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quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Caminhos diferentes



Retomando algo que há tempos eu não fazia aqui no blogue, visto que, de uns tempos para cá, passei mais tempo comentando sobre política, resolvi destra vez compor algo que tem a ver com questões éticas e utilizar um pouco do conhecimento teológico que acabei aprendendo de maneira amadora.

Uma das mensagens bíblicas que tem estado no meu coração ultimamente é aquela narrativa sobre um "particular" ocorrido entre o patriarca Abraão (ainda com o nome de Abrão) e o seu sobrinho Ló, os quais eram pecuaristas nômades na antiga Canaã. É algo que considero bem interessante!

Segundo as Escrituras, os pastores de ambos os líderes não estavam se entendendo mais a ponto de tio e sobrinho precisarem de separar. Então Abraão, sendo um homem sábio e cheio de fé, tendo também aprendido a não mais construir a vida se aproveitando de certas facilidades oferecidas e buscar soluções corretas mesmo diante das dificuldades, preferiu não escolher para que lado iria morar. Então, os dois parentes subiram a um alto monte, observaram a paisagem lá de cima e Ló resolveu ir para onde havia uma planície fértil que seria aparentemente mais adequada para ele ficar rico criando gado. Já Abraão não se incomodou em tentar a sorte numa região mais árida.

"Subiu, pois, Abrão do Egito para o lado do sul, ele e sua mulher, e tudo o que tinha, e com ele Ló. E era Abrão muito rico em gado, em prata e em ouro. E fez as suas jornadas do sul até Betel, até ao lugar onde a princípio estivera a sua tenda, entre Betel e Ai; Até ao lugar do altar que outrora ali tinha feito; e Abrão invocou ali o nome do Senhor. E também Ló, que ia com Abrão, tinha rebanhos, gado e tendas. E não tinha capacidade a terra para poderem habitar juntos; porque os seus bens eram muitos; de maneira que não podiam habitar juntos. E houve contenda entre os pastores do gado de Abrão e os pastores do gado de Ló; e os cananeus e os perizeus habitavam então na terra. E disse Abrão a Ló: Ora, não haja contenda entre mim e ti, e entre os meus pastores e os teus pastores, porque somos irmãos. Não está toda a terra diante de ti? Eia, pois, aparta-te de mim; e se escolheres a esquerda, irei para a direita; e se a direita escolheres, eu irei para a esquerda. E levantou Ló os seus olhos, e viu toda a campina do Jordão, que era toda bem regada, antes do Senhor ter destruído Sodoma e Gomorra, e era como o jardim do Senhor, como a terra do Egito, quando se entra em Zoar. Então Ló escolheu para si toda a campina do Jordão, e partiu Ló para o oriente, e apartaram-se um do outro. Habitou Abrão na terra de Canaã e Ló habitou nas cidades da campina, e armou as suas tendas até Sodoma. Ora, eram maus os homens de Sodoma, e grandes pecadores contra o Senhor." (Gênesis 13:1-13)

Para quem conhece a narrativa e os capítulos seguintes do livro de Gênesis, sabe quais os resultados colhidos por cada um personagem e qual deles acabou sendo mais feliz. Pois Ló, no fim das contas, veio a perder os bens na trágica destruição da cidade de Sodoma, onde fixou a sua residência, ao passo que Abraão sustentou-se com dignidade e abundância de recursos por todos os dias de sua peregrinação em Canaã.

Nesse mesmo sentido, um outro texto bíblico que de certo modo completa a reflexão seria um dos ensinos de Jesus presente no Sermão da Montanha e que se repete no Evangelho de Lucas num outro contexto de parábolas. É quando Jesus usa a metáfora das duas estradas e das duas portas:

"Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que entram por ela; e porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem." (Mateus 7:13-14)

Sem precisar fazer terrorismo religioso em cima disso, gosto muito desse ensino do mestre pois muitas das vezes o homem ambiciona a qualquer custo a fama, o poder e as riquezas, mas acaba se perdendo. Com isso, ele perde a paz interior, a alegria de viver, os amigos verdadeiros, a integridade, a liberdade dentre outros bens imateriais que podemos considerar como eternos.

Tendo eu postado essa semana acerca dessa mensagem nas redes sociais, recebi um comentário de uma lúcida professora no meu perfil no Facebook que achei bem interessante, o qual passo a reproduzir adiante:

"Fácil chegar onde se quer, abrindo-se mão de valores e princípios éticos. Não é fácil manter a coerência humana, diante de um mundo onde a sua maioria sonha com os "ter" e não com o "ser" na sua vida. Abrir mão da porta larga significará se ver preterido e as portas sempre estreitas ou mesmo inexistentes ou fechadas. Poucos assumem uma postura de radicalidade no mundo fenomênico. A grandeza pessoal em persistir na caminhada mais difícil é uma opção, cujo preço não é pequeno. Contudo, tem sua compensação, o crescimento pessoal da humanidade e espiritualidade, ganha uma leveza subjetiva que se traduzirá na difícil condução de qq [qualquer] que seja o fardo da vida." (Gloria Nunes)

Sem dúvida, ela teve um ótimo acerto nas colocações feitas. Eu, além de concordar, considero que tal compensação é incomparavelmente melhor do que ter momentâneas satisfações num presente perecível. Porém, lamentavelmente a maioria da humanidade não tem ainda essa consciência e a própria passagem bíblica em tela muitas das vezes continua sendo usada nas igrejas mais como mais uma coação psicológica em prol de um proselitismo religioso ao invés de promover o crescimento pessoal. Pois poucos entendem ou querem entender o significado dela.

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