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sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Brasil, terras raras e o futuro industrial

 


"Nós não vamos ser exportadores dos minerais críticos. Se quiser, vai ter que industrializar no nosso pais para que o nosso pais possa ganhar esse dinheiro" (Lula)


O Brasil pode estar diante de uma grande virada estratégica. Com reservas expressivas de terras raras — minerais essenciais para baterias, eletrônicos, semicondutores e tecnologias de energia — o país tem uma oportunidade rara de transformar riqueza natural em desenvolvimento tecnológico. A recente aproximação com os Estados Unidos traz no horizonte a possibilidade de um acordo bilateral com potenciais impactos profundos no futuro industrial brasileiro.


🌱 O que são terras raras — e por que importam?

As chamadas “terras raras” não são tão raras assim — são apenas difíceis de extrair e processar. Elas são fundamentais na composição de ímãs permanentes, baterias de alto desempenho, componentes de semicondutores, motores elétricos, turbinas, eletrônicos sofisticados, entre outros. Quem controla o processamento destes minerais controla parte estratégica da tecnologia mundial.

Hoje, grande parte da extração de terras raras do Brasil está voltada à exportação de concentrados, muitas vezes para a China — cujo polo industrial domina a cadeia global. Isso gera receita, mas pouco valor agregado para o Brasil: os grandes lucros da cadeia tecnológica acabam fora do país.


🇧🇷🤝🇺🇸 A proposta de acordo Brasil–EUA: o que há de novo

Fontes recentes indicam que os Estados Unidos estariam avaliando acordos com o Brasil para garantir acesso seguro a terras raras — ao mesmo tempo em que oferecem investimentos que podem viabilizar a indústria nacional. Em teoria, o acordo poderia contemplar:


  • financiamento e apoio à construção de refinarias e fábricas de processamento de terras raras no Brasil;
  • incentivos e transferência tecnológica para que empresas brasileiras fabriquem baterias, componentes eletrônicos e semicondutores;
  • compromissos de compra de longo prazo por parte dos EUA, garantindo demanda estável;
  • parcerias público-privadas e privadas internacionais para viabilizar produção em escala competitiva.


Se for bem estruturado, esse acordo pode transformar o Brasil de um mero exportador de matérias-primas em um player global na produção de componentes estratégicos.


🔧 Por que esse caminho pode acelerar a industrialização


  1. Valor agregado local: Em vez de vender apenas o minério, o Brasil poderia produzir baterias, módulos, componentes tecnológicos — agregando valor aqui dentro, gerando empregos qualificados e estimulando inovação.
  2. Diversificação econômica e tecnológica: A criação de uma cadeia integrada permitiria que o país se tornasse menos dependente de commodities voláteis e mais competitivo em tecnologia, com vínculo global mais estável.
  3. Inovação e soberania tecnológica: Com P&D local, o Brasil poderia desenvolver aplicações próprias, competir internacionalmente e reduzir vulnerabilidades frente a crises externas.


⚠️ Riscos diplomáticos: o que muda na relação com a China

Não é segredo: historicamente, a China tem sido o maior destino das exportações brasileiras de minerais e concentrados — inclusive terras raras. Um movimento claro para privilegiar acordos com os EUA e parceiros ocidentais pode ter consequências:


  • a China poderia retaliar com restrições comerciais ou reduzir investimentos em outros setores brasileiros;
  • haveria risco de “esfriar” relações diplomáticas e econômicas, numa época em que o país asiático procura consolidar parcerias na América Latina;
  • é possível que o Brasil assuma pressões geopolíticas: alinhar-se com EUA pode significar ficar refém de tensões globais (como rivalidades EUA-China).


Por isso, é essencial que o Brasil construa o acordo com equilíbrio: não abandonar a China, mas diversificar parceiros — de modo a não depender de uma única grande potência.


🌿 Compensações ambientais: um requisito inescapável

Mineração e processamento de terras raras podem causar danos ambientais graves: desmatamento, poluição de solos e água, impactos a comunidades locais. Para que o acordo Brasil–EUA (ou qualquer outro) seja justo e sustentável, é indispensável:


  • licenciamento ambiental rigoroso, com participação das comunidades tradicionais e povos locais;
  • estudos de impacto e plano de gestão ambiental, garantindo recuperação do solo, reuso/reciclagem de resíduos, controle de efluentes;
  • transparência e fiscalização social e pública durante todas as fases: extração, refino, produção.
  • benefícios sociais e econômicos para populações afetadas, como geração de empregos, infraestrutura, saúde e educação.


