O Rio de Janeiro convive há décadas com o dilema da insegurança pública, transformando tragédias diárias em paisagem normalizada e promovendo um sentimento contínuo de medo, frustração e impotência coletiva.
No entanto, ao contrário do que muitos discursos imediatistas sugerem, não estamos diante de um problema que se resolve apenas com mais munição, mais blindados ou mais operações espetaculares. A história recente comprova que a lógica de guerra não diminuiu a violência — apenas a sofisticou.
Se quisermos, de fato, reduzir homicídios, combater milícias e o crime organizado, bem como proteger a população trabalhadora, precisamos de uma abordagem que una inteligência, profissionalização, tecnologia e integração institucional. E é nesse contexto que defendo, como cidadão fluminense, a importância de um projeto de segurança pública que parta de três pilares essenciais: diagnóstico realista, comando qualificado e soluções articuladas.
1. Segurança deve ser chefiada por quem entende de segurança
A sociedade precisa se convencer de que segurança pública não é assunto para improviso, palanque eleitoreiro ou slogans beligerantes. Assim como saúde é comandada por especialistas e a educação por educadores, o setor de segurança exige a liderança de profissionais de alta formação — preferencialmente com histórico em investigação, inteligência, articulação federativa e experiência no enfrentamento do crime transnacional.
Drogas, armas, lavagem de dinheiro e contrabando não são fenômenos locais: são cadeias internacionais, envolvendo portos, fronteiras, tiroteios, internet e capitais ilegais. Logo, um comando baseado apenas em lógica militar ou repressiva limitada ao território interno não é suficiente.
O Rio precisa de gestores com formação, experiência técnica e credibilidade moral, capazes de coordenar ações com Polícia Federal, Ministério Público, guardas municipais, forças estaduais, agências de inteligência e cooperação internacional.
2. Políticas de segurança devem ser integradas e mensuráveis
É preciso substituir promessas vagas por planos com metas verificáveis, tais como:
- Redução percentual anual de homicídios e letalidade policial;
- Ampliação dos efetivos investigativos e peritos por número de habitantes;
- Criação de centros integrados de inteligência e análise de dados criminalizantes;
- Monitoramento eletrônico ampliado em rodovias, portos e fronteiras estaduais;
- Rastreamento e bloqueio de fluxos financeiros de facções e milícias;
- Aumento no índice de resolução de homicídios e desaparecimentos.
Sempre é bom lembrar de que a segurança pública se mede por resultados, não por manchetes.
3. O combate ao crime precisa de duas frentes simultâneas
FRENTE A – Inteligência, rastreamento e desarticulação de redes criminosas
- Tecnologia de reconhecimento de padrões e rotas;
- Cooperação com agências federais e internacionais;
- Investigações financeiras e cibernéticas;
- Segurança de fronteiras e fiscalização portuária;
- Proteção a agentes de investigação e denunciantes.
FRENTE B – Redução de vulnerabilidades sociais
- Escolas seguras e com jornada ampliada;
- Programas esportivos e culturais permanentes;
- Reintegração profissional para jovens e egressos;
- Urbanismo de prevenção ao crime;
- Requalificação habitacional e iluminação pública estratégica.
Nenhum país venceu o crime combatendo apenas o soldado — vence-se desmantelando o general, o contador e o terminal bancário.
4. A sociedade precisa amadurecer seu discurso
O debate sobre segurança no Rio não pode continuar refém entre duas caricaturas superficiais:
- o discurso do “fuzil neles”
- o discurso do “a culpa é só da desigualdade”
Ambos estão incompletos — e o povo sofre no meio.
O Rio precisa de uma doutrina moderna: firme no combate, humanizada na execução, científica na formulação e transparente na avaliação.
Conclusão: um projeto para o século XXI
A segurança pública fluminense só será transformada quando deixarmos de buscar heróis e passarmos a buscar profissionais.
É hora de:
- substituir improviso por competência;
- beligerância por inteligência;
- repressão isolada por integração institucional;
- e promessas emocionais por políticas públicas avaliáveis.
Um novo caminho não é apenas possível — é necessário, urgente e inevitável.
O Rio merece paz.
O Rio pode ter paz.

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