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quarta-feira, 17 de julho de 2024

Será que seremos assim tão ricos?!



Estava lendo ontem uma matéria sobre as ousadas previsões do cientista da computação e futurista Ray Kurzweil, especialista do Google, acerca de como será o mundo já a partir da próxima década de 2030, com base em seu novo livro The Singularity is Nearer que, traduzido, significa A Singularidade está mais Próxima. Segundo o texto, "a inteligência artificial superará a inteligência humana, transformando radicalmente a existência do homem", o que deverá ser alcançado até 2045:


"A fusão entre humanos e IA: (...) a nanotecnologia permitirá a criação de "camadas neurais virtuais" na nuvem, fundindo nossos cérebros com a IA e aumentando exponencialmente nossa inteligência.

Ressurreição digital: a tecnologia de IA (...) permitirá "devolver a vida" aos falecidos, primeiro através de simulações e depois através da reconstituição física de seus corpos.

Imortalidade para 2030: (...) até 2030, os nanorrobôs médicos e a biologia da IA ​​revolucionarão a medicina, permitindo uma longevidade sem precedentes e até mesmo a imortalidade.

Abundância e energia barata: a IA impulsionará avanços na energia fotovoltaica e na mineração robótica, tornando a energia solar acessível e reduzindo os custos das matérias-primas. "Viver nos níveis atuais de luxo será barato na década de 2030 ", prevê Kurzweil.

Cérebros melhorados pela nanotecnologia: Kurzweil imagina um futuro onde a nanotecnologia se integra aos nossos cérebros, aumentando as nossas capacidades cognitivas e abrindo novas fronteiras no entretenimento. "Poderemos acessar qualquer pensamento humano " (...)"

https://www.purepeople.com.br/noticia/o-especialista-do-google-que-previu-a-chegada-do-iphone-viu-o-futuro-novamente-em-2030-todos-viverao-na-riqueza_a393993/1


Embora eu acredite que haverá mais uma etapa do extraordinário progresso tecnológico da humanidade nos próximos anos, jamais poderia deixar de fazer críticas e ressalvas, apresentando divergências quanto a algumas previsões, ainda que distantes de um posicionamento de fato conclusivo.


Não discordo que a nanotecnologia poderá mesmo nos proporcionar mais qualidade de vida, curar e prevenir doenças, bem como desenvolver melhor o nosso potencial físico-intelectual. Porém, indago qual será o acesso da população mundial aos futuros produtos ou serviços nanotecnológicos, ainda que os mesmos se tornem de certo modo baratos quando forem fabricados em larga escala.


Quando é que veremos a aplicação em larga escala de uma terapia com nanotecnologia feita pelo SUS aqui no Brasil?!


Se considerarmos os interesses das empresas que, consequentemente, perderiam mercado com o uso da nanotecnologia mais a corrupção dos governos aliados a elas, o que os torna coniventes com o atraso da humanidade, será que dificuldades não poderão ser impostas a determinados negócios em países como o nosso?!


Apesar de não acreditar que haveria a sonhada imortalidade do ser humano e sim um aumento da nossa longevidade, questiono se os governos de imediato teriam interesse num rápido aumento da expectativa de vida já que os institutos de previdência social seriam financeiramente impactados. E aí bastará que a população passe a viver em média em torno de uns 95 anos para que logo resolvam modificar as regras da aposentadoria e de outros benefícios, o que, sob certo aspecto, será até justificável. 