Somente com essas garantias o Brasil poderá transformar seus recursos naturais em desenvolvimento de longo prazo — sem repetir erros do passado.


📌 Conclusão: uma aposta estratégica com responsabilidade

O cenário presente — reservas de terras raras + interesse internacional + urgência de industrialização — cria uma oportunidade histórica para o Brasil. Porém, esse avanço só será positivo se vier acompanhado de compromisso com valor agregado, soberania, diversificação diplomática e responsabilidade socioambiental.

Um possível acordo com os Estados Unidos pode abrir as portas para fábricas de baterias, semicondutores e tecnologias de ponta no Brasil — se for bem negociado. O desafio é grande, os riscos são reais, mas o payoff de longo prazo pode redefinir o papel do país no mapa global da tecnologia e da indústria.

O Brasil precisa deixar de ser fornecedor para virar protagonista!

Trabalhar até mais velho exige trabalhar melhor — Por que reduzir a escala (4×3) é uma urgência social e econômica



A proposta de pôr fim à escala 6×1 e avançar para modelos como a jornada 4×3 (36 horas semanais distribuídas em quatro dias de trabalho e três de folga) deixou de ser considerado um "devaneio ideológico" para entrar no centro de três debates públicos intimamente conectados: (1) saúde e qualidade de vida do trabalhador; (2) sustentabilidade do mercado de trabalho diante do aumento da idade de aposentadoria; e (3) risco fiscal e operacional para empresas e entes públicos. Neste artigo de opinião eu defendo que reduzir a escala é uma condição necessária para compatibilizar a exigência — cada vez mais provável — de trabalhar por mais anos com a preservação da saúde, da produtividade e da justiça social. Ao mesmo tempo, descrevo sobre ter regras de transição e salvaguardas para empresas e prefeituras, e fundo o argumento com evidências e posições políticas já públicas.


1. Por que a redução da escala é parte da solução quando a aposentadoria aumenta

Se o pacto social passar a exigir que, nas décadas futuras, o cidadão trabalhe até os 70–72 anos, não é razoável manter inalterado o desenho da jornada de meia-idade: a forma e a intensidade do trabalho ao longo da vida passam a ser determinantes da capacidade de o trabalhador chegar à aposentadoria em condições de saúde e empregabilidade. Trabalhar “6 dias por 1 de folga” por décadas produz desgaste físico e mental acumulado — mais faltas, mais afastamentos por doença e maior rotatividade — custos que recaem sobre o próprio empregador, o sistema de saúde e a Previdência. Reduzir a jornada e aumentar o descanso semanal diminui esse desgaste e torna crível a ideia de prolongar a vida ativa sem sacrificar a dignidade nem gerar custo social maior no futuro.


2. Evidências internacionais: a redução da jornada funciona (bem-estar e produtividade)

Os experimentos e pilotos globais não apenas atestam a viabilidade da semana reduzida: mostram ganhos concretos em saúde, retenção de trabalhadores e, em muitos casos, produtividade estável ou até maior.


  • No Reino Unido, o programa-piloto coordenado por organizações como 4 Day Week Global e pesquisadores acadêmicos reuniu dezenas de empresas e quase 3.000 trabalhadores; os resultados apontaram melhora significativa em indicadores de saúde mental, redução de burnout e queda do absentismo, com alta parcela das empresas decidindo manter o modelo.
  • Na Islândia, estudos envolvendo cerca de 2.500 trabalhadores demonstraram que a redução do tempo de trabalho trouxe ganhos de bem-estar e manutenção ou aumento da produtividade nos locais avaliados.
  • Experimentos empresariais como o da Microsoft no Japão mostraram aumentos relevantes de produtividade e forte melhora no equilíbrio vida-trabalho quando o modelo foi bem desenhado.


Esses achados — repetidos em países e setores diversos — reforçam que a redução não é, necessariamente, sinônimo de perda de produção: é um convite à reorganização inteligente do tempo e dos processos.


3. Benefícios concretos para a saúde física e mental e para as famílias

A literatura e os relatórios dos pilotos trazem efeitos consistentes:


  • queda do estresse e do burnout;
  • redução do absentismo e de licenças médicas;
  • melhora no sono e na capacidade de recuperação;
  • mais tempo para cuidados familiares (importante para trabalhadores que cuidam de filhos ou de idosos);
  • impacto positivo sobre saúde cardiovascular, distúrbios do sono e depressão — fatores que, a longo prazo, reduzem custos médicos e afastamentos.


