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terça-feira, 24 de junho de 2025

Os perigos de uma aventura



Nesses últimos dias, o Brasil acompanhou com apreensão e se comoveu diante das notícias sobre a procura da brasileira Juliana Marins que havia caído num vulcão na Indonésia até que, nesta terça-feira (24/06), soubemos terem achado o corpo da jovem já sem vida.

Inúmeros questionamentos surgem indagando sobre a responsabilidade por suposta omissão de quem deveria ter melhor cuidado da turista que terminou os seus últimos dias morrendo sozinha e abandonada. Há quem culpe as equipes de busca ou mesmo o guia da expedição.

Inicialmente, apesar da minha presunção quanto à omissão, a prudência me ensina a não concluir antecipadamente as coisas, pois a análise de situações como essa exige uma apurada investigação. Algo que, somente através de processos administrativos e/ou judiciais, com o apoio pericial, teremos uma melhor compreensão do caso concreto.

No entanto, ao acompanhar os noticiários, lembrei-me de duas situações que ocorreram comigo, visto que já andei por muitas trilhas neste meu Brasil. Um país que, embora não tenha um vulcão ativo, guarda lugares fascinantes e, às vezes, bem perigosos.

Há mais de 20 anos, em minha última passagem pelo Parque Nacional da Serra dos Órgãos, pretendia fazer sozinho a travessia Teresópolis-Petrópolis, mas fui praticamente proibido pelos funcionários da unidade que não deixaram que eu passasse da Pedra do Sino para seguir adiante. Segundo eles, haveria o fundado risco de me perder e me acidentar em razão das neblinas comuns na região de grandes atitudes.

Confesso ter me sentido contrariado visto que já fazia muitas caminhadas pela floresta em Nova Friburgo e região, onde morava na época quando cursava Direito na Estácio. Porém, aceitei a restrição e fui apenas até à Pedra do Sino, retornando pelo mesmo caminho. Ainda lá, contemplando as belezas da nossa Baía de Guanabara, logo me deparei com a realidade dos campos de altitude onde, repentinamente, a serração prejudica toda a visibilidade do aventureiro tal como foram alertado na recepção do parque.

Tempos depois, mais precisamente em junho de 2012, aquele jovem que se considerava um aventureiro experiente e destemido, acabou se perdendo no Parque Nacional da Tijuca ao fazer sozinho uma travessia fora dos roteiros turísticos. Sem autorização, tentei ir do Grajaú até o Alto da Boavista passando pelo Morro do Elefante que fica atrás do Bico do Papagaio (ou Pico do Perdido). Ao romper para o outro lado, percebi que a trilha na qual eu me encontrava não chegava em lugar nenhum e já não conseguia mais achar o caminho de volta.

Diferente das pessoas que gostam de se aventurar, não levei celular e nem avisei a ninguém para onde tinha ido. Minha sorte, porém, foi ter encontrado no alto do Morro do Elefante um guia turístico que estava no grupo de amigos do meu Facebook e que tinha conhecido dias atrás, salvo engano, na conferência Rio+10. Aí quando a família e amigos estavam há dois dias me procurando nas redes sociais, ele viu uma das postagens, interagiu e informou sobre onde havia me visto naquele sábado quando me perdi.

Diferente do que aconteceu na Indonésia, a equipe de busca do Parque da Tijuca me achou em pouquíssimas horas depois de acionada. Mostraram ser bem capacitados e me localizaram numa distância de, aproximadamente, uma hora da represa do Cigano, a qual fica perto do Hospital Cardoso Fontes, na estrada Grajaú-Jacarepaguá.

Daquele dia em diante, acho que aprendi a lição (ou parte dela) sobre ser mais cuidadoso, respeitar os trabalhos dos guias e as regras do ecoturismo. Não nego que voltei a fazer trilha e ainda me arrisquei outras vezes, porém não da mesma maneira temerária como até então me expunha.

No caso da jovem brasileira na Indonésia, fico perplexo com o acontecimento pois ela não se aventurou sem um guia e partiu em grupo. Além do mais, Juliana estava numa rota turística que é um roteiro oferecido para fins de passeios.

Acredito que saberemos com mais detalhes sobre o que houve naquela trágica expedição mas, nesse momento de dor para os seus familiares e amigos, o melhor a fazer é desejar meus sentimentos a fim de que possam suportar e depois superar o sofrimento. Afinal, umas das coisas que mais me angustiava enquanto estava sozinho no meio do mato era sobre as preocupações que as pessoas próximas certamente estavam vivendo, o que foi muito dramático para minha mãe, minha esposa, meus irmãos e muitos dos amigos.

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