Todavia, alcançarmos a imortalidade seria ecologicamente desastroso porque, a princípio, impediríamos a renovação da vida no planeta, como bem dizia o zen-budista Steve Jobs, fundador da Apple, falecido aos 56 anos, em 05/10/2011, o qual era considerado o "pai" de produtos como o Macintosh, o iPod, o iPhone e o iPad. Lembro que, uns seis anos antes de sua partida, ele havia discursado em junho de 2005 para formandos em Stanford sobre o fato de ninguém querer morrer:


"Mesmo as pessoas que querem ir para o céu não querem morrer para chegar lá. E, por outro lado, a morte é um destino do qual todos nós compartilhamos. Ninguém escapa. É a forma como deve ser, porque a morte é provavelmente a melhor invenção da vida. É o agente da vida. Limpa o velho para dar espaço ao novo"


Quanto ao papo de "ressurreição digital", tenho minhas reservas no plano ético pois não creio que temos o direito de criar réplicas de quem já morreu, seja por simulações ou por meio de um novo ser feito à sua imagem e semelhança. Tais pessoas nunca nos autorizaram a reconstituí-las, possibilitando que, através de uma imagem, um corpo produzido em laboratório tenha o poder de interagir no mundo com características de personalidade idênticas ou semelhantes.


Entretanto, vamos ao que mais me gerou questionamentos que seria vivermos nos níveis atuais de luxo já na próxima década tendo em vista que, mesmo fazendo uso da energia fotovoltaica, o nosso consumo continuará saindo caro para o meio ambiente. Pois, infelizmente, devido ao aquecimento global e às mudanças climáticas, não estou vendo nenhum enriquecimento da humanidade.


Ora, se continuarmos destruindo o planeta, tudo que é essencial deverá ficar mais caro, a começar pelos alimentos que dependem de uma boa previsibilidade quanto ao clima para que a agropecuária não sofra tantas perdas. Logo, o que esperar de um cenário com a ocorrência cada vez mais frequente de ondas de calor severas, de frio intenso, das secas prolongadas e de chuvas excessivas em curto tempo?!


Triste constatar, mas o aquecimento global tende a profundar as desigualdades socioeconômicas do mundo, com riscos de causar o agravamento nos problemas de saúde, mais poluição atmosférica, probabilidades maiores de novas pandemias, perda da biodiversidade e o aumento de refugiados do clima, com famílias sendo desabrigadas, como ocorreu em maio deste ano no Rio Grande do Sul.


Lamentavelmente, as consequências do aquecimento global estão hoje visíveis na vida da população em maior ou menor grau, sendo mais intenso no cotidiano dos pobres que acabam tendo que morar nas parcelas menos adequadas para a habitação do espaço geográfico. E aí, se houver benefícios proporcionados pela tecnologia, apenas posso ver algum resultado entre os mais ricos porque esses bilhões de seres humanos excluídos continuarão na mesma situação de precariedade.


Não me desfaço da capacidade do Dr. Kurzweil em antecipar avanços tecnológicos como a ascensão da Internet, do iPhone e até mesmo a vitória de um computador sobre um campeão mundial de xadrez. Porém, acho difícil que o mundo se torne esse ambiente tão maravilhoso até 2045 enquanto os interesses de empresas e de grupos políticos estiverem acima dos anseios da sociedade, bem prevalecerem sobre o nosso dever de cuidado com o planeta.


Em todo caso, será justamente o uso correto da tecnologia que nos permitirá viver melhor e com maior sustentabilidade ecológica de modo que as ideias do futurista poderão ser realmente aplicadas em países onde o objetivo dos governantes seja promover o bem estar social e não privilegiar os ganhos do capital privado. Afinal, não temos que fazer reserva de mercado para nenhuma empresa de tecnologia ultrapassada e nem temermos a IA diante do risco de perda de empregos pois, caso haja de fato mais geração de riqueza (com sustentabilidade) e a sua justa distribuição, nunca o ser humano se tornará descartável, caso o trabalho hoje desenvolvido por um trabalhador passe a ser desempenhado por um robô.


Enfim, há muito o que se debater sobre essa temática e acredito que as análises (ou especulações) futuristas sempre serão bem vindas pois nos levam a indagar sobre que tipo de sociedade queremos viver e como a tecnologia poderá proporcionar um real benefício para as pessoas.


Ótima quarta-feira a tod@s!

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