Organismos técnicos que estudam saúde do trabalho no Brasil e no mundo indicam que a reorganização do tempo de trabalho deve caminhar junto com a proteção contra intensificação do trabalho (isto é: redução de horas sem ampliar a pressão por produtividade por minuto). No Brasil, Fundacentro e outras entidades defendem que a redução da jornada precisa ser implementada sem “intensificação” e com garantias de criação de empregos e manutenção salarial.


4. Políticos, sindicatos e empresários: posições em confronto e os pontos de convergência possíveis

O debate no Brasil reúne diferentes atores:


  • Setor político e proposições constitucionais: há proposições em tramitação que propõem a redução formal da jornada — por exemplo, propostas como a PEC 8/2025 (redução da jornada para quatro dias por semana) e a PEC 148/2015 (redução gradual para 36 horas). Parlamentares e alguns ministros manifestaram apoio ao debate.
  • Centrais sindicais e movimentos trabalhistas: parte da representação dos trabalhadores defende o fim da escala 6×1 e a adoção de jornadas com mais folga, em geral exigindo manutenção salarial e negociação coletiva ampla; por outro lado, há centrais mais cautelosas que temem demissões em atividades que dependem de turnos.
  • Entidades patronais (CNI, CNC, federações regionais): criticam a imposição legal de redução abrupta, alertando para impactos na competitividade, aumento de custos e riscos para pequenas empresas; pedem negociação setorial e transição.


Há, portanto, resistência do empresariado e receios sindicais em setores específicos, mas também uma maioria social favorável (pesquisas mostram apoio popular à agenda). A política pública sensata deve, por isso, conciliar: direito ao descanso e proteção da saúde + mecanismos de transição e compensação para setores e municípios mais vulneráveis.


5. Como proteger empresas e entes públicos (regras de transição e salvaguardas viáveis)

Uma redução de escala generalizada pode ser justa — desde que bem desenhada. Proponho um conjunto de medidas e mecanismos práticos compatíveis com o que já foi debatido em audiências e no Congresso:


A. Redução gradual com metas e prazos

Em vez de impor um corte imediato, definir fases (ex.: 44→40→38→36 horas em 3–5 anos) para que empresas, cadeias de produção e entes públicos adaptem organização, contratações e tecnologia. Esse modelo já consta em propostas de redução gradual.


B. Pilotos setoriais e incentivos para “empresas-pioneiras”

Financiar e apoiar programas nacionais de pilotagem (como já feito no exterior) que incluam apoio técnico, avaliação e compartilhamento de boas práticas. Empresas que comprovarem ganhos poderiam receber benefícios (capacitação, linhas de crédito específicas, prêmios de produtividade).


C. Regras específicas para micro e pequenas empresas

Criar período de transição mais longo e instrumentos fiscais e creditícios (linhas de crédito, diferimento de encargos) para as micro e pequenas empresas que precisarem ajustar a operação.


D. No setor público e municípios: mecanismos compatíveis com a LRF

A preocupação municipal é legítima: a LRF limita gastos com pessoal (percentuais sobre a RCL) e muitos municípios já trabalham próximos aos tetos. As alternativas práticas incluem:


  1. Transição gradual para servidores e adoção de regimes diferenciados por tipo de serviço (priorizando, por exemplo, áreas administrativas para início);
  2. Redução de horas extras e reprogramação de turnos para neutralizar impacto financeiro;
  3. Pilotos e estudos de impacto fiscal antes de qualquer mudança ampla;
  4. Negociação coletiva com cláusulas de proteção e contrapartidas;
  5. Articulação federativa (CNM/União/Estado): pleitear mecanismo legislativo temporário ou fundos de transição caso a redução seja nacional e obrigatória, evitando que municípios ultrapassem tetos da LRF sem meios de compensação. Essas medidas são as defendidas por associações municipalistas e por técnicos de finanças públicas.


E. Salvaguardas fiscais e cláusulas-gatilho

Se adotada uma transição que envolva aumento temporário de gasto (por exemplo, para viabilizar contratações), a lei pode prever cláusulas-gatilho: se a arrecadação cair X% o retorno automático ao limite anterior ocorre, ou medidas de ajuste imediato são ativadas. Transparência e auditoria por Tribunais de Contas diminuem risco de má gestão e melhoram a percepção externa.


6. E os mercados? Risco de “sinal negativo” — como minimizar

Alterações que elevem gastos com pessoal — sobretudo em entes que tomam empréstimos — são observadas por agências e credores. Por isso é fundamental combinar mudança trabalhista com:


  • Plano de transição fiscal claro, com indicadores, metas de retorno e prazos;
  • Mecanismos temporários de compensação (fundos, transferências condicionadas), se a mudança for nacional;
  • Medidas de produtividade e redução de custos (menos horas extras, digitalização) para reduzir a necessidade de aumento estrutural do quadro.


