Confesso que eu estava preocupado com uma possível omissão do Ministério da Saúde desse atual governo quanto às campanhas de prevenção ao HIV no Carnaval de 2019, tendo em vista a eleição de um presidente conservador no pleito de outubro passado em que os discursos feitos em palanque pareciam não levar em conta o comportamento social já estabelecido.
Recordo muito bem que, 2016, durante o governo Dilma, a campanha "Deixe a Camisinha Entrar na Festa", veiculada entre os dias 27/01 e 06/02 daquele ano, foi duramente combatida pelas mentes retrógradas desse país. Com um pesado investimento em vídeos, jingle para divulgação em rádios (e versão estendida da música para os trios elétricos e carros de som), bem como a propaganda na TV, o Ministério da Saúde chegou a gastar algo em torno de R$ 14 milhões de reais. No filme, um ator fantasiado de camisinha (Homem Camisinha) ajudava seus amigos em situações icônicas de Carnaval, como ser convidado para uma festa e apresentar uma paquera, em que a ideia seria mostrar o quanto a camisinha faz a diferença e, deste modo, incentivar os jovens a se protegerem contra a AIDS e outras infecções sexualmente transmissíveis.
Já neste ano, a campanha "Pare, Pense e Use Camisinha", que tem a participação do cantor Gabriel Diniz (foto), promete distribuir 12 milhões de camisinhas diariamente no Carnaval, as quais virão numa nova embalagem. E, de acordo com o Ministério da Saúde, a publicidade oficial seria "mais moderna" por dialogar diretamente com o jovem, justificando tratar-se do público mais atingido pelas infecções sexuais nos últimos anos. De acordo com o gestor da pasta, o ministro Luiz Henrique Mandeta:
"Os números do HIV no Brasil, que demonstram aumento entre jovens, são muito importantes para a conscientização do grande desafio que temos na saúde pública, que é uma mudança no comportamento. Precisamos cada vez mais estimular o uso do preservativo, para que o Carnaval seja sempre uma memória feliz. Vamos fazer um Carnaval e um ano inteiro de consciência em relação à responsabilidade sobre o seu corpo e o da pessoa que você ama"
Sem dúvida, o Ministério da Saúde age com acerto quanto à indispensável distribuição das "camisinhas", tendo em vista ser o preservativo a mais importante arma de combate à transmissão do vírus HIV. Porém, sem querer fazer dessa postagem um ataque político ao atual governo ou ao ministro, apenas critico o fato da campanha de 2019 (ou de sua divulgação) não estar focando também nos outros meios de prevenção da AIDS. Pois, pelo menos, foi o que notei no site específico da propaganda oficial (clique AQUI para conferir). Por exemplo, não achei ali nada incentivando o preservativo feminino, o qual é muito importante para a mulher como uma segunda alternativa para um sexo penetrativo seguro tendo em vista que nem sempre os homens estão dispostos a proteger a si próprios e à parceira. E, se algo foi feito ou falado a este respeito pelo MS, não vi destaque algum na propaganda pública, sendo que, de acordo com o artigo da médica Dra. Wilza Vieira Villela, divulgado pela ABIA (Associação Brasileira Interdisciplinar de AIDS),
"A principal vantagem deste método [do preservativo feminino] é permitir às mulheres uma alternativa para sua proteção quando o parceiro não quer usar o preservativo masculino. Numerosos estudos têm demonstrado sua aceitabilidade por mulheres e homens em diferentes contextos sociodemográficos e culturais. Apesar disto, em termos globais, seu uso ainda é baixo. No Brasil, o preservativo feminino foi introduzido em dezembro de 1997. A partir do ano 2000 as Secretarias Estaduais de Saúde passaram a recebê-lo do Ministério da Saúde. Para tanto, foram realizadas oficinas em cada um dos estados da federação visando sensibilizar gestores e representantes para o uso do método e pactuar as estratégias para sua distribuição e monitoramento. A perspectiva é de que deveria haver desde os níveis centrais até os níveis locais e de contato direto com a população uma estreita articulação entre os programas de DST/aids e as áreas técnicas de saúde da mulher para que o preservativo feminino fosse ofertado dentro de um conjunto de ações voltadas para a saúde sexual e reprodutiva das mulheres. Portanto, além desta articulação, há o entendimento quanto à necessidade de implementação de práticas educativas com os gestores e os profissionais responsáveis pela oferta do método às mulheres para que eles próprios possam conhecê-lo, apreciar as suas vantagens e se conscientizarem da importância de oferecê-lo às mulheres, com o necessário suporte para o uso." - Extraído de http://abiaids.org.br/sobre-o-preservativo-feminino-e-os-entraves-para-a-sua-disseminacao-no-pais-algumas-reflexoes/28148
De qualquer modo, não tem como deixar de apoiar o que está sendo feito para combater uma doença que afeta uma parcela significativa da população brasileira. Aliás, de acordo com dados do último boletim epidemiológico do HIV/AIDS, 73% (30.659) dos novos casos de infecção do vírus em 2017 ocorreram no sexo masculino. Um em cada cinco novos casos de HIV encontram-se entre homens de 15 a 24 anos (2017), enquanto que, entre homens na faixa etária de 20 a 24 anos, a taxa de detecção cresceu 133% entre 2007 a 2017, passando de 15,6 para 36,2.
Portanto, parabéns ao governo e espero que os atuais gestores não deixem de parar para pensar mais nas diversas outras maneiras eficientes de combate à AIDS.
Parece que o governo conservador acordou a tempo. Que ele se movimente também para resolver os outros problemas do país. Assim esperamos.
ResponderExcluirUm grande abraço!
Talvez o ministro esteja um pouco a esquerda do atual governo. Todavia, ainda assim, sei que tem havido críticas a campanha que tem ignorado a existência do público gay e parece ter se esquecido do preservativo feminino. A própria ABIA se manifestou nesse sentido. Mas confesso que esperava menos do governo
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