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sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

Uma corajosa resistência à escravidão dos cativos de Salvador na época imperial



Há exatos 190 anos, mais precisamente na noite de 24 de janeiro de 1835, escravizados em Salvador iniciavam a Revolta dos Malês, considerado o maior levante de cativos da história do Brasil. 

O termo malê era uma designação dada aos negros muçulmanos e tem origem na palavra ìmàle, que significa "muçulmano" na língua iorubá. No entanto, os malês também eram conhecidos como nagôs na Bahia, designação dada aos negros falantes do referido idioma na antiga Costa dos Escravos, hoje parte litoral de Benim, Togo e Nigéria entre os séculos XV e XIX.

Em relação à Bahia, especificamente, a Revolta dos Malês, é tida como a de maior importância, embora não tivesse apenas caráter político e social ou de conquista da liberdade, pois trazia também um caráter religioso muito forte em relação a todas as outras revoltas. Além da liberdade de ir e vir, a revolta tinha como pano de fundo os conflitos político-religiosos enfrentados na África.

Fato é que o levante teve grande ressonância, na década de 1830, quando Salvador contava com cerca de 65.500 habitantes, dos quais 40% eram escravos. Na época, negros, mestiços e afrodescendentes representavam 78% da população, enquanto os brancos não passavam de 22%, sendo que, entre a população escrava, 63% era nascida na África.

Na ocasião, os rebeldes foram para as batalhas vestindo um abadá branco, tipicamente muçulmano, além dos amuletos malês no pescoço e nos bolsos. Alguns deles tinham rezas e passagens do Alcorão.

A revolta estava planejada para acontecer durante o mês sagrado do ramadã. Foi marcada para o dia 25, um domingo, logo pela manhã, quando a maioria da população ia à Igreja do Nosso Senhor do Bonfim, deixando o centro da cidade vazio.

No entanto, a revolta não correu como planejado sendo que, na tarde do dia anterior ao da batalha, surgiram rumores de que escravos iriam realizar uma revolta. Um pouco mais tarde, ainda no dia 24, às dez horas da noite, o prefeito de Salvador, Francisco de Souza Martins, recebeu uma denúncia anônima sobre a revolta e enviou um aviso ao então chefe da polícia, Francisco Gonçalves, dizendo para fazer a ronda em todos os distritos da cidade com patrulhas dobradas.

Assim sendo, o levante acabou em menos de vinte e quatro horas devido à ação das forças policiais numa repressão brutal. Os rebeldes que sobreviveram sofreram diversos tipos de penas, que foram variadas dentre as quais a deportação forçada à África (para libertos que estavam presos como suspeitos, mas que a polícia não tinha prova concreta para detê-los) e dezesseis condenações à morte, embora apenas quatro tenham sido de fato executadas pelo pelotão de fuzilamento no Campo da Pólvora, no dia 14 de maio de 1835.

De qualquer modo, a revolta funcionou como um espelho para o restante de escravos no Brasil, desencadeando outros conflitos. Mesmo sem ganhar e sem alcançar seus objetivos, os malês ameaçaram a estrutura social da época.

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