Se bem desenhado e transparente, o mercado tende a precificar o risco de forma menos adversa do que diante de um aumento permanente e imprevisível de gasto — a diferença está no plano e na previsibilidade.


7. Relação entre redução da escala e a reforma da Previdência (por que um complementa o outro)

A reforma das regras de aposentadoria que aumenta idades-limite poderá viabilizar uma contrapartida social futuramente: aumentar o número de anos trabalhados sem acomodar as condições de trabalho é injusto e contraproducente. A redução do desgaste acumulado por meio de jornadas menos intensas pode:


  • Diminuir a prevalência de afastamentos por doença e, portanto, reduzir pressões sobre benefícios por incapacidade;
  • Manter o trabalhador mais empregável por mais tempo, reduzindo custo fiscal com benefícios e com políticas de reinserção;
  • Distribuir o trabalho (se houver criação de vagas para compensar redução de jornada), diminuindo desemprego estrutural.


Ou seja, a mudança da jornada tem papel instrumental para uma previdência sustentável socialmente aceitável: quem tem de trabalhar até os 70–72 anos precisa condições de saúde e jornada compatível.


8. Exemplo de modelo de implementação (resumo prático — executivo, legislativo, social)


  1. Legislar uma meta nacional (ex.: objetivo de 36 h/semana) com opção de transição e cláusulas setoriais;
  2. Fase 1 — Anos 1–2: pilotos nacionais, apoio técnico, linha de crédito para micro/pequenas;
  3. Fase 2 — Anos 3–5: redução gradual obrigatória em setores prioritários; exceções temporárias e ajustadas por convenção coletiva;
  4. Fase 3 — Auditoria e revisão: indicadores de saúde, produtividade, impacto fiscal; medidas de correção se metas não forem atendidas;
  5. Proteção ao setor público: estudos pré-implementação municipal, compensações federais provisórias, medidas de corte de horas extras e reorganização de turnos antes de aumentar quadro permanente.


9. Conclusão: a redução da escala é uma política de futuro — e de justiça

A discussão sobre fim da escala 6×1 e adoção de jornadas como 4×3 não é apenas “bom para o trabalhador”: é prudente do ponto de vista econômico quando encaixada em plano de transição, e é política pública coerente se o objetivo é ter cidadãos que trabalhem mais anos sem perder saúde, dignidade e produtividade. Negar a necessidade de adaptar a jornada ao aumento da idade de aposentadoria é ignorar que o trabalho é também tempo de vida.

Sim — haverá resistência e custos de transição. Sim — será preciso negociar com sindicatos, empresas, prefeitos e tribunais de contas. Mas a alternativa — exigir trabalho até idades mais avançadas sem transformar a estrutura do tempo de trabalho — é uma receita para sofrimento, afastamentos, maior gasto médico e uma Previdência menos sustentável.

O caminho razoável é reformar o tempo de trabalho e a Previdência em conjunto: reduzir a intensidade das jornadas, estabelecer regras de transição sensíveis ao porte e ao setor, proteger finanças municipais com mecanismos de compensação temporária e avaliar resultados com auditoria pública. Essa é a forma responsável de construir uma sociedade em que mais anos de vida ativa não signifiquem menos qualidade de vida.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Pedido de vista prorrogado: julgamento de recurso eleitoral de Cláudio Castro segue suspenso



Em 4 de dezembro de 2025, o Ministro Antonio Carlos Ferreira, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), solicitou oficialmente a prorrogação do prazo do pedido de vista no julgamento dos recursos que questionam a eleição de Cláudio Bomfim de Castro e Silva, governador do Rio de Janeiro, e outros envolvidos.

O pedido de vista foi feito logo após o voto da relatora, Ministra Isabel Gallotti, que recomendou a cassação do governador e a declaração de inelegibilidade de Castro, de Rodrigo da Silva Bacellar e de Gabriel Rodrigues Lopes, além de aplicar multas máximas a alguns dos investigados. O Ministro Ferreira havia justificado o pedido pela complexidade da matéria, relevância do processo e grande volume de documentos, fundamentação plenamente amparada pelo art. 18, §2º, da Resolução-TSE nº 4.510/1952, que permite a prorrogação por igual período do prazo inicial.

O prazo original para a devolução dos autos era de 30 dias, prorrogáveis por mais 30, suspensos durante o recesso forense, que ocorre entre 20 de dezembro e 06 de janeiro, com suspensão de audiências até 20/01. Com isso, a expectativa é que a análise do Ministro Ferreira se estenda até o início de fevereiro de 2026.

