"Melhor é o jovem pobre e sábio do que o rei velho e insensato, que já não se deixa admoestar" (Eclesiastes 4:13; ARA)
Ao interpretar a mensagem bíblica acima citada, o mestre judeu medieval Ibn-Ezra contrastou a inútil experiência de vida de um velho-rei com a mente aberta de um jovem-sábio. Segundo ele, a disposição de alguém em ouvir um bom conselho seria superior a quem, devido à própria tolice, já não exercita mais a capacidade de relacionar as suas observações da realidade com as situações vivenciadas.
Tal reflexão fez-me pensar mais profundamente acerca dos erros que todos cometemos nas diversas áreas de nossas vidas. Quer seja nas profissões, no convívio fraterno dentro do meio religioso, nas relações familiares ou no comando da política. Não raramente, por exemplo, encontro pessoas arrogantes nos ambientes de trabalho achando que estão absolutamente certas em suas opiniões apenas porque teriam tantos anos de exercício de uma determinada função. Só falta baterem no peito e dizer: "Eu sou o chefe! Manda quem pode..."
Em momento algum a experiência deve ser ignorada. Para o sábio, quanto mais aprendizado de vida, melhor será. A diferença para o insensato é que ele percebe diante da vida o quanto ainda precisa evoluir e crescer nas suas concepções aproximando-se daquilo que, numa certa ocasião, assim teria dito o filósofo grego Sócrates: "só sei que nada sei". E, agindo assim, quer seja jovem ou idoso, a mente sábia permanece com o grau de abertura necessária para a renovação/atualização do conhecimento.
Na nossa caminhada espiritual será que não ocorre a mesma coisa?!
O crente arrogante custa a se desfazer da pretensão de se tornar um conhecedor onisciente de algo e diz ser convertido há tantas décadas como se o tempo de membresia numa determinada igreja fosse algo superior. Faz da frequência a cultos, a aulas bíblicas, participações em vigílias, jejuns, orações e da atuação em ministérios itens de uma espécie de currículo, mas nem sempre experimenta os mesmos sabores de um neófito na fé. Este, com toda a sua simplicidade e humildade, consegue encontrar-se maravilhosamente com Deus todas as vezes quando se põe de joelhos para falar com o Pai Celestial. Quer ele tenha ou não assimilado os costumes de expressão do lugar onde congrega.
Verdade é que o jovem-sábio e o velho-rei estão dentro de nós! Um velho-rei de hoje pode ter sido um jovem-sábio quando iniciou a sua carreira sendo que o contrário também se aplica. Daí podemos identificar no texto bíblico as inclinações que todos temos tanto pro bem quanto para o mal de modo que cabe a cada um incentivar aquilo que há de positivo dentro de si, estar sempre disposto a ouvir a voz da sabedoria, reconhecer as falhas e procurar mudá-las.
Nas cartas às sete igrejas do Apocalipse, Éfeso é advertida pelo abandono do seu "primeiro amor" (Ap 2:4). A orientação recebida pelos crentes daquela extinta cidade da Ásia Menor foi para se lembrarem de onde caíram, arrependerem-se e voltarem às práticas das primeiras obras (Ap 2:5). Logo, o passo inicial para o caminho do retorno é aceitarmos a repreensão de que estamos indo na direção errada e, com humildade, revermos onde foi que aconteceu a falha. A partir de então, os passos seguintes passam a ser o arrependimento sincero juntamente com a atitude coerente de mudança.
Meus amados, tenhamos sempre uma mente jovem!
Tenham todos um excelente descanso semanal.
OBS: A ilustração acima trata-se de uma obra dedicada ao domínio público com autoria atribuída a David Castor e que foi extraída por mim do acervo virtual da Wikipédia. A imagem refere-se ao rei Asa, o qual, segundo a Bíblia, teria reinado 41 anos sobre Judá. Foi considerado um bom monarca. Entretanto, já nos anos finais de seu governo, veio a ser advertido pelo profeta Hanani pela aliança que fizera com os sírios. Ao invés de dar ouvidos à repreensão, Asa resolveu encarcerar o homem de Deus agindo, portanto, com insensatez (ler 2Cr 16:7-10).