cursavam comigo o ensino médio, na época ainda chamado de segundo grau. Porém, o resultado do meu exame foi bem incerto de modo que a equipe de psicólogos responsável pelo serviço prestado à escola recomendou que eu fizesse uma terapia, coisa que não fui capaz de aproveitar porque, na época, ainda não estava disposto a mergulhar nas minhas águas profundas.
Lamentavelmente, muitos de nós preferimos mesmo é permanecer na superfície da vida o que facilmente se explica porque, num primeiro momento, nos parece ser mais cômodo, confortável ou conveniente. Contudo, ao agirmos assim, estamos desperdiçando a oportunidade de crescer pessoalmente, de nos conhecermos melhor, fazermos escolhas mais acertadas e, consequentemente, nos tornarmos mais felizes juntamente com os outros ao nosso lado.
Por fim, o escritor de Provérbios fala sobre o uso da inteligência ou do discernimento para descobrirmos os propósitos do coração, qual sabemos ser enganoso como já diagnosticava o sensível profeta Jeremias, podendo o ser humano se equivocar acerca de si mesmo. Daí o tempo que dedicamos temporariamente a uma reflexão sobre o nosso querer (algo hoje roubado pelas distrações das redes sociais) torna-se uma ferramenta poderosa e indispensável nessa busca interminável que todos de alguma maneira fazem, em que podemos avançar, estagnar ou retroceder.
Que na nossa contínua caminhada sejamos capazes de extrair as verdades ocultas no nosso interior e trazê-las para a superfície dos pensamentos cotidianos, transformando tais propósitos em ações eficazes.
Ótima segunda-feira, pessoal!
Nenhum comentário:
Postar um comentário