No entanto, o julgamento pode sofrer novos atrasos caso outros ministros também peçam vista e utilizem a prorrogação prevista na Resolução-TSE. Considerando um cenário máximo, com pedidos de vista em cascata e prazos esgotados, o julgamento final poderia se estender até junho de 2026.

Mesmo assim, na prática, a Corte tende a priorizar processos de grande repercussão, e o TSE pode pautar a deliberação em 1 a 2 semanas após a devolução dos autos, especialmente em casos envolvendo cargos majoritários e múltiplos envolvidos.

O caso segue acompanhando todos os procedimentos legais, e o público deve ficar atento às próximas movimentações, pois o desfecho pode ter impactos significativos sobre a política estadual do Rio de Janeiro.

4 de dezembro: memória, fé e o legado da intolerância religiosa



No dia 4 de dezembro, somos lembrados de três marcos históricos — distintos em seu contexto, mas unidos pelo seu significado profundo: a esperança de fé, o martírio e, sobretudo, a violência da intolerância religiosa. 

A data evoca a memória da Santa Bárbara de Nicomédia — mártir do cristianismo —, remonta às tragédias da Primeira Cruzada com a conquista de Sídon (1110) e converge com o exílio imposto a comunidades judaicas e muçulmanas na Portugal de 1496. 

Revisitar esses episódios e conectá-los aos dias de hoje ajuda a colocar em perspectiva os ciclos de fé, violência e resistência — e a lembrar da urgência da tolerância religiosa.


🕯️ Santa Bárbara: fé, martírio e significado simbólico

Segundo a tradição cristã, Santa Bárbara nasceu em Nicomédia (atual Turquia) por volta do ano 280 d.C. Era filha única de um homem pagão chamado Dióscoro, que, temendo pela segurança dela, a enclausurou em uma torre. Lá, Bárbara se converteu ao cristianismo e, rejeitando casamentos e o abandono de sua fé, foi denunciada, torturada e decapitada por seu próprio pai — no dia 4 de dezembro. Diz a lenda que Dióscoro foi morto por um raio logo depois, interpretado como sinal divino.

Com o tempo, Bárbara passou a ser venerada como santa — padroeira contra tempestades, raios, fogo; protetora de bombeiros, mineiros e artilheiros. No Brasil, especialmente na Bahia, sua festa no dia 4 de dezembro se transformou em celebração popular marcada pelo sincretismo: católicos e seguidores das religiões de matriz africana, como o Candomblé, juntos veneram a figura de Santa Bárbara, muitas vezes associando-a à orixá Iansã — senhora dos ventos, trovões e tempestades.

Esse sincretismo revela, de forma simbólica, como crenças de origens diversas podem conviver, fundir tradições e gerar práticas culturais e religiosas plurais. A figura de Santa Bárbara — uma mulher que, pela fé, rompeu com imposições familiares e pagãs, mesmo enfrentando a morte — ressoa como símbolo de resistência, convicção e liberdade de consciência.


⚔️ A Primeira Cruzada e a conquista de Sídon — violência religiosa e dominação

A Primeira Cruzada, iniciada no fim do século XI, representou um momento em que a religião se converteu em instrumento de guerra, conquista e repressão. Após a tomada de Jerusalém, os exércitos cruzados continuaram campanhas pelo Levante. No ano de 1110, Sídon foi cercada e conquistada por forças lideradas por cruzados — concretizando o domínio cristão em territórios predominantemente muçulmanos ou cristãos de outras tradições.

Mais do que uma disputa territorial, a Cruzada expressava uma mentalidade de supremacia religiosa — impondo conversões, expulsões, massacres e apagamento de comunidades inteiras consideradas “infiéis”. Um dos capítulos mais brutais desse ciclo foi o massacre de povos judeus e muçulmanos, que culminou em violência extrema, expulsões, destruição de locais de culto e reestruturação demográfica e cultural da região.

Esse padrão de guerra sagrada — fé misturada a política, poder e dominação — deixou marcas profundas na história do Oriente Médio e moldou tensões religiosas e culturais que persistem até hoje. A aliança entre religião e força militar transformou povos, culturas e estruturas sociais, muitas vezes pela dor, pelo exílio ou pela morte.


🚫 1496 — Expulsão de judeus e muçulmanos de Portugal: limpeza religiosa e apagamento de memória

Séculos após as Cruzadas, já na Europa, o uso da religião para definir identidades nacionais voltou a se manifestar de forma sistemática: em 1496, o Manuel I de Portugal ordenou a expulsão de judeus e muçulmanos do reino — exigindo conversão ou partida. Comunidades inteiras foram forçadas a abandonar suas casas, sinagogas e mesquitas foram destruídas ou transformadas, e um passado milenar de convivência plurirreligiosa foi apagado.

