Alguns conhecidos meus me chamaram para participar hoje da tradicional "malhação de Judas", a qual consiste em surrar um boneco do tamanho de um homem, forrado de serragem, trapos ou jornal, pelas ruas de um bairro e, ao final, atear fogo a ele, normalmente por volta do meio-dia. E há tempos que se tornou costume entre nós enfeitar o boneco com máscaras ou placas com o nome de políticos e outras personalidades não tão bem aceitas pelo povo.
No entanto, respondi a esse jovem que o Judas a si mesmo "se malha". Pois, conforme fez o personagem dos evangelhos que, tendo devolvido as 30 moedas de prata, veio a se enforcar, assim agem também os traidores do povo ao provarem eles mesmos das consequências de suas atitudes.
Ora, onde estão hoje Cabral, Picciane e Pezão? Entretanto, mesmo se os Judas da política brasileira estivessem curtindo os dois feriados nas suas respectivas mansões, não ficariam impunes. Caso vivessem todos os dias no luxo, suas consciências lhes cobrariam e, dificilmente, alcançariam paz interior após terem roubado e matado tanta gente com a tinta de suas canetas.
Ora, Jesus mesmo não ordenou aos seus apóstolos que malhassem o Judas. Aliás, durante a Ceia, em momento algum o Mestre o expôs visto que assim lhe disse: “Faça logo o que você tem de fazer”. E não revelou a ninguém quem seria o traidor, tendo respondido ao discípulo amado que era quem metia com ele a mão no prato. Ou seja, todos...
Eu não malho o Judas porque tenho a consciência do potencial negativo que existe em todos nós para sermos traidores. Não quero descontar no outro o mesmo sentimento que tenho contra as coisas frustrantes que há em mim e que não consigo mudar. Não quero ficar transferido para terceiros a minha responsabilidade!
Pois bem. Se Judas conseguiu consumar o que pretendia, houve todo um contexto que o permitiu agir daquele modo. Todos em maior ou menor grau foram traíras e covardes sendo que, no episódio da morte de Jesus, as mulheres mostraram-se muito mais valentes do que os homens quando perseveraram até o fim aos pés da cruz.
Assim também devemos reconhecer que os Judas do presente não chegam sozinhos ao poder e, se conseguem roubar, muitas vezes é pela nossa omissão e consentimento porque nos desinteressamos pelos fatos da política. Ou então, quando sabemos de algo, nada fazemos. E, para piorar, reelegemos muitos desses canalhas sabendo até que são ladrões do dinheiro público de modo que usamos a desculpa de que "fulano rouba, mas faz".
Por isso, meus amigos, desculpem-me se hoje eu não estiver entre vocês na queima do Judas. E jamais fiquem contra mim se eu disser que não quero o mal do Judas, muito embora saibamos que o "filho da perdição" muitas das vezes prefere caminhar obstinadamente para uma auto-destruição ainda que tentemos evitar esse resultado.
Portanto, vamos curtir o nosso Sábado de Aleluia em paz, buscando fazer as melhores coisas da vida, sem trocarmos esses raros momentos de descanso em família por um ato representativo da inútil vingança.
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