"E, quando comiam, Jesus tomou o pão, e abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, e disse: Tomai, comei, isto é o meu corpo. E, tomando o cálice, e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos; Porque isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão dos pecados. E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide, até aquele dia em que o beba novo convosco no reino de meu Pai." (Mateus 26:26-29)
Não dá para passar da noite de quinta para sexta-feira da Semana Santa sem nos lembrarmos desse conhecido trecho dos evangelhos onde Jesus celebra uma simbólica ceia com os seus discípulos, relacionando a partição dos alimentos (pão) com o seu corpo e agindo de modo semelhante com a bebida (vinho) quanto ao seu sangue. Em seguida, complementa estar realizando uma nova aliança (na citação "testamento"), por meio da sua morte, perdoando os pecados dos homens.
Certamente que essa passagem não deve fazer sentido para a humanidade inteira e nem todos os cristãos entendem do mesmo modo. Porém, quem estuda a célebre citação da Bíblia sempre busca compreender qual o significado profundo da representação desse momento tão reverenciado.
Tem-se evidenciado no texto em tela não só o fato de Jesus haver transformado a sua morte em um sacrifício de substituição em favor dos homens como também tornado os seus discípulos co-participantes do que estava prestes a ocorrer com ele. Mesmo que o entendimento daquele episódio só viesse mais tarde e, na hora da prisão do Mestre todos fugissem e um o negasse expressamente.
Sob certo aspecto, quando Jesus estava inspirando seus discípulos a pactuar com ele, tal decisão abrangeria o seguimento dos seus passos num projeto de amor e de vida para a humanidade que é o alcance do Reino de Deus. Romperiam com os valores do mundo na conformação com a morte do Senhor a fim de que, numa reunião futura e eterna com Cristo, haja então uma nova celebração com o consumo outra vez do "fruto da vide", significando um momento de grande júbilo coletivo.
Evidente que esse ato de Jesus estava impregnado de fé, em que o Mestre apostava tudo contra as circunstâncias, não sendo a morte que aguardava experimentar em questão de horas um impedimento para a futura e eterna reunião com os discípulos no Reino do Pai. Aliás, ele encarava aquele momento como a passagem (Páscoa) que a humanidade precisaria trilhar para uma transformação coletiva, de modo que o seu corpo e o seu sangue estavam também representando os corpos e os sangues dos seguidores de Cristo.
Ora, enfrentamos hoje uma pandemia que já matou mais de 322 mil brasileiros, conforme os números divulgados recentemente. Porém, as atitudes de grande parte dos cristãos são de envergonhar.
Triste saber que muitos crentes nestes dias estejam se aglomerando em templos e ignorando as orientações sanitárias. Estarão participando de uma ceia simbólica, sem o verdadeiro discernimento, comendo e bebendo para a própria destruição, como o apóstolo Paulo já havia advertido há quase 2.000 anos aos coríntios em sua primeira epístola a eles:
"Nisto, porém, que vou dizer-vos não vos louvo; porquanto vos ajuntais, não para melhor, senão para pior. Porque antes de tudo ouço que, quando vos ajuntais na igreja, há entre vós dissensões; e em parte o creio. E até importa que haja entre vós heresias, para que os que são sinceros se manifestem entre vós. De sorte que, quando vos ajuntais num lugar, não é para comer a ceia do Senhor. Porque, comendo, cada um toma antecipadamente a sua própria ceia; e assim um tem fome e outro embriaga-se. Não tendes porventura casas para comer e para beber? Ou desprezais a igreja de Deus, e envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei? Nisto não vos louvo. Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; E, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice anunciais a morte do Senhor, até que venha. Portanto, qualquer que comer este pão, ou beber o cálice do Senhor indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão e beba deste cálice. Porque o que come e bebe indignamente, come e bebe para sua própria condenação, não discernindo o corpo do Senhor. Por causa disto há entre vós muitos fracos e doentes, e muitos que dormem." (1 Coríntios 11:17-30)
Pior ainda é quando vejo pastores demonizando a vacina! Pois usam a poderosa influência que têm a fim de conduzir pessoas para a morte, contrariando o ensino extraído do sacrifício de Jesus, o qual é representado como fonte de vida eterna.
Nessa Páscoa que celebramos num dos piores dias da pandemia no Brasil, não só podemos como devemos permanecer em nossas casas. Até porque não há necessidade de irmãos na fé estarem sempre todos juntos já que o próprio Jesus falou que onde estivessem dois ou três reunidos em seu nome, estaria no meio deles (Mt 18:20). E essa presença também não depende de um mesmo ambiente físico! Ainda mais quando se tem hoje em dia as tecnologias da comunicação, a exemplo das videoconferências, de modo que estar atento às interações é o que realmente deve importar.
Para finalizar, concluo que, nessa Páscoa, as pessoas pelas quais mais devemos orar e interceder seriam os fanáticos religiosos, pois não sabem o que fazem, visto que se tornaram grandes propagadores do coronavírus, precisando conhecer urgentemente qual a essência do Evangelho Cristo.
OBS: Foto dos azulejos na igreja de São Mamede de Este, em Braga, Portugal, conforme extraído de https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%9Altima_Ceia#/media/Ficheiro:Azulejos_Sao_Mamede.JPG
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