Estimativas colocam entre 20.000 e 100.000 o número de judeus afetados, além de um contingente menor, porém também expressivo, de muçulmanos. Essa política de limpeza religiosa buscava construir um Estado homogêneo, cristão, negando identidades distintas e desacreditando a presença histórica dessas comunidades.

Hoje há quem reaproveite esse passado para revisitar a história, recuperar identidades e lembrar que a diversidade religiosa — muito antes de ser “descoberta” — existiu e floresceu. Há, inclusive, reconhecimento oficial: em 2015, Portugal aprovou uma lei que oferece cidadania a descendentes de judeus expulsos, admitindo publicamente a injustiça histórica cometida.

Esse episódio evidencia como a intolerância institucionalizada, a perseguição e o exílio religiosamente motivados foram parte integrante da formação da Europa moderna — e como os rastros dessa história reverberam até os dias de hoje.


🌍 Intolerância religiosa hoje — no Brasil e no mundo

Infelizmente, o passado não está superado. A intolerância religiosa continua viva — sob novas formas — tanto no Brasil quanto globalmente.

No Brasil, os dados mais recentes são alarmantes: em 2024, foram registradas 2.472 denúncias de intolerância religiosa pelo canal Disque 100, coordenado pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) — um aumento de 66,8 % em relação a 2023. Religiões de matriz africana, como o Umbanda e o Candomblé, são as mais afetadas. As vítimas são majoritariamente mulheres, e os estados com mais denúncias incluem São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia.

Além disso, no mundo, há exemplos recentes de ódio e crimes religiosos: por exemplo, o aumento recorde de crimes de ódio religioso na Inglaterra e no País de Gales após a guerra em Gaza — com ataques dirigidos a judeus e muçulmanos. Também se verifica um recrudescimento da islamofobia, antisemitismo e atitudes de hostilidade contra minorias religiosas interior e exteriormente em muitos países.

Esses dados mostram que, apesar das leis de liberdade de culto, o preconceito, a ignorância, o medo e o fanatismo continuam promovendo discriminações, violências simbólicas e concretas. A intolerância religiosa se manifesta de muitas formas — desde agressões físicas ou verbais até destruição de templos, exclusão social, perseguição e estigmatização — e atinge principalmente aqueles que professam religiões menos hegemônicas ou historicamente marginalizadas.


🎯 Por que recordar 4 de dezembro importa — e o que isso nos ensina

Unir em um mesmo dia a memória de Santa Bárbara, o relato das Cruzadas e a expulsão em Portugal permite enxergar um trajeto histórico de como a religião, em muitos momentos, foi instrumento de exclusão, dominação e violência. Ao mesmo tempo, revela a força simbólica da fé enquanto resistência e identidade — como no caso de Santa Bárbara, mas também na persistência de comunidades que, apesar da perseguição, seguem mantendo suas crenças e tradições.

Para o Brasil contemporâneo — país de profunda diversidade religiosa —, essa reflexão se torna ainda mais urgente. Os dados de 2024 mostram que a intolerância religiosa não é algo do passado: é uma realidade presente, que atinge pessoas de religiões afro-brasileiras, evangélicos, católicos, espíritas, islâmicos, judeus, entre outros.

Celebrar 4 de dezembro não deve ser apenas um ato de fé ou tradição — mas um momento de consciência crítica. Lembrar das feridas do passado, reconhecer os erros cometidosblog do em nome da religião, valorizar a pluralidade cultural e religiosa, e renovar o compromisso com a tolerância, o respeito e a liberdade de crença.

Se quisermos um Brasil — e um mundo — onde fé e convivência não signifiquem exclusão, discriminação ou medo, esse dia deve servir como um lembrete: a memória deve alimentar a empatia.

Flamengo vive momento histórico entre títulos, desafios e expectativa internacional



O Flamengo está vivendo um momento absolutamente memorável em sua trajetória centenária. Em apenas algumas semanas, o clube conquistou mais uma Copa Libertadores da América e, logo em seguida, garantiu o título do Campeonato Brasileiro 2025 de forma antecipada, confirmando sua hegemonia no futebol nacional e continental. A torcida rubro-negra celebra não apenas números, mas a afirmação de uma identidade vencedora, marcada por emoção, talento e regularidade.

