Se não fosse por causa de tantos escândalos de corrupção em seu governo, Temer poderia ser um ótimo Presidente da República pois até que ele representou bem o Brasil na reunião de hoje na ONU e soube se posicionar diante dos graves problemas mundiais. Senão vejamos este trecho de sua fala, sendo meus os destaques em negrito:
"(...) Têm sido muitos os desafios enfrentados pelas Nações Unidas desde sua criação. E sabemos todos que não se cumpriram plenamente as aspirações de seus fundadores.Mas a verdade é que, nestes mais de setenta anos, a ONU continuou e continua representando a esperança. A verdade é que a ONU continuou e continua representando a possibilidade de um mundo mais justo. Um mundo de paz e prosperidade. Um mundo em que ninguém tenha que sujeitar-se à discriminação, à opressão, à miséria. Em que os padrões de produção e consumo sejam compatíveis com o bem-estar das gerações presentes e futuras.A ONU já se confirmou como espaço privilegiado para a construção desse mundo que almejamos. Construção que requer método e realismo, sem nunca perder de vista nossos ideais.
Neste momento da história, de tão marcados traços de incerteza e instabilidade, necessitamos de mais diplomacia e negociação – nunca menos. De mais multilateralismo e diálogo – nunca menos. Certamente necessitamos de mais ONU – e de uma ONU que tenha cada vez mais legitimidade e eficácia.Não por outra razão, sustentamos, ao lado de tantos países, o imperativo de reformar as Nações Unidas. É particularmente necessário ampliar o Conselho de Segurança, para ajustá-lo às realidades do século 21. Urge ouvir o anseio da grande maioria desta Assembleia. (...)" - clique AQUI para ler a íntegra do discurso no Estadão
Sinceramente, concordo com o Presidente neste aspecto. Pois, embora objetivando colocar o Brasil como membro permanente do Conselho de Segurança da ONU, uma reivindicação de governos anteriores, não podemos negar que o discurso de Temer de valorização das Nações Unidas vai de encontro ao que de fato o mundo hoje precisa para manter e promover a paz. Ainda mais com um líder norte-americano fanfarrão que não parece levar jeito para a diplomacia e está causando retrocessos desnecessários em suas relações internacionais com Cuba e Irã.
Outras posições maduras de Temer expostas neste encontro foram suas falas sobre livre comércio, meio ambiente, a solução de dois Estados para o conflito Israel-Palestina, repúdio ao terrorismo, contra as violações dos direitos humanos, defesa da democracia e a assinatura do Tratado de Proibição de Armas Nucleares sobre o qual abro outra citação:
"(...) Terei a honra de assinar, amanhã, o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares. O Brasil esteve entre os artífices do Tratado. Será um momento histórico.
Reiteramos nosso chamado a que as potências nucleares assumam compromissos adicionais de desarmamento.O Brasil manifesta-se com a autoridade de quem, dominando a tecnologia nuclear, abriu mão, voluntariamente, de possuir armas nucleares. O Brasil pronuncia-se com a autoridade de um país cuja própria Constituição veda o uso da tecnologia nuclear para fins não pacíficos. De um país que esteve na origem do Tratado de Tlatelolco, que, há meio século, estabeleceu a desnuclearização da América Latina e do Caribe. De um país que, com seus vizinhos sul-americanos e africanos, fez também do Atlântico Sul área livre de armas nucleares. De um país, enfim, que, com a Argentina, estabeleceu mecanismo binacional de salvaguardas nucleares que se tornou referência para o mundo.Ao marcarmos a conquista que é o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares, cumpre, contudo, reconhecer: perduram, na agenda de paz e segurança, questões que suscitam fundada apreensão.Os recentes testes nucleares e missilísticos na Península Coreana constituem grave ameaça, à qual nenhum de nós pode estar indiferente. O Brasil condena, com toda a veemência, esses atos. É urgente definir encaminhamento pacífico para situação cujas consequências são imponderáveis (...)"
Se pensarmos bem, a desnuclearização de todos os países, com a entrega de suas respectivas armas de destruição em massa para a ONU, seria a melhor solução para evitarmos futuramente não só uma guerra atômica como qualquer novo conflito mundial. Pois somente um organismo imparcial, como seriam as Nações Unidas, é que teria legitimidade para possuir um arsenal perigoso desses promovendo a sua gradual extinção.
E a conclusão do discurso do presidente brasileiro apontou qual o melhor caminho a ser tomado. Algo bem diferente do que ameaçou fazer Trump com a ONU, quando disse que iria enfraquecer a entidade financeiramente. E aí, mesmo eu sendo oposição ao governo Temer na política interrna, considero que ele soube realmente tratar bem das questões externas e não transformou a assembleia num palanque para falar aos brasileiros, que foi o famoso "discursar para dentro" como a ex-presidente Dilma andava fazendo:
"(...) Assim é nossa política externa: uma política externa verdadeiramente universalista.E, Senhor Presidente, o mais universal dos foros com que contamos é esta Assembleia Geral.Aqui nos beneficiamos do mais plural conjunto de perspectivas. Aqui encontramos os parâmetros e as normas para o convívio respeitoso. Aqui haveremos de nos tornar nações mais unidas – em nome do desenvolvimento de nossos povos, da dignidade de nossos cidadãos, da segurança de nosso planeta."
Fato é que para o mundo pouco importa saber de detalhes quanto aos nossos problemas internos de Operação Lava Jato, denúncias contra o Presidente, a corrupção no Parlamento e nas outras instituições estatais, o excesso de partidos, o sistema de governo adotado que não coaliza nada, dentre outros detalhes. Tornam-se relevantes, porém, o desempenho da nossa economia, o cuidado que precisamos ter com a o meio ambiente, além do respeito aos direitos humanos. E, apesar de não sermos nenhum bom exemplo para a humanidade nestas áreas (esse papo de redução do desmatamento da Amazônia é vitrine "para inglês ver"), acredito que a diplomacia brasileira tem muito a contribuir, voltando a recuperar o seu prestígio após o impeachment da Dilma.
Sim, por mais ONU! E eu defenderia até aquilo que se considera uma utopia: um governo mundial.
Precisamos talentosamente ajudar à comunidade internacional a não abandonar o propósito de construção de uma economia liberal, próspera, ambientalmente equilibrada, distributiva de riquezas e livre dos nacionalismos protecionistas. Pois, em nosso estágio evolutivo, não vejo outra maneira para a humanidade sobreviver a não ser pela união entre todos aderindo a uma nova ordem global livre e inclusiva.
Precisamos talentosamente ajudar à comunidade internacional a não abandonar o propósito de construção de uma economia liberal, próspera, ambientalmente equilibrada, distributiva de riquezas e livre dos nacionalismos protecionistas. Pois, em nosso estágio evolutivo, não vejo outra maneira para a humanidade sobreviver a não ser pela união entre todos aderindo a uma nova ordem global livre e inclusiva.
Por vezes fala-se bem. O pior é essas falas corresponderem à prática
ResponderExcluir.
Deixo um abraço, sincero e amigo
Olá, Gil.
ExcluirObrigado por sua visita e comentários.
Sem dúvida, quando se trata políticos, as práticas nem sempre correspondem às falas.
Um abraço