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domingo, 13 de abril de 2025

Alegria, tristeza e uma alegria superior



"Passamos da alegria de acolher Jesus, que entra em Jerusalém, à tristeza de O ver condenado à morte e crucificado. É uma atitude interior que nos acompanhará ao longo da Semana Santa" (Papa Francisco, em 28/03/2021)


Há quatro anos atrás, na Basílica de São Pedro, enquanto rezava a missa do Domingo de Ramos, em plena pandemia por COVID-19, o papa partilhou o pensamento acima que resume, em sentimentos, esse período que os cristãos celebram como a "Semana Santa".


Ao contrário do poema bíblico da criação, quando Deus terminou a sua obra com a vida pulsando em plenitude, a Semana Santa teria um sentido aparentemente contrário. Pois ela se inicia com uma entrada triunfal de Jesus em Jerusalém sendo saudado como o "filho de Davi", isto é, como um novo rei, e termina num sepulcro, após o Mestre ter sido condenado num julgamento injusto, onde os que estavam presentes perante Pilatos pediram a sua crucificação.


De fato, há uma inversão em que o tão esperado messias levou ao túmulo a esperança de libertação política de um povo que, desde a invasão dos babilônicos, no século VI a.C., tentava reconquistar a independência perdida. Porém, de certo modo, foi justamente essa expectativa terrena que Jesus pretendeu enterrar, possivelmente para que valores mais elevados pudessem sobressair, ainda que incompreendidos (ou pouco entendidos) até os dias atuais.


Seria Jesus um líder contrário à vida por haver se entregue aos adversários num autocídio? Afinal, as Escrituras Sagradas não mandam que escolhamos a vida ao invés da morte?!


Não é tão fácil entender a obra do Cristo Jesus que veio a este mundo morrer negando-se a viver e reinar como fizera o seu ancestral Davi cerca de mil anos antes. Contudo, as narrativas dos evangelistas a seu respeito vieram mostrar um Messias que transcende o limitado plano físico onde tudo tende a terminar na morte, ainda que venhamos a cumprir todos os nossos ciclos.


Se a obra de Jesus terminou em tristeza, com as mulheres que o acompanhavam desde a Galiléia vivendo um sábado angustiante a ponto de aguardarem a madrugada para prepararem uma ida ao sepulcro, o domingo seguinte nos mostrará uma nova alegria que é a ressurreição.


Numa reflexão para a atualidade, eu ousaria dizer que a obra de Jesus é uma inspiração para nos sacrificarmos pela construção de um novo mundo. O caminho da humilhação, da dor e da morte pelo qual o Mestre passou significa a renúncia aos valores seculares da riqueza, do poder e da acomodação para que possamos também lutar pela construção do Reino de Deus aqui através de uma árdua dedicação.


Assim, a obra de Jesus, que só se completa no começo da semana seguinte, no Domingo de Páscoa, é, na verdade, a reafirmação da vida e, consequentemente da alegria. E, analisando dialeticamente, seria uma espécie de "síntese" que, por sua vez, é a nova tese.


Levando em conta os dois sentimentos, eis que a alegria, quando contrastada com a tristeza, pavimenta a estrada para nos conduzir a um superior estado de satisfação. Isto é, aprendemos a nos alegrar independe das circunstâncias terrenas e materiais que cercam a nossa existência porque passamos a vislumbrar projetos de vida superiores ao acúmulo de coisas perecíveis.


A todas e todos desejo uma feliz manhã de domingo e uma semana com elevadas reflexões de vida.


OBS: Imagem da pintura “A entrada triunfal de Cristo em Jerusalém”, de Harry Anderson.

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