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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Uma profecia revelada às mulheres que acompanharam Jesus



"Seguia-o numerosa multidão de povo, e também mulheres que batiam no peito e o lamentavam. Porém Jesus, voltando-se para elas, disse: Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai, antes, por vós mesmas e por vossos filhos! Porque dias virão em que se dirá: Bem-aventuradas as estéreis, que não geraram, nem amamentaram. Nesses dias, dirão aos montes: Caí sobre nós! E aos outeiros: Cobri-nos! Porque, se em lenho verde fazem isso, que será no lenho seco?" (Evangelho de Lucas, capítulo 23, versículos de 27 a 31; versão e tradução ARA)

Com exclusividade o 3º Evangelho relata que uma "numerosa multidão", na qual se inclui a presença de mulheres, teria acompanhado o nosso Senhor em sua caminhada rumo ao Calvário. Se no julgamento perante Pilatos houve um grupo (organizado?) pedindo a soltura de Barrabás e a crucificação do Mestre (Lc 23:18-21), o texto de Lucas nos leva a refletir sobre a possibilidade de ter sido muito maior a quantidade de gente que apoiava o Salvador.

Esta passagem bíblica acima citada, além de contribuir para afastar a preconceituosa ideia anti-semita de que o povo judeu foi o responsável pela morte de Jesus, chama também a minha atenção pela corajosa participação feminina naquele agonizante momento difícil. Foram elas, e não os doze apóstolos, quem nos ensinam aqui acerca da verdadeira natureza do discipulado de Cristo. Junto com o Senhor, as "filhas de Jerusalém" seguiram também para a cruz.

Ao vê-las se lamentando, Jesus piedosamente lhes falou sobre acontecimentos futuros, os quais vieram a se cumprir algumas décadas depois de seu martírio quando os romanos destruíram Jerusalém e o Templo Sagrado no ano 70 da nossa era. Como profeta, nosso Senhor tinha uma percepção mais sensível da História e de seus processos, prevendo as consequências da rejeição pela paz quando uma sociedade, ou parte dela, opta por trilhar pelo caminho da rebelião violenta (Lc 19:41-44), como cheguei a abordar no artigo Um messianismo humilde e pacífico. Podemos dizer que a escolha daqueles que preferiram a Barrabás do que Jesus demonstrou como estava se comportando um grupo social que, conforme previsto no Monte das Oliveiras, acabou causando guerras e divisões

O dito proverbial do verso 31, o qual fala metaforicamente de lenho verde e de lenho seco (quanto ao fogo que é acendido na madeira), tanto pode significar que a crueldade dos romanos seria muito maior no futuro como também o autor estaria se referindo à conduta dos revoltosos entre o próprio povo. Nesses momentos angustiosos, os quais se aproximavam, certamente há grupos de pessoas que se tornam os mais vulneráveis ainda que não sejam eles os causadores das rebeliões. Entre os refugiados de guerra, as grávidas e as mães com criança de colo em idade de amamentação seriam, por exemplo, as pessoas que mais sofrem (Lc 21:23), o que também podemos dizer em relação aos idosos, aos deficientes físicos e aos portadores de doenças graves.

Num país como o nosso que, há mais de um século, não enfrenta uma guerra em seu território (o último grande conflito bélico do Brasil foi a Guerra do Paraguai entre 1864 e 1870), poucas pessoas conhecem tal realidade. Porém, se nos colocarmos no lugar de nossos irmãos e irmãs que hoje vivem na Síria governada pelo ditador Bashar al-Assad, e onde há facções islâmicas radicais entre os rebeldes, conseguiremos compreender um pouco melhor o recado de Jesus para as suas seguidoras de Jerusalém. Pode-se afirmar que as guerras judaicas dos séculos I e II guardam muita semelhança com essa onda de revoltas no Oriente Médio onde se vê um opressor contra outro opressor lutando pelo poder.

Recordo que, nos meses de junho e de julho deste ano de 2013, quando assisti pela TV os vândalos quebrando tudo nas principais cidades do nosso país, durante os protestos políticos, lamentei por ver tanta insanidade. Tratava-se de uma extrapolação desnecessária capaz de por em risco a tranquilidade, a paz e a liberdade das pessoas. Sem dúvida que condutas assim constituem uma grave ameaça para uma democracia tão duramente conquistada sem representar o posicionamento da maioria de uma nação que é predominantemente pacífica. E, tal como o povo de Jerusalém no Calvário (23:35), o brasileiro também ficou a observar os acontecimentos naqueles dias.

Finalmente cabe aqui mais uma reflexão acerca desta passagem. Jesus revelou às mulheres sobre o futuro que aguardava a sua geração. Muitas ali já deveriam ser mães ou ainda gerariam filhos homens, os quais iriam acabar se deparando com as revoltas que de fato ocorreram em cerca de quarenta anos após a morte do Senhor. Contudo, seriam elas as educadoras daquelas crianças que um dia cresceriam num mundo de valores masculinos onde lutas, nacionalismos e vinganças são estimuladas. Assim, tal alerta nos chama a atenção para o importante papel materno na formação ética do ser humano

Até que o Reino de Deus seja plenificado, a velha história de guerras e de revoluções armadas ainda tende a se repetir outras vezes. Por isso, precisamos anunciar com maior determinação o transformador Evangelho da paz, orando sem cessar pelo bem estar de nossa nação afim de que os olhos espirituais de todos sejam abertos. Como mãe da humanidade, a Igreja de Cristo deve cumprir com o seu papel ético-educativo ensinando aos jovens as maneiras corretas de solução dos conflitos em que a diálogo transigente não pode deixar de ser a via eleita.

Que possamos promover a paz!


OBS: A ilustração acima refere-se a um quadro do artista italiano Rafael Sanzio (1483 – 1520), o qual nos mostra a presença piedosa das mulheres enquanto Jesus estava carregando a cruz rumo ao Calvário. Foi extraída do acervo virtual da Wikipédia conforme consta em http://en.wikipedia.org/wiki/File:Christ_Falling_on_the_Way_to_Calvary_-_Raphael.jpg

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