Se fôssemos aplicar qualquer teologia moral de causa e efeito à trágica realidade humana, que mal teria feito a primeira vítima do Universo para ser violentada?
Faço essa pergunta a todas as religiões, mesmo aos que defendem a ideia da reencarnação. E, refletindo a respeito, lembro aqui da conhecida história bíblica de Caim e Abel, a qual, independentemente de você acreditar ou não como um fato histórico, peço que ao menos considere-a em seu aspecto mítico. Ou seja, entenda o personagem Abel como o símbolo dessa primeira vítima universal.
Pois bem. A narrativa de Gênesis nos fala que, antes do Caim matar o seu irmão, Deus o advertiu preventivamente. O desejo maligno do homem precisava ser dominado por ele, coisa que este personagem recusou a fazer, como se lê neste trecho a seguir citado:
"O Senhor disse a Caim: 'Por que você está furioso? Por que se transtornou o seu rosto? Se você fizer o bem, não será aceito? Mas se não o fizer, saiba que o pecado o ameaça à porta; ele deseja conquistá-lo, mas você deve dominá-lo'." (Gênesis 4:6-7; NVI)
Por sua vez, o capítulo anterior do livro bíblico em questão mostrou os pais de Caim e Abel decidindo por si mesmos tornarem-se conhecedores do bem e do mal. E, quanto a isto, não quero afirmar que os filhos pagarão pelos pecados de seus genitores, no sentido de responderem moralmente por eles. Porém, quero chamar a atenção quanto à escolha da humanidade em trilhar por sua conta e risco o próprio caminho que considera melhor segundo seus interesses, estabelecendo por esta ótica o que seria certo e errado sem querer compreender o amplo sentido da vida dado pelo Grande Arquiteto do Universo.
A meu ver, se o princípio da ação e reação se aplica à realidade, ele passa a operar depois que resolvemos agir por nossa própria conta e risco como fez o Caim, na certa supondo que se tornaria mais agradável a Deus eliminando o irmão da face da Terra. Em outros palavras, a humanidade errante criou uma espécie de "karma coletivo" quando decidiu cada qual intervir do seu jeitinho na história ao invés de obedecer a voz de Deus.
Considero, amigos, que quanto mais tentamos reparar as coisas, também ficamos expostos a complicá-las ainda mais. Não que seja incorreto compensar a quem um dia prejudicamos (ou a quem terceiros violentaram). Muito pelo contrário! Só que não devemos alimentar a ilusão de que o mundo irá equilibrar-se de uma maneira perfeita visto que, de nossa atitude reparadora, danos também poderão surgir. Logo, o processo de regeneração do ambiente social planetário mostra-se como algo longo e para muitas gerações.
O fato é que viver aqui é se colocar em movimento permanente e, por sua vez, agir é causar resultados impactantes que poderão ser benéficos ou maléficos. Por mais que tentemos alcançar o bem, vamos falhar na condução dos nossos atos e os erros exigirão futuras reparações. Contudo, temos que ser corajosos e enfrentar os desafios que vão se apresentando em nossa frente.
Enfim, creio que o homem não salvará a si mesmo pelo esforço que empreende. Porém, ele pode em sua caminhada rumo à justiça descansar no incondicional amor divino. Daí conclui-se que a graça é capaz de superar a causa e efeito sendo perceptível a generosidade da vida em preservar a nossa existência essencial mesmo depois do pior erro cometido. E, se ganhamos uma nova chance é para aprendermos a ser felizes.
Entendo que ninguém vem ao mundo para sofrer. Se existe o sofrimento é por nossa causa ainda que acidentes ocorram também sem a ação do homem. E, se pensarmos bem, o mundo poderia ser quase um paraíso caso amássemos de verdade o nosso próximo como a nós mesmos. E, desta maneira, superaríamos juntos as dificuldades externas e ambientais, bem como as consequências dos atos das gerações passadas (e presentes), caminhando rumo a um futuro melhor.
Lembro insistentemente que não chegaremos à perfeição. Contudo, é pela aplicação do princípio maior da Lei Divina (o AMOR) que iremos contribuir para que se chegue a nós o Reino do Pai Celestial. Aliás, podemos fazer da Terra um pedaço do céu e gerarmos novos efeitos que, por sua vez, produzirão resultados positivos.
Que possamos receber graciosamente o perdão e o amor de Deus. E que, com essa graça de dimensões infinitas, perdoemos o nosso próximo construindo novas relações amorosas.
Uma ótima tarde a todos!
OBS: Ilustração acima extraída de http://www.jcnaveia.com.br/wp-content/uploads/2013/06/A%C3%A7%C3%A3o-e-rea%C3%A7%C3%A3o.jpg