A festa, no entanto, não encerra as atenções. Neste fim de semana, a última rodada do Brasileirão promete partidas eletrizantes. Apesar de o Flamengo já estar com o título garantido, a partida contra o Mirassol, longe de casa, atrai olhares atentos: a equipe paulista luta por uma vaga direta ou pela pré-Libertadores de 2026, e a motivação do time da casa poderá tornar o jogo imprevisível. Embora o Flamengo disponha de elenco forte e qualidade técnica, a probabilidade de um confronto acirrado é alta — e a torcida local espera aproveitar a necessidade de vitória para surpreender.

Além do Brasileirão, o olhar do clube já se volta para a Libertadores de 2026, competição que promete ser ainda mais acirrada. Flamengo, Palmeiras, Cruzeiro e outros clubes sul-americanos já têm vagas asseguradas ou estão na luta por classificação. A competição continental será palco de novos desafios e de oportunidades para o Flamengo ampliar ainda mais sua coleção de troféus internacionais, mantendo viva a chama da tradição e da ambição rubro-negra.

Enquanto isso, a zona de rebaixamento mantém a tensão em outras frentes do campeonato. Clubes como Fortaleza, Santos, Vitória e Internacional lutam desesperadamente para escapar da Série B. O Flamengo, livre dessa pressão, poderá atuar de forma estratégica, mas ainda assim precisará demonstrar disciplina e foco para encerrar o Brasileirão com consistência, mantendo a imagem de clube de elite, dentro e fora de campo.

O horizonte internacional também reserva emoções: o próximo Mundial de Clubes, no formato expandido da FIFA, promete reunir os maiores clubes do mundo, incluindo os brasileiros que se destacarem nas temporadas 2025–2028. Para o Flamengo, com sua performance histórica recente, a expectativa de participação é concreta. A chance de medir forças com gigantes europeus, asiáticos e africanos coloca o clube em evidência global e reforça o status de referência internacional.

Ao olhar para a história, é impossível não traçar um paralelo com o Flamengo dos inícios da década de 1980. Entre 1980 e 1983, o clube conquistou quatro títulos brasileiros, consolidando sua hegemonia nacional e revelando ídolos que se tornaram lendas. A estrutura do time, a força da torcida e a ambição de vitória eram elementos que marcavam aquela era de ouro. Hoje, mais de quatro décadas depois, o Flamengo da década passada e desta primeira metade da década de 2020-2025 segue um caminho semelhante: múltiplos títulos nacionais, conquistas continentais e a perspectiva de brilhar mundialmente. A diferença é que o futebol moderno exige gestão profissional, calendário apertado e disputa internacional intensa, desafios que o Flamengo tem superado com maestria.

Em suma, o clube carioca se encontra em um momento histórico, equilibrando conquistas recentes, desafios iminentes e projeções internacionais. Entre o título antecipado do Brasileirão, a participação garantida na Libertadores de 2026 e a expectativa de brilhar no próximo Mundial de Clubes, o Flamengo mostra que, apesar da tradição, continua a escrever capítulos inéditos de glória — assim como fez há mais de 40 anos, quando começou a consolidar sua identidade de gigante do futebol brasileiro e mundial.

O gigante rubro-negro não para de escrever sua história de glórias!

Aumentam as Tensões no Caribe: Alerta dos EUA e o Risco de Conflito na Venezuela



Na última semana, o governo do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, emitiu um alerta oficial orientando os cidadãos americanos a deixarem a Venezuela imediatamente e reforçando o aviso para que se evite qualquer viagem ao país. A medida acendeu sinal de alerta internacional, indicando que Washington considera a situação venezuelana altamente instável e que existe um planejamento estratégico para eventual intervenção, caso seja considerada necessária.

O alerta surge em meio a uma escalada de tensões políticas e militares no Caribe. Nos últimos meses, Trump e autoridades do Pentágono têm mantido declarações públicas sugerindo que há planos de contingência para o caso de uma mudança abrupta de liderança em Caracas, incluindo uma eventual renúncia de Nicolás Maduro. Especialistas internacionais haviam considerado, até poucas semanas atrás, que a probabilidade de invasão terrestre americana era baixa. Entretanto, a orientação direta aos cidadãos reforça a percepção de que os EUA estão aumentando a pressão e preparando cenários de ação rápida.

Enquanto isso, a opinião pública nos Estados Unidos se mostra majoritariamente contrária a qualquer ataque militar. Pesquisas recentes indicam que uma parcela significativa dos americanos não aprova a intervenção na Venezuela, e manifestações de cidadãos em várias cidades do país têm destacado o risco de envolver tropas americanas em um conflito regional complexo e distante. Mesmo assim, o discurso do governo americano tem se tornado mais firme, mostrando uma contradição entre o desejo popular por contenção e a estratégia externa agressiva.

