Após o lamentável confronto de sábado (12/08), na cidade universitária de Charlottesville, no Estado americano de Virgínia, onde militantes de extrema-direita protestavam contra negros, imigrantes, gays e judeus, causando a morte e o ferimento de pessoas, Donald Trump usou a sua conta oficial no Twitter para manifestar-se sobre o ocorrido. Em curtas palavras, assim disse o presidente dos EUA:
"Nós todos devemos estar unidos e condenar tudo o que representa o ódio. Não há lugar para esse tipo de violência na América. Vamos continuar unidos"
Apesar deste posicionamento emitido, Trump foi duramente criticado por não haver nomeado esses grupos especificamente após os confrontos. E, nesta data, a Casa Branca declarou que o presidente, ao condenar todas as formas de "violência, intolerância e ódio", teria incluído "supremacistas brancos, Ku Klux Klan, neonazistas e todos os grupos extremistas".
Refletindo sobre o que aconteceu ontem nos EUA, chego à conclusão de que Trump hoje está colhendo aquilo que plantou durante a sua campanha política em 2016. Isto porque o seu discurso xenófobo e de construção de muros (ao invés de pontes) só tem contribuído para a radicalização de grupos extremistas da sociedade de seu país. E a expectativa criada no inconsciente das pessoas quanto à formação de um mundo ilusório, como se os partidários de Trump pudessem voltar a viver na América desigual de tempos passados, certamente gera um sentimento de frustração que, por sua vez, direciona-se para condutas de violência.
Mas o que nós brasileiros podemos aprender com isso para os dias de hoje?
Ora, tal como os norte-americanos e muitos outros povos, sofremos nestes tempos de uma crise de representação na política nacional onde o eleitor comum já não se identifica com mais nenhum dos principais partidos. Legendas como o PT, o PMDB ou o meu PSDB não significam mais nada para a grande maioria, sendo que várias agremiações já intencionam mudar os nomes de suas siglas. Lula ainda é o forte dentre os fracos pré-candidatos à Presidência, porém existe a possibilidade de que, em 2018, ele acabe indo para o segundo turno com o radical de extrema-direita Jair Bolsonaro.
Devido ao que estamos vivendo na atualidade, é bem possível que, no ano que vem, consiga ganhar o presidenciável que melhor personificar a mudança que o povo tanto deseja tal como foi nas eleições de 1989 e de 2002, respectivamente com Collor e Lula. E aí não podemos descartar o desastre social que pode sobrevir ao Brasil com uma eventual vitória de Bolsonaro, considerando ser hoje muito maior o desgaste institucional do que nas décadas anteriores.
Fato é que, da mesma maneira como Trump precisou despir-se de seu personagem de campanha quando pôs as suas patas na Casa Branca, Bolsonaro terá que fazer o mesmo na hipótese de algum dia subir a rampa do Planalto. Pois, ao invés de ser aquele presidente que irá combater a corrupção, não poderá deixar de fazer acordos para conseguir governar seguindo a velha cartilha do toma-lá-dá-cá. Desagradará com isso os seus apoiadores fascistas da mesma maneira como os movimentos sociais progressistas desaprovarão os retrocessos que ele tentará impor em relação aos índios, quilombolas, mulheres, homossexuais, ambientalistas, ativistas de direitos humanos, trabalhadores da cidade e do campo, etc. Sem contar que choverão ações judiciais questionando a inconstitucionalidade de seus atos no Supremo Tribunal Federal.
E o que o Brasil poderá esperar de Bolsonaro em relação à violência urbana?! Por acaso ele irá pacificar as favelas e eliminar o poder do tráfico nessas comunidades carentes, deixando de combater os motivos que levam tantos jovens para a delinquência?! Fará alguma mágica para corrigir os problemas sociais dessas áreas abandonadas pelo Estado ignorando que a instalação do crime organizado nelas foi fruto de um processo de décadas de degradação?
Verdade é que essas inclinações para o radicalismo não resolvem os nossos problemas, os quais precisam ser encarados com racionalidade e sem fantasiarmos a realidade. Pois um líder que consegue levar o seu povo a compreender as causas e os efeitos é o que poderá conseguir ser bem sucedido mesmo sem inaugurar grandes feitos, mas apenas assumindo o seu papel temporário de gestor da coisa pública.
Sinceramente, gostaria muito que o governo estivesse bem, não houvesse essa crise provocada pela corrupção e um nome íntegro viesse dentre os ministros de Temer para a sucessão de 2018. Ou então, que, na esquerda moderada, surgisse alguém com sensibilidade pelo social, respeito pelas medidas de austeridade e averso à corrupção a fim de tentar equilibrar as coisas no Brasil depois da Lava Jato e da impopular reforma trabalhista aprovada este ano no Congresso.
Talvez, creio eu, que um dos graves erros do nosso eleitor é não querer procurar esse bom gestor que existe mas não aparece entre os principais nomes listados pelos institutos de pesquisa de opinião pública. E, já que os políticos tradicionais não andam lá tão bem estimados, que tal a mídia começar a mostrar quem seriam os profissionais melhor preparados na área de Administração Pública, com conhecimentos sobre Política e reconhecida experiência de trabalho?! Pois será que na USP, na FGV, na UNB, na PUC, ou na UERJ não acharíamos esse cérebro?
Vamos acordar, povo!
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