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sexta-feira, 8 de setembro de 2023

Um importante feriado para Mangaratiba



Hoje, dia 08/09, Mangaratiba comemora os festejos de sua padroeira, Nossa Senhora da Guia, nome também da igreja matriz, situada no Centro da cidade. Trata-se de um feriado municipal que ocorre na data seguinte à Independência.


Inegavelmente, temos no Município um verdadeiro patrimônio histórico e arquitetônico do período colonial e que ajuda a explicar as origens do povoamento da cidade tendo a padroeira uma ligação muito forte com as atividades dos pescadores de uma localidade litorânea, os quais se aventuravam no mar em busca do sustento de suas famílias.


Como se sabe, a colonização da região onde se situa Mangaratiba iniciou no século XVII, por volta de 1620, quando Martim de Sá, trouxe de Porto Seguro, na Bahia, grupos de tupiniquins (possivelmente já catequizados), objetivando implantar aldeamentos na região no lugar dos adversários dos portugueses, os tamoios. Os primeiros assentamentos teriam sido na Ilha da Marambaia e na Praia de São Brás, sendo que, no século XVII, os indígenas construíram uma capela dedicada ao culto de Nossa Senhora da Guia, em local onde hoje é a sede do município. Em 16 de janeiro de 1764, houve a elevação de Mangaratiba à Freguesia, embora só tenha conquistado a sua emancipação administrativa em 11 de novembro de 1831, já no período imperial, quando o arraial alcançou a categoria de Vila, com a denominação de "Nossa Senhora da Guia de Mangaratiba".


Contudo, foi ainda no final da era colonial que a histórica igreja ganhou a sua característica atual adornada com azulejos portugueses. No ano de 1785, o Padre Salvador Francisco da Nóbrega, iniciou a reconstrução ou reforma da Igreja Nossa Senhora da Guia. E as obras só foram concluídas dez anos depois, em 1795, pelo Padre Joaquim José da Silva Feijó.


Importante dizer que a matriz foi construída em alvenaria e cal. Seu porte é pequeno, com paredes cujas bases têm espessura de 80 centímetros a um metro sendo que, no pavimento superior, há uma redução para medidas entre 60 e 40 centímetros. Já a torre do sino, localizada à direita, é revestida de azulejos portugueses semi-industriais, provavelmente do século XIX.


Trata-se também de uma construção de nave única retangular forrada de lambri de madeira. Seu altar mor possui talhas douradas, quatro colunas ornadas com folhas de acanto, ladeando o nicho com a imagem de Nossa Senhora da Guia esculpida em madeira. O estilo é o do final do Barroco e início do Rococó, embora o piso seja revestido de ladrilhos hidráulicos, talvez do início do século XX.


Pode-se dizer que essa reinauguração da igreja em 1795 é considerada como um marco importante na história do Município. Pois, algumas décadas antes da elevação à categoria de Vila, Mangaratiba já tinha deixado de ser um humilde aldeamento tupiniquim passando a ter suntuosos casarões da então oligarquia rural que passou a obter vultosos lucros com o ciclo do café cultivado no Vale do Paraíba, incluindo o hediondo tráfico de escravos, em razão das atividades portuárias.


Entretanto, pode-se dizer que, até o tempo da emancipação de Mangaratiba, suas florestas originais ainda se encontravam de pé, o que deve ter chamado a atenção do estudioso Charles Darwin (1809 - 1882) quando passou por aqui a bordo do Beagle e visitou a área rural de Ingaíba. E tal cenário foi muito bem retratado na célebre pintura do alemão Johann Moritz Rugendas (1802 - 1858), em sua pitoresca viagem ao Brasil. Isto porque os tupiniquins, mesmo substituindo os antigos tamoios, sempre preservaram a natureza, mas acabaram sendo gradualmente expulsos pelas famílias ricas que vieram morar em Nossa Senhora da Guia de Mangaratiba.


Por muitos anos Mangaratiba continuou crescendo às custas do desmatamento e do trabalho escravo até amargar os seus anos mais decadentes no final do século XIX, quando houve a abolição da escravatura e as ferrovias transportavam para o Rio de Janeiro a colheita do café. Tanto é que o Município só encontrou um novo rumo em sua economia com a chegada do trem em 1914, cujos trilhos nos trouxeram turistas, conduzindo para a capital banana e pescado.


Felizmente, a construção de 228 anos da nossa velha matriz, tombada pelo IPHAN desde 1967, permanece razoavelmente preservada, apesar do seu conjunto arquitetônico estar descaracterizado já que a quadra esportiva, o posto de gasolina, a fiação aérea e outras edificações mais recentes destoam da arquitetura antiga, Porém, acredito que, no futuro, poderemos eleger um governo local capaz de dar mais valor à História do Município do que a atual gestão que apenas cumpriu com a sua obrigação quando restaurou o cruzeiro de pedra.


Em todo caso, celebremos hoje esse importante feriado de Mangaratiba cujas comemorações, mesmo sendo de origem religiosa, ganham uma notável importância para o turismo e, portanto,  precisam ser valorizadas. Inclusive, só o fato da data de 08/09 suceder o Dia da Independência do Brasil deve ser motivo de sobra para que sejamos capazes de atrair mais visitantes para o Município nessa época, programando festivais gastronômicos, além da oportuna apresentação de bandas.





Viva a igreja de Nossa Senhora da Guia! 


Viva o patrimônio histórico!


Viva o desenvolvimento do turismo no Município!

2 comentários:

  1. Parabéns Dr Rodrigo pelo brilhante texto. De fato preservar e zelar pelo nosso patrimônio (artístico, cultural, histórico e arquitetônico) é dever de todos os brasileiros e brasileiras inclusive órgãos e instituições públicas e privadas. Um abraço amigo.

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    1. Obrigado, César, pela leitura e o comentário. Torço para que esse importante patrimônio seja sempre preservado e melhor aproveitado. Forte abraço e uma excelente semana!

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