Segundo o grego Platão, a democracia seria um regime que não funciona. No entender deste grande pensador, a democracia degenera em demagogia e tirania, pelo que, no seu modelo de cidade ideal, a Callipolis, o governo do país caberia aos filósofos.
A explicação do pensamento platônico era que pra este grande sábio da humanidade o Estado deveria promover uma educação seletiva baseada na capacidade dos grupos de indivíduos afim de se fazer uma distinção qualitativa entre os homens. Assim, uns seriam agricultores, artesãos e comerciantes. Outros dedicariam-se à guerra. Mas quanto aos filósofos, versados na arte do diálogo, caberia a eles o exercício da elevada função de dirigir a comunidade. É o que se lê na festejada obra A República.
Contudo, manter a democracia tem se mostrado fundamental para que haja equilíbrio dentro de uma sociedade. Permitir que o cidadão expresse livremente o seu descontentamento e se faça representar nos órgãos de deliberação coletiva tornam-se mecanismos indispensáveis à paz. Logo, além da competência dos governantes, é preciso que, simultaneamente, seja desenvolvida uma política de participação estruturada sobre um diálogo acessível à linguagem de todos entre administradores e administrados.
Sendo assim, a visão do antigo filósofo, cujo pensamento é evidentemente marcado pelo dualismo, deve ser até certo ponto considerada. Pois, embora seja eticamente recusável e utópico implantar a sofocracia (o governo dos sábios), parece-me indispensável que a voz da inteligência receba lugar de honra na direção do Estado junto com a voz do povo. E aí o bom senso leva-me a concluir pela necessidade de se promover uma seleção dos políticos brasileiros através de um exame de conhecimentos gerais.
Neste sentido, em todas as eleições majoritárias, seria obrigado que o político ao menos fosse submetido a uma prova objetiva e discursiva aplicada pela Justiça Eleitoral, a qual seria realizada uns seis meses antes da votação. A nota da avaliação não impediria o registro da candidatura, exceto se a pontuação for zero, houver "cola" ou o candidato não comparecer. Contudo, desta maneira, com base num exame de referência nacional, o cidadão teria mais um critério para poder escolher as pessoas mais capacitadas que pretendem ocupar os cargos de presidente, senador, governador e prefeito.
A meu ver, um exame como o que estou propondo distingue-se de um concurso público. Neste há um número de vagas limitadas para serem preenchidas e só os melhores colocados e que não foram eliminados é que iram ocupá-las. Já na provinha que defendo, o teste se assemelharia um pouco à habilitação para dirigir veículos automotores feita pelo DETRAN ou para o exercício da advocacia aplicada pela OAB, onde passa quem sabe. Daí, se todos os candidatos atenderem aos critérios exigidos, nenhum deles é reprovado ou impossibilitado de disputar eleições. Mesmo se a pontuação ficar acima de zero e abaixo de um.
Evidente que como prova nenhuma atesta de maneira plenamente a satisfatória a capacidade do indivíduo, quem julgará se os candidatos habilitados deverão ser eleitos será o próprio cidadão quando comparecer às urnas. Isto porque a nota de cada um deles, bem como as respostas às questões, seriam publicadas em órgão da imprensa oficial e ficariam depois disponíveis na internet através das páginas do TSE e de cada TRE. E assim, não tenho dúvidas de que a qualidade do voto será bem melhor a cada eleição.
Convoco cada brasileiro a debater e a divulgar esta ideia afim de que, futuramente, alguma emenda constitucional venha a ser proposta. Tal como a Lei da Ficha Limpa (LC n.º 135/10) dependeu de um grande clamor público que a antecedeu, o mesmo acontece com outras sugestões apresentadas pela sociedade capazes de obrigar os demagogos de Brasília a votarem contra seus próprios interesses. Acredito que, desta maneira, estaremos cuidando para que gente incapaz e aproveitadora continue chegando ao poder para governar a nação.
OBS: A ilustração acima foi extraída de uma reprodução fotográfica do arquivo da Wikipédia. Trata-se de uma pintura de 1509 feita pelo pintor italiano Raffaello Sanzio da Urbino (1483-1520) retratando Platão. A imagem está disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/File:Plato-raphael.jpg
Wir sind die denkende, fühlende, liebende und achtsame Erde
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Leonardo Boff Heute, am 22. April, ist der Tag der
Mutter Erde. Sie ist zum großen und dunklen Objekt der menschlichen Sorge
geworde...
Há 19 horas
Taí uma boa idéia Rodrigão, pelo menos para elevar o nível dos CÃODIDATOS, se bem que quando querem fazer picaretagem, não há nada que os segure!
ResponderExcluirCaro Franklin,
ResponderExcluirObrigado por sua participação.
Embora eu reconheça que a prova, por si só, não bastaria, acredito que ela já iria provocar alguma diferença nas eleições seguintes. Ela não teria nenhum poder quanto à ética do candidato (um corrupto pode muito bem ser alguém com altíssimo intelecto e conhecimento). E aí, quando o negócio é fazer picaretagem, entendo que só um forte controle social e uma atenção maior do cidadão com poder de se mobilizar contra as cosias erradas é que geraria efeitos práticos.
Só que a prova ajudaria o eleitor a decidir, bem como tiraria do anonimato um bando de gente séria. Imagine, por exemplo, qual seria a reação do povo sabendo que o líder nas pesquisas tirou uma nota bem baixa e deu respostas ridículas a determinadas questões? Agora pensemos no fato de que possa vir um candidato até então desconhecido pelo público através de um partido pequeno e que tirou um notão da prova da Justiça Eleitoral?
Conforme propus no texto, o exame só reprovaria quem zerasse, colasse ou não comparecesse. Só que as notas e as provas ficariam todas disponíveis no site do TSE. E acho que isto criaria um debate bem interessante entre os cidadãos deste país na época das eleições.
Abraços.