Páginas

quinta-feira, 30 de janeiro de 2025

De que temos saudades?



Sabiam que hoje, 30 de janeiro, é considerado o Dia da Saudade?!


De que ou você sente saudades?


Pois tenho saudades de quando éramos um povo menos radicalizado, mesmo quando nos chamavam do "país do Carnaval" em que "tudo se acabava em samba". Saudades da época quando as ruas e as casas eram mais enfeitadas para o Natal e pro Mundial com muros e calçadas pintados de um verde e amarelo da união, o povo torcia pela seleção e não havia nenhuma conotação fascista no uso da camisa da CBF. Dos tempos quando comer ou distribuir doces de São Cosme e São Damião não era tão cerceado como "pecado" pelos que se acham donos de Deus. 


Sinto saudades de quando a internet não estava tão presente nas nossas vidas e podíamos conviver, conversar e nos falar mais porque tudo corria mais devagar e o tempo sobrava ainda que passássemos por horas de tédio sem termos esse aparelho pra nos distrair com inutilidades ou escravizar diante das coisas do nosso trabalho. Saudades de quando o povo ia mais às ruas protestar ao invés de se esconder atrás de um celular ou de um computador nas ditas redes sociais. 


Saudades de quando o sonho de muitos brasileiros era poder escolher diretamente seus governantes pelo voto ao invés de pedir intervenção militar só porque o candidato deles perdeu a eleição pro adversário. Saudades de quando a política brasileira foi polarizada entre PT e PSDB ao invés de termos que enfrentar o fascismo em pleno século XXI. De quando o nazismo era algo repudiado na nossa sociedade assim como muitos desejavam ver a quebra do vergonhoso muro de Berlim, o fim das cortinas de ferro e da guerra fria na expectativa de uma nova ordem global democrática. 


Saudades de quando o brasileiro foi capaz de chorar a morte do Tancredo ao invés de fazer memes ridículos no Whatsapp como se estivesse comemorando a morte de um político. 


Saudades de quando o Brasil tinha uma proporção maior de crianças, a audiência da TV na manhã era voltada para elas, a Xuxa era tão festejada e, em dezembro, era a maior sensação ver o Papai Noel descer de helicóptero no Maracanã. 


Saudades de quando os cantores e artistas eram mais estimados, ninguém ficava atacando o Gil, o Caetano ou o Chico e, se alguém fosse ouvir música, não seriam essas coisas horríveis que temos visto por aí com apologia às drogas, pornografia, desvalorização da mulher chamada de "cachorra", etc. 


Saudades de quando Israel tinha um primeiro ministro que apertou a mão só presidente da OLP e do rei da Jordânia com a ajuda de um grande democrata americano. 


Enfim, tenho saudades das coisas boas que vi, gostei ou experimentei sem ter até dado importância, mas que hoje dou muito valor. 


Talvez tudo isso tenha sido parte do meu mundo e nada seja eterno. Afinal, nem nós e nem o meio em que estamos são os mesmos no dia seguinte, porém essa seleção que fazemos do nosso passado creio que, talvez, ajude a pensar num amanhã melhor. Até porque o passado também teve suas coisas más e, sem que eu percebesse, pessoas eram perseguidas numa ditadura, mulheres não tinham tantas maneiras de se defender da violência doméstica, minorias eram invisibilizadas e o racismo estrutural estava firme e forte enquanto muitos se iludiam achando que o Brasil fosse uma "democracia racial".


De qualquer maneira, faz parte de cada um de nós sentir saudades e acho esse sentimento sempre nos ajuda a viver.

Nenhum comentário:

Postar um comentário