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terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Nossa primeira revolta camponesa às vésperas do Natal de 1856...



Há exatos 168 anos, mais precisamente em 24 de dezembro de 1856, imigrantes europeus no então Império brasileiro, que haviam se estabelecido como trabalhadores rurais neste país, lutaram na Revolta de Ibicaba

Também chamada "Revolta dos Parceiros" ou "Revolta dos Imigrantes", a rebelião dos trabalhadores estrangeiros ocorreu na Fazenda Ibicaba, em Limeira, na então Província de São Paulo, às vésperas do Natal, contra a exploração do trabalho pelos senhores brasileiros, os quais haviam optado pelo sistema de parcerias em substituição à escravidão. Já adaptados à exploração do trabalho escravo, os senhores de engenho brasileiros reproduziam o comportamento autoritário com o trabalhador, tentando lhes extrair o máximo, em uma situação que lembrava o trabalho escravo. 

Diante disso, os imigrantes da principal propriedade do senador Vergueiro, a Fazenda Ibicaba, se revoltaram, sob a orientação de Thomas Davatz, um líder religioso suíço, que fez crescer naqueles trabalhadores a ambição de se tornarem pequenos ou médios proprietários, como imaginavam ser quando deixaram a Europa. 

A revolta ganharia grande repercussão, forçando o Império do Brasil a rever as relações trabalhistas. Porém, mudanças individuais, como a qualidade de vida direta daqueles imigrantes ou o direito a uma propriedade, entretanto, não ocorreram. 

Coletivamente, a revolta atuou para uma grande mobilização a fim de regularizar o trabalho nos engenhos. E, internacionalmente, o evento também repercutiu a ponto da Prússia ter proibido a emigração de trabalhadores para o Brasil enquanto a Suíça mandou um inspetor daquele país para analisar a real situação dos imigrantes, o qual retornou à Europa com a saúde frágil. 

Davatz tentou publicar o relato sobre a revolta em seu ensaio "O tratamento dos colonos na Província de São Paulo no Brasil e seu levante contra os seus opressores" tendo sido o livro publicado no país em 1951, sob o título "Memórias de um colono no Brasil", de tradução de Sérgio Buarque de Holanda. Antes, contudo, em 1933, Mário de Andrade havia selecionado o relato como uma das vinte obras fundamentais sobre o Brasil, por se tratar do "primeiro livro especificamente de luta de classes e reivindicações proletárias no Brasil".

Apesar de ser pouco contado, talvez por sua coincidência com as comemorações natalinas, esse episódio da história brasileira pode ser considerada a nossa primeira revolta camponesa contra a exploração do trabalho assalariado.

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