Na Venezuela, a vice-presidente Delcy Rodríguez tem atuado como porta-voz da soberania nacional, denunciando publicamente as intenções dos EUA e reiterando que qualquer intervenção seria ilegal e inaceitável. Desde o início das tensões, suas declarações têm enfatizado que a Venezuela não cederá à pressão externa, reforçando a narrativa de que o país se manterá firme diante de qualquer ameaça e convocando a população e as Forças Armadas a resistirem.

Caso Maduro renuncie, a situação poderia se tornar ainda mais complexa. Por um lado, uma saída pacífica poderia reduzir a justificativa para um ataque americano direto. Por outro, um vácuo de poder poderia ser visto como oportunidade pelos EUA para exercer influência mais ampla sobre a Venezuela, seja por pressão diplomática, econômica ou militar seletiva. Nesse contexto, a vice-presidente Delcy Rodríguez poderia assumir interinamente, garantindo algum nível de estabilidade interna, especialmente com o apoio das Forças Armadas, embora a legitimidade de sua liderança ainda dependa do reconhecimento internacional.

O papel do Brasil e das Forças Armadas brasileiras também se torna relevante diante do aumento da tensão no Caribe. Apesar de uma eventual mudança de postura do país em relação aos EUA, o Brasil provavelmente manteria neutralidade defensiva, reforçando a vigilância nas fronteiras com a Venezuela, garantindo a soberania e evitando que seu território seja usado como palco de conflitos. A postura brasileira buscaria assegurar estabilidade regional e proteger a população de impactos indiretos, como migração em massa e instabilidade econômica.

A escalada atual evidencia que uma eventual intervenção militar dos EUA teria impactos significativos na geopolítica da América Latina, influenciando alianças, investimentos e projetos estratégicos, como a ferrovia ligando o Pacífico ao Atlântico apoiada pela China. Um ataque bem-sucedido à Venezuela poderia desestimular governos latino-americanos a se aproximarem de potências extrarregionais, reforçando a influência americana, mas também gerando instabilidade econômica e política de longo prazo.

Diante de todo o cenário, fica claro que a guerra deve ser evitada a todo custo. A solução passa pelo diálogo diplomático, respeito à soberania e busca por mediação internacional, de forma a garantir que a população venezuelana não sofra as consequências diretas de um conflito armado. A escalada militar traz riscos não apenas para a Venezuela, mas para toda a região do Caribe e da América Latina, podendo provocar crises humanitárias, deslocamentos populacionais e repercussões econômicas significativas.

O alerta emitido pelos EUA é, portanto, um chamado à prudência: a diplomacia deve prevalecer sobre a força, garantindo que as tensões não se transformem em um conflito aberto que colocaria toda a região em risco.

🌱 O Brasil nos últimos três anos: crescimento econômico com propósito



Nos últimos três anos, a economia brasileira apresentou sinais claros de recuperação: o PIB cresceu de forma consistente, a renda média por habitante avançou e o desemprego caiu a níveis históricos, trazendo mais empregos formais e oportunidades para milhões de brasileiros. Mas será que isso significa que estamos “bem-sucedidos” ou “mal-sucedidos” apenas porque saímos ou nos aproximamos do top 10 das maiores economias do mundo?

Na verdade, o tamanho do PIB em dólares é apenas um número, que não revela o quanto a população realmente se beneficia do crescimento. O verdadeiro objetivo do desenvolvimento econômico deve ser proporcionar qualidade de vida, oportunidades reais e bem-estar para todos, conforme vem fazendo o governo Lula. Isso passa por fatores que vão muito além de rankings: educação de qualidade, saúde acessível, serviços públicos eficientes e políticas que reduzam desigualdades históricas.

Por outro lado, jamais devemos esquecer que um país que deseja crescer de forma sólida e sustentável precisa também produzir tecnologias, investir em pesquisa e inovação, formar talentos e criar indústrias com valor agregado — não apenas exportar commodities ou depender de setores tradicionais. É dessa maneira que o Brasil poderá não só aumentar sua economia, mas se tornar mais competitivo globalmente e gerar riqueza que chegue de forma justa à população.

Portanto, mais importante do que subir no ranking global é garantir que cada brasileiro sinta os benefícios do crescimento: empregos decentes, renda que paga dignamente as contas, educação que transforma vidas e oportunidades que permitam sonhar mais alto. O verdadeiro desenvolvimento é aquele que alcança a todos, e não apenas números em relatórios internacionais.

🌎💡 O Brasil cresce. Contudo, o fundamental é crescer com propósito, tecnologia e justiça social.