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sábado, 25 de julho de 2020

A infância da criançada há 40 anos...



Embora não considere que tive a infância ideal, vivi uma época em que havia menos violência e dependência tecnológica do que nos tempos atuais. 

Morei uns anos numa vila com 12 casas situada no bairro Grajaú, Zona Norte do Rio de Janeiro, onde as crianças podiam brincar ao ar livre sem que fosse preciso fechar o acesso da rua à área comum dos condôminos através de um portão eletrônico, como passou a ser do final do século passado para cá. 

No começo da década de 80, apesar do Brasil ainda viver o final do regime militar (com reabertura democrática), contraditoriamente ainda tínhamos outras liberdades e uma cultura mais rica. Não que a ditadura nos proporcionasse isso, mas é que a sociedade não havia sido tão afetada com a criminalidade por falta de uma política séria que envolvesse segurança, educação e assistência através de um trabalho sério. 

Entretanto, não quero hoje ficar o tempo todo falando de política. Prefiro rememorar os bons momentos de um tempo quando meninas e meninos não ficavam tão presos a um smartphone, mas saíam para fazer uma passeio num clube (éramos sócios do Grajaú Tênis) ou na pracinha do bairro com balanços, gangorras e escorregas, o que seria um espaço mais democrático. 

É certo que, na minha época de criança, já existia televisão, muitas pessoas residiam em apartamentos (eu mesmo morei num antes e depois de ir para a vila) e não demorou muito para que surgisse a "febre" dos viciantes videogames. Porém, tínhamos outras distrações baratas e gratuitas de modo que, quanto mais humilde a família, mais próxima da natureza era a vida do menor. 

Jogar bola, brincar de se esconder do coleguinha, andar de bicicleta, reunir-se para um jogo de tabuleiro com lance de dados (ou de cartas), uma partida de bola de gude, correr e subir em árvores permitiam uma saudável interação que, antes da pandemia da COVID-19, já estava muito menos frequente entre a "gurizada", como dizem os gaúchos. 

Hoje, diante das incertezas dessa doença que assola o mundo, já não sabemos como será vivenciada a infância daqui para frente. Pode ser que encontrem a cura através de uma vacina, mas não sabemos se, no decorrer dos próximos quatro anos, teremos recursos suficientes para o enfrentamento do problema de maneira que a humanidade e pessoas de todas as faixas de idade terão que se adaptar a uma nova realidade. 

Por esse aspecto, acredito que o contato presencial poderá voltar a ser valorizado futuramente. E, quando tudo passar, quem sabe nunca mais (ou por muito tempo) não nos deixaremos escravizar pelas tecnologias da comunicação?! 

Ficam aí esses pensamentos para refletirmos. 

Ótimo sábado a todos!

OBS: Embora eu não possa precisar exatamente quando as imagens originais acima foram produzidas, suponho que tenham sido feitas entre os anos de 1979 e 1980. A casa na qual morei pertencia à minha bisavó pelo lado materno, dona Maria de Nazareth, e era a oitava da vila, situada no número 130 da avenida Engenheiro Richard. Hoje ninguém mais da família reside ali. O último habitante do imóvel foi o meu irmão Thiago que deixou o Rio em 2018, mudando-se para o Uruguai. Mas, na minha época, além da citada "bisa", moravam no endereço minha avó Marisa, minha mãe Myrian e meu tio Luiz Augusto, além de quatro passarinhos. Houve ainda um senhor de idade, seu Ari, parente pelo lado materno, com quem convivi por pouco tempo, pois veio logo a falecer.

2 comentários:

  1. Velhas lembranças que também me fizeram recordar da minha infância e adolescência no bairro de Guadalupe. Tudo bem parecido. Hoje o futuro das novas gerações é um mistério.
    Um excelente sábado para o amigo!

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    1. Caro professor,

      Sempre uma honra a sua visita.

      De fato há que se repensar a criação dos menores em nossos dias e possibilitar que tenham uma infância de verdade.

      Acredito que brinquei mais do que as crianças de hoje, porém menos do que meus pais e avós.

      Forte abraço e uma excelente semana!

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